Gênio rebelde: Projeto Negro Muro homenageia Luiz Melodia no Estácio
‘Ele é uma figura pouco lembrada pela importância que tem’, diz Pedro Rajão, produtor e pesquisador
OProjeto Negro Muro inaugurou, na sexta-feira, um mural em homenagem ao cantor e compositor Luiz Melodia, que morreu aos 66 anos, em 2017. A obra fica próximo ao Morro de São Carlos, no Estácio, Zona Central do Rio, onde o músico morou.
“Eu passo por esse muro há muitos anos, quase diariamente, e sempre olho para ele pensando: ‘aqui caberia um Ismael Silva, um Melodia’. Teve um belo dia que eu tomei coragem, bati na porta do proprietário e ele aceitou. O Ismael já tem uma estátua, muitas homenagens, que nunca vão ser suficientes, mas acho que o Melodia é uma figura pouco lembrada pela importância que tem. Pouco reverenciado pelo tamanho que ele tem para a música brasileira. Além disso, ele é um cara que canta o Estácio nas suas músicas”, disse o produtor e pesquisador do projeto, Pedro Rajão, ao DIA.
Além da beleza, a pintura produzida pelo artista urbano Cazé impressiona pelas diversas referências sobre a vida e obra de Luiz Melodia. Os feijões simbolizam a capa de ‘Pérola Negra’, primeiro álbum do cantor, de 1973. Já o ‘Mico de Circo’ é representado pelo artista em cima de um cavalo, forma que ele lançou o disco em 1978, em
Salvador.
“Ele era um cara muito contra as gravadoras, contra essa forma quadrada tanto de produzir a música quanto lançamentos, que são eventos caretas. Então, ele fez o lançamento em uma rua de Salvador, montado em um
cavalo, e fez um almoço, um caruru. Ele fez um cortejo de cavalos na rua e um almoço para as pessoas na rua. Isso para lançar um disco nos anos 1970. Essa história demonstra a genialidade, a rebeldia e a generosidade dele”, contou Rajão.
Os pais do cantor também estão presentes. O violão de quatro cordas do sambista Oswaldo Melodia e a placa da rua que leva seu nome no Morro de São Carlos são alguns dos elemento do mural, assim como a figura de Eurídice, importante costureira da comunidade e mãe do homenageado.
“A ideia do projeto foi baseada na vida dele no Estácio. A gente eterniza [o artista] de uma maneira bonita e singela em uma das esquinas bem intensas do Estácio, tentando, de alguma forma, ressignificar aquele Estácio esquecido, que é berço do samba, da poesia, da negritude. Temos o Luiz Melodia olhando para o Estácio, os feijões que representam muito bem o sentido de Pérola Negra, ainda mais no momento de grande fome que vivemos no Brasil, infelizmente”, disse Cazé ao DIA.
PROJETO NEGRO MURO
Com cinco anos de projeto, a proposta do Negro Muro é transformar as ruas da cidade em uma grande galeria de arte a céu aberto trazendo representatividade e resistência aos negros e negras que fazem parte da nossa história, cultura e memória.
Entre as figuras já homenageadas, estão Paulinho da Viola, em Botafogo; Luiz Gonzaga, no Cachambi; Martinho da Vila, em Vila Isabel; João Candido, em São João de Meriti; e Waldemar Santana, na Lapa.
A obra traz referências à família do cantor e compositror e às suas peripécias