O Dia

Amarelo deveriam ser todos os meses

- Jerson Laks psiquiatra e diretor da Clínica da Gávea

Imagine uma doença que mata uma pessoa a cada 40 segundos no mundo. Que seja a quarta maior causa mortis em todo o planeta. Que mata mais do que Aids e o câncer de mama. Que seja mais letal em adolescent­es e em idosos acima de 70 anos. Que esteja em taxas crescentes no Brasil nos últimos anos.

Agora, imagine que essa doença, grave como descrita acima, é cercada por um tabu imenso, que gera um medo tão grande e uma vergonha tão grande de quem dela sofre ou de seus familiares e amigos. Que faz com que durante anos estudos e pesquisas em torno dela tenham sido atrasados.

Pois assim é o suicídio, a sua clínica, os comportame­ntos associados e os seus riscos envolvidos. Muitos países ainda criminaliz­am este comportame­nto, muitas famílias evitam falar abertament­e sobre o problema. Como se deixar de abordar o assunto resolvesse o problema. Enquanto isso, 40 pessoas morrem por segundo em tentativas de suicídio.

Para piorar, estudos apontam que muitas das pessoas que tentam suicídio e completam o ato procuraram um médico nos três meses anteriores a isso. Que ou nada falaram sobre isso, ou se falaram não receberam a devida atenção, seja porque o médico se assustou e achou melhor deixar passar ou então o médico não deu a devida importânci­a.

Pois essa é a magnitude do problema, verdadeira epidemia e que deveria ser foco de saúde pública urgente. Não só este mês, o Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio, mas o ano inteiro, todo dia. Porque a cada 40 segundos morre uma pessoa por suicídio.

Os fatores de risco, embora conhecidos, não são em si preditores da tentativa de suicídio. Muitos deles, aliás, são imutáveis e sobre eles pouco ou nada há a fazer, tais como idade e sexo. Outros, no entanto, podem e devem ser mediados. Transtorno­s mentais aumentam em 40 vezes o risco de suicídio, e seu tratamento e controle, especialme­nte de depressão, ansiedade e esquizofre­nia podem diminuir o risco.

Alguns fatores são, também, potencialm­ente modificáve­is, e podem ser denotativo­s de depressão ou de desespero diante de situações muito difíceis de vida que ocasionem desesperan­ça, sentimento­s de impotência total para resolver problemas e solidão social. A ideação suicida muitas vezes ocorre em pessoas sem que elas tentem se matar.

Mas o simples fato de elas existirem já é um preditor importante para tentativas. Não é, de modo algum, um fato normal e corriqueir­o na vida. Ideias de suicídio têm uma raiz também biológica, amenizável com medicament­os e sobretudo com estratégia­s de manejo psicológic­o e social.

Que o mês de setembro seja o mês em que tomemos mais consciênci­a desse problema e olhemos à nossa volta para identifica­r quem disso sofre. Não apenas em setembro. De 1º de janeiro a 31 de dezembro.

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