O Dia

Símbolo de resistênci­a, Teatro Rival completa 90 anos

Comandado pelas atrizes Ângela e Leandra Leal, espaço celebra aniversári­o homenagean­do Zeca Pagodinho e Beth Carvalho

- Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Raphael Perucci

“É um feito heroico um teatro completar 90 anos no Brasil”. Assim a atriz Leandra Leal define as nove décadas que o Teatro Rival, na Cinelândia, completou na sexta-feira. Administra­da por Ângela Leal, mãe de Leandra, a casa resistiu ao Estado Novo e ao golpe de 1964, passando por crises econômicas, além da pandemia, mas nunca fechou as portas. Fundado em 1934 e batizado pelo dramaturgo Oduvaldo Vianna, o mais antigo teatro particular do Rio vai celebrar seu aniversári­o, amanhã, homenagean­do Zeca Pagodinho e Beth Carvalho, ícones do samba que ajudaram a escrever a história da casa. A festa seria na sexta-feira, mas precisou ter a data alterada por conta da previsão de chuvas fortes na cidade.

A partir de 1970, passou para o comando de Américo Leal, avô de Leandra, tendo abrigado espetáculo­s de teatro de revista, peças de crítica política, além de musicais, shows e humorístic­os. O panteão dos grandes nomes que brilharam no palco inclui Grande Otelo, Oscarito, Alda Garrido, Dercy Gonçalves, Rogéria, Jane di Castro, Cauby Peixoto, Alcione, Nana Caymmi e muitos outros, consolidan­do a casa como local democrátic­o e referência da vanguarda carioca.

Em 1990, Ângela Leal tornou o teatro um verdadeiro templo da música popular brasileira. O cantor e compositor Paulinho Moska, por exemplo, gravou seu primeiro disco no local. Ao DIA, ele conta um pouco sobre sua relação com o teatro. “Gravei em uma temporada de quatro shows, em 1997. No início da minha carreira, foi um espaço muito importante, porque o horário das apresentaç­ões atraía as pessoas que saíam do trabalho no Centro”, diz Moska.

No último dia 2 de março, o cantor e compositor João Bosco abriu as comemoraçõ­es, que vão durar até o fim deste mês. Ao DIA, Ângela, que divide a gestão com a filha, fala sobre o desafio: “Quando

Em 1990, Ângela Leal tornou o teatro um verdadeiro templo da música popular brasileira

percebi que teria de assumir o Rival, tomei isso como uma missão. Senti que tinha como dever proteger aquele espaço. Nesses 36 anos que estou lá, tento dar pertencime­nto, através da cultura, ao povo. A filosofia do Rival é lançar, resgatar e resistir, difundindo a cultura. O Rival é mágico e tem um espírito democrátic­o”.

Nomes como Rogéria, Jane di Castro e Divina Valéria, que se apresentav­am no teatro, inspiraram o documentár­io ‘Divinas Divas’, o primeiro filme dirigido por Leandra Leal, em 2016. “Eu vou no Rival desde que eu tenho 20 dias. Além de ser um teatro físico, ele também é um espaço da minha família. Nele, pude aprender muitas coisas com os artis

tas que vi, como Luiz Melodia, Elza Soares, Dercy Gonçalves e Cássia Eller”, conta Leandra.

PERSONAGEN­S MARCANTES

Chefe de serviços externos do espaço, Luís Cláudio de Jesus, de 53 anos, começou a trabalhar como auxiliar de serviços gerais em 2002. “Já passei pelo canhão da luz, bilheteria e produção. Nestes 21 anos, o que mais me marcou foi o dia 2 de outubro de 2002, quando pisei pela primeira vez aqui. Era um show da Leila Pinheiro e, até hoje, quando ela vem, eu me lembro desse dia”, relembra.

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DIVULGAÇÃO / TEATRO RIVAL CLÉBER MENDES Chefe de serviços externos do espaço, Luís Cláudio de Jesus, 53 anos, começou a trabalhar como auxiliar de serviços gerais em 2002
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Ângela Leal posa com Leandra Leal e o quadro de Américo Leal

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