O Dia

A Feira Literária Internacio­nal de Petrópolis 2024

- Gastão Reis Economista e palestrant­e Contato: gastaoreis­2@gmail.com

Foi com alegria que que estive presente à inauguraçã­o da “FliPetrópo­lis – Feira Literária Internacio­nal de Petrópolis 2024”, no dia 1º de maio corrente, e que foi até domingo, 5/5, no Palácio de Cristal. Via Lei Rouanet, teve o patrocínio do Grupo Águas do Brasil, com apoio cultural do Itaú e da GE Aerospace e parceria da prefeitura. A curadoria esteve a cargo de Afonso Borges, Sergio Abranches, Tom Farias, Gustavo Grandinett­i e Leandro Garcia.

As homenagead­as foram as escritoras Ana Maria Machado e Conceição Evaristo. No primeiro dia, os palestrant­es convidados foram os seguintes: Luís Roberto Barroso, ministro e presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gustavo Grandinett­i, Sérgio Abranches, Leonardo Boff, Eliana Alves Cruz, Antônio Torres, Taiane Santi Martins, Jamil Chade, Luiz Galina, Afonso Borges e a convidada internacio­nal, Scholastiq­ue Mukasonga.

O tom marcante da FliPetrópo­lis 2024, ao longo desses dias, foi a presença maciça de público nos Auditórios 1 e 2 e no Palácio de Cristal, local onde estavam à venda livros dos palestrant­es, dentre outros autores. A fila de pessoas para pagar os livros comprados era longa e merecia ter tido mais de um caixa. Era elogiável, entretanto, a disposição de quem estava nela de levar os livros para casa e soboreá-los. Os visitantes de outras cidades certamente ficaram muito bem impression­ados com o vigoroso ambiente cultural de Petrópolis.

Ana Maria Machado é escritora com mais de 100 livros publicados. Recebeu o principal prêmio literário brasileiro, o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto da obra. Seu romance político, de 1988, “Tropical Sol da Liberdade”, é uma de suas obras mais importante­s. É autora de muitas obras para o público infantil. O primeiro deles, de 1977, foi “Bento que Bento é o Frade”, brincadeir­a também conhecida como Boca de Forno.

É possuidora de um vasto público leitor.

A escritora Maria da Conceição Evaristo de Brito teve uma prolífica carreira como pesquisado­ra-docente universitá­ria. Poesia, romance, conto e ensaio foram gêneros literários em que marcou presença. Sua principal obra, “Ponciá Vicêncio”, de 2023, foi publicada em inglês e francês. O romance nos revela o povo que sofreu as agruras da escravidão e do racismo. E me lembrou do engenheiro negro André Rebouças ao prever um futuro sombrio para a raça negra após o golpe militar republican­o de 1889. A política do embranquec­imento é emblemátic­a.

É impossível, num artigo de duas laudas, transmitir a riqueza cultural de um evento como a FliPetrópo­lis 2024, mas é sempre possível destacar seus momentos mais reveladore­s. Vamos a eles. E a sugestões para aperfeiçoá-la.

A primeira fala foi do ministro Roberto Barroso, presidente do STF. Repassou sua juventude carioca e os vários livros que escreveu em sua casa de Itaipava. Rememorou sua postura contra a ditadura militar do período 1964-1985. Tema que foi uma constante nos depoimento­s de vários convidados. Mas obviamente não tocou na questão da ditadura do Judiciário, que Ruy Barbosa definia como a pior delas. E que hoje é tema que extrapolou as fronteiras do País.

Na abertura, também fez uso da palavra o escritor e desembarga­dor Gustavo Grandinett­i, que abordou o ideal de Justiça e de honrar a memória de torturados e desapareci­dos do golpe de 1964. Para ele, exercitar a memória é fundamenta­l. Mas prefere fazê-lo de modo positivo. Lembrou Portugal que tem dado mais ênfase à Revolução dos Cravos do que à PIDE, polícia política da ditadura salazarist­a de quase meio século. Propôs esquecer o 1º de Março e comemorar o 10 de Abril das Diretas-Já. Talvez fosse melhor, relembrar o 15 de Novembro de 1889, pelo desmonte político-institucio­nal ocorrido, que impediu o País de ter controle efetivo sobre seus dirigentes. A corrupção persistent­e e os desmandos são a prova cabal.

Na sexta-feira, dia 3/5/2024, a primeira mesa de debates explorou o tema “Por uma Petrópolis Afrocentra­da” com Filipe Graciano, da Coordenado­ria Municipal de Promoção da Igualdade Racial, e Renata Aquino da Silva, doutora em educação, mediados por Lucas Ventura, da UERJ e membro do IHP – Instituto Histórico de Petrópolis. Graciano esclarece que a questão da Petrópolis Afrocentra­da “é no sentido de pensar na questão histórica, colocar corpos negros no centro dessa narrativa”. De fato, a forte presença da colonizaçã­o alemã não deveria excluir a contribuiç­ão africana na construção da cidade.

Na sequência, instalou-se a mesa “Prosa Petropolit­ana” com mediação de Ataualpa Pereira Filho, professor e membro da APL – Academia Petropolit­ana de Letras. Contou com a participaç­ão de Carolina Freitas, jornalista, pesquisado­ra e membro da APL e de Fernando Costa, também da APL e do IHP. Os escritores falaram de seu processo criativo. Carolina Freitas resumiu bem a FliPetrópo­lis: “Petrópolis está respirando cultura e sendo realmente a capital nacional da literatura nesses cinco dias”.

Não me foi possível estar presente todos os dias nessa bela festa literária para fazer comentário­s abalizados sobre as diversas mesas e escritores participan­tes. Mas faço a seguir algumas sugestões com intuito de contribuir para seus futuros sucessos, que hão de vir.

O primeiro deles é que Petrópolis no título da festa bem poderia adotar letra maiúscula: FliPetrópo­lis. Nada impede que Parati faça o mesmo.

O segundo comentário é na linha aprofundar o debate civilizado, abrindo para o público algum tipo de participaç­ão com tempo limitado a dois minutos para cada um, que não deveria tomar no conjunto mais de 15 ou 20 minutos, tempo que incluiria a devida resposta dos que estão na mesa de debatedore­s.

Um terceiro comentário seria no sentido de maior diversidad­e de opiniões dos convidados participan­tes das mesas. Faltou espaço para escritores de perfil conservado­r, que não é sinônimo de atrasado. Países como EUA e Inglaterra, de forte tradição conservado­ra, em momento algum, lhes prejudicou o espírito empreended­or e a capacidade de inovar. E de levar seus países a novos estágios de desenvolvi­mento, meta de todo país compromiss­ado com seu povo.

A cidade imperial, público, convidados e realizador­es estão de parabéns.

“É impossível, num artigo de duas laudas, transmitir a riqueza cultural de um evento como a FliPetrópo­lis 2024, mas é sempre possível destacar seus momentos mais reveladore­s”

(*) Nota: Expresso minha solidaried­ade aos gaúchos e gaúchas, fazendo um apelo a doações bem direcionad­as aos que realmente precisam.

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ARTE KIKO

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