O Estado de S. Paulo

Relator dá parecer favorável a ação contra Cunha no Conselho de Ética

- Daniel Carvalho Daiene Cardoso /

O deputado federal Fausto Pinato (PRB-SP) surpreende­u os colegas ontem e antecipou sua decisão em relação ao futuro do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ameaçado de perder o mandato. Relator do processo contra o peemedebis­ta no Conselho de Ética, ele afirmou que irá apresentar parecer favorável ao prosseguim­ento da ação no colegiado por quebra de decoro parlamenta­r.

A divulgação do relatório estava prevista para a próxima quinta-feira, mas Pinato decidiu se antecipar. A medida, segundo aliados do presidente da Câmara, contrariou Cunha, que só vai entregar sua defesa hoje. Nos bastidores do Congresso, a manobra do relator foi interpreta­da como uma tentativa de evitar que Cunha atue para atrasar o andamento do processo.

Os defensores do presidente da Câmara, porém, avaliam que a antecipaçã­o feriu os princípios da defesa de Cunha e que o peemedebis­ta está sendo prejulgado pelo relator.

Pinato disse ter encontrado indícios de que, “em tese”, Cunha recebeu vantagens indevidas e prestou informaçõe­s falsas aos colegas. Cunha é acusado no Conselho de Ética de ter mentido à CPI da Petrobrás, quando negou ter contas no exterior. O relator afirmou ter passado o fim de semana debruçado sobre a denúncia contra o presidente da Casa e considerou que há elementos suficiente­s para dar seguimento ao processo.

Na avaliação de Pinato, a denúncia é “apta”, tem justa causa e preenche os pré-requisitos do Código de Ética. O relator não se ateve apenas à suposta quebra de decoro por parte de Cunha. Ele também relacionou outras acusações contra o presidente da Câmara que tramitam no Supremo Tribunal Federal e surgiram com as investigaç­ões da Operação Lava Jato.

Segundo ele, o depoimento do lobista Júlio Camargo à força-tarefa da Lava Jato, a denúncia apresentad­a pela Procurador­ia-Geral da República e a trans-

crição do depoimento de Cunha à CPI em março trazem indícios suficiente­s para que a ação disciplina­r seja levada adiante. “O Brasil quer, o Brasil precisa, todos queremos uma resposta”, disse Pinato ontem.

Delator da Lava Jato, Camargo acusou Cunha de ter cobrado US$ 5 milhões em propina do esquema de corrupção na Petrobrás. A Procurador­ia denunciou Cunha ao Supremo por corrupção e lavagem de dinheiro.

Para Pinato, a antecipaçã­o de

sua decisão “em nada afeta o devido processo legal”. Ele destacou que Cunha pode apresentar sua defesa a qualquer momento do trâmite. Superada essa fase, o relator disse que pode requisitar documentos e conversar com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A denúncia de Camargo contra Cunha foi feita em julho, mas apenas neste mês ele apresentou sua defesa para as acusações de que mantém contas com recursos de origem suspeita na Suíça.

Cunha negou irregulari­dades e disse ser “usufrutári­o” das contas. Segundo ele, os recursos no exterior foram fruto de sua atuação no comércio de exportação de carnes para a África nos anos

1980. Desde então, no entanto, ele vem perdendo apoios no Congresso. O mais importante deles foi o da oposição, semana passada. Agora, Cunha tenta costurar acordo com governista­s para tentar manter o cargo.

Escolha. Pinato foi escolhido pelo presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSDBA), após seu fiador político, o líder do PRB e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, ter dito que o correligio-

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Ameaça. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), evitou comentar ontem a antecipaçã­o de parecer do relator
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