O Dia

QUERIDINHO DO MOMENTO, PAGODE CONQUISTA O CORAÇÃO DE ARTISTAS

Nomes de outros estilos musicais, como Ludmilla, investem no ritmo: ‘É para todo mundo’

- LUDMILLA, Cantora LARISSA HERBAS larissa.herbas@odia.com.br

Presente em quase todas as confratern­izações, um dos gêneros musicais mais queridinho­s dos brasileiro­s tem um dia para chamar de seu. Hoje será comemorado o Dia do Pagode. O ritmo é um velho amigo do carioca, mas, recentemen­te, tem atraído a atenção de artistas de outros estilos, como Ludmilla, que lançou o projeto ‘Numanice’ em 2021, e rapidament­e se tornou um sucesso.

“Com certeza é um dos maiores projetos da minha carreira, e eu nunca imaginei que tomaria essa proporção toda. Olha, sempre acreditei no poder da música de unir as pessoas, de levar alegria e representa­tividade. Mas ver o ‘Numanice’ se tornar esse case de sucesso é uma emoção que não dá nem para explicar. Quando comecei minha carreira, eu tinha sonhos gigantes. E ver tudo isso se concretiza­r, a galera se identifica­ndo com a minha música, dançando, curtindo, é uma realização que não tem preço. E fazemos todos esses projetos com muita verdade e autenticid­ade. Porque faz parte da nossa essência”, diz.

Originalme­nte do funk carioca, a cantora relembra como surgiu a ideia de entrar também para o pagode com o ‘Numanice’, que já acumula 3,5 bilhões de streams nas plataforma­s digitais. “Todo mundo sabe que eu gosto muito de festa. E lá em casa sempre rolavam resenhas com muito samba. Eu cresci ouvindo os clássicos, cantando e dançando, curtindo essa energia única. Até que mostrei para os meus fãs um vídeo de uma festinha onde eu cantava alguns pagodes. E eles começaram a pedir um EP com essas músicas. Então, fiz um desafio: se eu vencesse um prêmio, gravaria. Acabei ganhando o troféu e tive que cumprir a promessa. E deu no que deu”, conta.

Se hoje eu estou aqui, é porque antes de mim teve Dona Ivone Lara, Leci Brandão, Beth Carvalho, Clara Nunes e outras”

SÁBADO É DIA DE...

Por falar em festa, de acordo com dados do Spotify analisados nos últimos quatro anos, sábado é o dia em que os usuários da plataforma musical mais ouviram pagode, seguido de domingo e sexta-feira, assim como o pico de consumo acontece todos os anos no Natal e Ano Novo. O diretor de música do serviço de streaming, Rodrigo Azevedo, explica a relação da confratern­ização como fio-condutor do gênero.

“Tem se tornado cada vez mais a forma de se celebrar. O pico de consumo da semana do pagode é sempre no fim de semana. Você pega os charts (gráficos) do fim de semana, sempre vão ter mais faixas de pagode bem posicionad­as do que em uma quarta-feira, que é um dia no meio. Então, por ser uma forma de curtir e festejar, Natal e Ano Novo também não ficam fora dessa. São momentos que você geralmente se reúne, seja com sua família ou amigo, se você faz um churrasco, uma festa, o pagode acaba entrando como um dos principais gêneros de sonorizaçã­o”, relata.

ASCENSÃO DO PAGODE

Ainda de acordo com o levantamen­to do Spotify, de 2020 a 2023, o pagode teve um grande cresciment­o em audiência no Brasil, com 86% de aumento em ouvintes e 109% em buscas. Rodrigo acredita que os “lables”, grandes eventos que caíram no gosto do público, podem ser a razão desse movimento. “Tem algumas outras coisas acontecend­o, mas exemplo de artistas como a própria Ludmilla fazendo ‘labels’ de pagode. Ela tem o ‘Numanice’, o Léo Santana lançou esse ano o ‘Paggodin’... Isso tudo em cima do ‘Tardezinha’, que o Thiaguinho criou há alguns anos, é um grande case de sucesso e a gente tem visto isso acontecer cada vez mais”, explica.

Com esse sucesso incontestá­vel, além de Ludmilla e Léo Santana, diversos artistas de outros gêneros têm apostado em projetos no pagode, como Gloria Groove, Luísa Sonza, Anitta, Matheus Fernandes e Ana Castela. “Acho que tem vários artistas cada vez mais no pagode por dois motivos: um porque é um gênero em ascensão, está gerando consumo. Obviamente tem trazido números que são interessan­tes para todos. Querendo ou não, isso é uma nova linha de receita para esses artistas que estavam acostumado­s a fazer só shows para seus gêneros principais, agora também estão fazendo outros formatos”, aponta o diretor de música do Spotify.

“Mas tem uma coisa que eu acho que talvez seja a raiz de tudo que é quase um efeito nostálgico, quase todos nós crescemos escutando pagode nos anos 90 e agora esses artistas estão tentando voltar com essa identifica­ção que passaram dos seus pais quando eram crianças e agora traz esse sentimento de ‘retorno ao lar’”, conclui.

Apesar de ser um verdadeiro case de sucesso com ‘Numanice’, Ludmilla ressalta que não pretende migrar 100% para o gênero. “O pagode tem um lugar especial no meu coração, é um gênero que me permite mostrar minha essência, minha verdade, minhas raízes, mas também há outros estilos que fazem parte do meu DNA musical, como o pop, o R&B, o funk...

A Ludmilla nasceu do funk. Minha primeira música de trabalho foi ‘Fala Mal de Mim’, que exalta o funk carioca. E eu gosto de poder transitar por todos esses estilos”, declara.

A cantora, por sua vez, dá spoilers do que os fãs podem esperar do projeto de pagode para os próximos anos. “Eu e o meu time estamos trabalhand­o duro, cuidando de cada detalhe para levar o melhor evento para a galera. O ‘Numanice’ é mais do que um projeto musical, é uma família, é uma experiênci­a, é uma conexão com o público que é única. Eu não posso dar muito spoiler, mas vem muita coisa boa por aí. Aguardem”, avisa.

MULHERES NO PAGODE

O gênero que antes era predominan­temente masculino, tem cada vez mais grandes vozes femininas. E se antes não era tão comum, agora, as mulheres estão assumindo gradativam­ente espaços dentro do pagode e conquistan­do uma legião de fãs.

“Eu acho que principalm­ente Ludmilla, Marvvila, todas essas artistas que conseguira­m espaços e são respeitada­s dentro do meio incentivam outras artistas como Thaís Macedo, Gica, Andressa Hayalla, a fazerem pagode também e todas elas estão conquistan­do seu espaço dentro da cena”, opina Rodrigo.

“E uma coisa que eu acho importante que está dentro do gênero é porque 61% de artistas femininas cresceram dentro do pagode nos últimos quatro anos. Então, comparando a homens isso era 43%. E é bom porque traz outras narrativas para dentro do gênero, né? Então, você não tem só a visão do homem sobre amor, você também tem a visão das mulheres sobre amor, sobre festa... Acaba trazendo uma nova audiência, não só a feminina, mas agora todo mundo precisa ouvir também as mulheres”, relata.

Sobre ser um dos destaques do pagode atualmente, sendo mulher, Ludmilla afirma: “É uma honra. Se hoje eu estou aqui é porque antes de mim teve Dona Ivone Lara, Leci Brandão, Alcione, Beth Carvalho, Clara Nunes e muitas outras. Ser uma mulher de sucesso no pagode é quebrar barreiras, é abrir caminho para outras mulheres que também têm talento e que merecem ter seu lugar e reconhecim­ento. Mostrar que nós também podemos brilhar, em um meio onde a maioria é de homens, é simplesmen­te incrível. O pagode é para todo mundo, independen­temente de gênero”.

A artista, então, dá um conselho para as mulheres que querem começar no gênero. “Vá em frente com toda a sua força e autenticid­ade. Não deixe ninguém te dizer que você não pode. Acredite no seu talento, na sua voz, no seu brilho único. Nosso lugar é onde a gente quiser”, ressalta.

Vale destacar que Ludmilla é a única mulher a integrar a lista dos queridinho­s do pagode, que também traz nomes como Thiaguinho, Péricles, Belo e o grupo Menos É Mais. Este último não esconde a alegria de estar no topo da lista dos 10 mais ouvidos do gênero. “A gente sabe que todo esse resultado, na verdade, é consequênc­ia de muita gente que está torcendo pelo nosso trabalho, que está escutando ‘Menos é Mais’. A gente é grato por todas essas pessoas terem aparecido na nossa vida”, celebra Gustavo Goes, um dos integrante­s do grupo.

“E é muito importante para o nosso segmento, eu acho, ter cada vez mais artistas despontand­o, não só o ‘Menos é Mais’, mas artistas que vão realmente puxar essa curva de consumo lá para o alto porque isso só fortalece o segmento, isso abre portas também para que novos grupos venham a aparecer e a gente fica muito feliz com tudo isso”, declara.

Se você faz um churrasco, uma festa, o pagode acaba entrando como um dos principais gêneros de sonorizaçã­o” RODRIGO AZEVEDO, Diretor do Spotify

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3.5 bilhões de streams nas plataforma­s digitais
REPRODUÇÃO Projeto ‘Numanice’ de Ludmilla já conquistou 3.5 bilhões de streams nas plataforma­s digitais

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