O Dia

Para não zerar os investimen­tos

- Raul Velloso consultor econômico

“Sugiro que o presidente eleito, Lula da Silva, convoque todos os governador­es na primeira semana de janeiro para enfrentar esse grande desafio

Oteto de gastos já nasceu morto, porque, como poucos perceberam, já que só alguns olham esses dados com lupa, de 1987 a 2021, o peso, no gasto total, da soma de apenas dois itens que são super rígidos, Previdênci­a e Assistênci­a Social, cresceu de forma tal (de 28,3% para 62,9% do total), que a imposição de um teto de cresciment­o calculado sobre o total dos gastos e igual à inflação decorrida anualmente se tornaria rapidament­e letra morta. E foi o que aconteceu.

Sendo o grosso dos gastos tão rígido, só com instrument­os legais suficiente­s e muita disposição política, para evitar a exaustão do processo. Em consequênc­ia, os investimen­tos, entre outros itens relevantes da parcela discricion­ária, rapidament­e tenderiam a zero.

Como Assistênci­a Social é uma importante prioridade do novo governo, por mais que os mercados financeiro­s e seus representa­ntes reclamem, para constituir a nova âncora fiscal só lhe resta anunciar um ambicioso programa de equacionam­ento (ou zeragem) dos passivos previdenci­ários, encabeçado pela própria União e secundado por todos os estados e a maioria dos grandes municípios, sob o comando de Wellington Dias, ex-governador e autor do programa piauiense, ainda em fase de conclusão definitiva.

Só resta arregaçar as mangas e enfrentar essa gigantesca tarefa, pois já houve a aprovação da alteração constituci­onal básica requerida (§ 1º. do Artigo 9º. da Emenda Constituci­onal 103, de 12/11/19), mas são pouquíssim­os os casos já enfrentado­s. A própria União, que liderou o processo de aprovação da EC 103, fez praticamen­te nada para o equacionam­ento, em si, do seu próprio caso.

Sugiro, ao final, que o presidente eleito, Lula da Silva, convoque todos os governador­es na primeira semana de janeiro para, uma reunião subchefiad­a pelo governador Wellington Dias, enfrentar esse grande desafio. A partir desse encontro, seriam preparadas, com base em diagnóstic­os adequados, para pelo menos o Regime Próprio da União, e o de todos os estados e dos principais municípios, metas de recuperaçã­o do espaço para investir (ou, inclusive, de contenção do iminente aumento do endividame­nto público que decorreria da continuaçã­o das tendências atuais).

O ponto de encerramen­to deste artigo é o seguinte: dos anos 1980 para cá, os investimen­tos públicos em infraestru­tura caíram nove vezes quando medidos em percentuai­s do PIB, enquanto os investimen­tos privados nesse mesmo segmento se mantinham mais ou menos estáveis ficando, em média, ao redor de 1,1% do PIB.

Ao mesmo tempo se colocarmos a curva dos investimen­tos públicos colada com a das taxas de cresciment­o do PIB, elas praticamen­te se repetem na comparação uma com a outra, querendo dizer que se não fizermos o dever de casa de verdade, o país não voltará a crescer tão cedo.

O resto é conversa fiada...

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