Argôlo é condenado a 12 anos de prisão
Ex-deputado baiano é acusado de ter recebido R$ 1,47 milhão em propinas
O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas ações na primeira instância da Operação Lava Jato, condenou ontem o ex-deputado Luiz Argôlo (ex-PP, atualmente afastado do SD-BA) a 11 anos e 11 meses de prisão pelos crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro. Argôlo, preso desde abril de 2015, é acusado de ter recebido R$ 1, 47 milhão em propinas do doleiro Alberto Youssef.
Segundo o Ministério Público Federal, o dinheiro foi pago parceladamente, entre 2011 e 2014, “por entregas em espécie ou depósitos bancários”. Moro assinalou na sentença que a denúncia mostra que “Alberto Youssef utilizou dinheiro sujo, decorrente do esquema criminoso da Petrobrás, para pagar propina a Luiz Argôlo, caracterizando os atos tanto crimes de corrupção como de lavagem”.
O juiz da Lava Jato condenou o ex-deputado pela prática de corrupção passiva em dez vezes “pelo recebimento de parte da vantagem indevida destinada pelas empreiteiras fornecedoras da Petrobrás à Diretoria de Abastecimento da estatal, em razão do cargo de deputado federal”. A sentença imputa ao ex-deputado seis operações de lavagem de dinheiro “consistente nos repasses e recebimentos, com ocultação e dissimulação, de recursos criminosos mediante utilização de contas de pessoas interpostas e depósitos bancários estruturados”.
Moro considera imprescindível que Argôlo permaneça na prisão. “Em um esquema criminoso de maxipropina e maxilavagem de dinheiro, é imprescindível a prisão cautelar para proteção da ordem pública, seja pela gravidade concreta dos crimes, seja para preve- nir reiteração delitiva, incluindo a prática de novos atos de lavagem do produto do crime ainda não recuperado.”
O juiz federal expôs ainda seu temor de que o ex-deputado possa exercer mandato parlamentar. “A necessidade da prisão cautelar decorre ainda do fato de Luiz Argôlo ter sido eleito como suplente de deputado federal. Em liberdade, pode, a depender das circunstâncias, assumir o mandato parlamentar, o que seria intolerável. Não é possível que pessoa condenada por cri- mes possa exercer mandato parlamentar e a sociedade não deveria correr jamais o risco de ter criminosos como parlamentares.”
‘Bebê Johnson’. Em setembro, o funcionário de Youssef e delator da Lava Jato, Rafael Ângulo Lopes, admitiu que entregava mensalmente pelo menos R$ 150 mil em espécie no apartamento funcional do ex-deputado, em Brasília.
O funcionário do doleiro detalhou como eram feitos os repasses de dinheiro ao ex-parla-
mentar, chamado pelo grupo criminoso de “bebê Johnson” . Em uma das visitas ao escritório do doleiro em São Paulo, relatou Ângulo, foram entregues R$ 600 mil a Argôlo.
Ângulo revelou ainda que chegou a viajar para Salvador para fazer as entregas ao exparlamentar baiano. Os repasses ocorriam de forma variada. “Teve época que ia duas ou três vezes por semana ou até quatro vezes por mês, e às vezes eu ficava até um mês e meio sem ir”, disse o delator.