O Estado de S. Paulo

Argôlo é condenado a 12 anos de prisão

Ex-deputado baiano é acusado de ter recebido R$ 1,47 milhão em propinas

- Ricardo Brandt Fausto Macedo Julia Affonso

O juiz federal Sérgio Moro, responsáve­l pelas ações na primeira instância da Operação Lava Jato, condenou ontem o ex-deputado Luiz Argôlo (ex-PP, atualmente afastado do SD-BA) a 11 anos e 11 meses de prisão pelos crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro. Argôlo, preso desde abril de 2015, é acusado de ter recebido R$ 1, 47 milhão em propinas do doleiro Alberto Youssef.

Segundo o Ministério Público Federal, o dinheiro foi pago parceladam­ente, entre 2011 e 2014, “por entregas em espécie ou depósitos bancários”. Moro assinalou na sentença que a denúncia mostra que “Alberto Youssef utilizou dinheiro sujo, decorrente do esquema criminoso da Petrobrás, para pagar propina a Luiz Argôlo, caracteriz­ando os atos tanto crimes de corrupção como de lavagem”.

O juiz da Lava Jato condenou o ex-deputado pela prática de corrupção passiva em dez vezes “pelo recebiment­o de parte da vantagem indevida destinada pelas empreiteir­as fornecedor­as da Petrobrás à Diretoria de Abastecime­nto da estatal, em razão do cargo de deputado federal”. A sentença imputa ao ex-deputado seis operações de lavagem de dinheiro “consistent­e nos repasses e recebiment­os, com ocultação e dissimulaç­ão, de recursos criminosos mediante utilização de contas de pessoas interposta­s e depósitos bancários estruturad­os”.

Moro considera imprescind­ível que Argôlo permaneça na prisão. “Em um esquema criminoso de maxipropin­a e maxilavage­m de dinheiro, é imprescind­ível a prisão cautelar para proteção da ordem pública, seja pela gravidade concreta dos crimes, seja para preve- nir reiteração delitiva, incluindo a prática de novos atos de lavagem do produto do crime ainda não recuperado.”

O juiz federal expôs ainda seu temor de que o ex-deputado possa exercer mandato parlamenta­r. “A necessidad­e da prisão cautelar decorre ainda do fato de Luiz Argôlo ter sido eleito como suplente de deputado federal. Em liberdade, pode, a depender das circunstân­cias, assumir o mandato parlamenta­r, o que seria intoleráve­l. Não é possível que pessoa condenada por cri- mes possa exercer mandato parlamenta­r e a sociedade não deveria correr jamais o risco de ter criminosos como parlamenta­res.”

‘Bebê Johnson’. Em setembro, o funcionári­o de Youssef e delator da Lava Jato, Rafael Ângulo Lopes, admitiu que entregava mensalment­e pelo menos R$ 150 mil em espécie no apartament­o funcional do ex-deputado, em Brasília.

O funcionári­o do doleiro detalhou como eram feitos os repasses de dinheiro ao ex-parla-

mentar, chamado pelo grupo criminoso de “bebê Johnson” . Em uma das visitas ao escritório do doleiro em São Paulo, relatou Ângulo, foram entregues R$ 600 mil a Argôlo.

Ângulo revelou ainda que chegou a viajar para Salvador para fazer as entregas ao exparlamen­tar baiano. Os repasses ocorriam de forma variada. “Teve época que ia duas ou três vezes por semana ou até quatro vezes por mês, e às vezes eu ficava até um mês e meio sem ir”, disse o delator.

 ?? FÉLIX R. /FUTURA PRESS–24/6/2015 ?? Lava Jato. Luiz Argôlo é levado da PF em Curitiba para depor à Justiça Federal, em junho
FÉLIX R. /FUTURA PRESS–24/6/2015 Lava Jato. Luiz Argôlo é levado da PF em Curitiba para depor à Justiça Federal, em junho

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil