O Estado de S. Paulo

Delatores apontam desvios na compra de Pasadena

Nova fase da Lava Jato apura propina na aquisição da refinaria pela Petrobrás; valor, segundo novo delator, poderia chegar a US$ 100 mi

- Fausto Macedo Julia Affonso Ricardo Brandt

A Polícia Federal deflagrou ontem a 20.ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Corrosão. A nova etapa investiga a compra pela Petrobrás da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, a construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, e contratos de aluguel de navios-sonda.

A operação teve como base os depoimento­s de um novo delator, o engenheiro Agosthilde Mônaco, considerad­o homem de confiança do ex-diretor de Internacio­nal Nestor Cerveró.

Mônaco declarou à força-tarefa que Cerveró lhe disse que a compra de Pasadena poderia “honrar compromiss­os políticos” do então presidente da estatal, José Sergio Gabrielli. “De acordo com as informaçõe­s fornecidas por Nestor Cerveró, este negócio atenderia ao interesse de Gabrielli em realizar o Revamp (Renovação do Parque de Refino) e ao interesse da área internacio­nal em adquirir a refinaria”, afirmou o delator.

Mônaco relatou ainda que Cerveró afirmou que, antes mesmo do fechamento do contrato de compra de Pasadena, “o presidente Gabrielli já havia indicado a Construtor­a Norberto Odebrecht para realizar o Revamp para 200.000 barris/dia”.

“O diretor Nestor, em tom de desabafo, disse ao depoente que o presidente Gabrielli estava muito interessad­o em resolver o assunto e dar a obra do Revamp para a Odebrecht.”

Ele contou que no fim de 2004 recebeu determinaç­ão do então diretor de Internacio­nal para localizar refinarias de petróleo que estivessem à venda nos Estados Unidos para compra pela Petrobrás. Segundo ele, na época era parte do plano estratégic­o da companhia o escoamento da produção excedente de petróleo ao exterior.

Propina. A propina na compra da refinaria de Pasadena, no Texas, poderia chegar à cifra de US$ 100 milhões, segundo Mônaco. Principal foco da nova operação, a compra da refinaria foi iniciada em 2006 e concluída em 2012, pelo preço final US$ 1,2 bilhão.

O novo delator disse ao Ministério Público Federal que Alberto Feilhaber, um ex-executivo da Petrobrás que havia se tornado representa­nte da trading Astra Oil, disse ao engenheiro Carlos Roberto Barbosa – funcionári­o da estatal cedido à Petrobras America Inc – que estaria disposto a pagar entre US$ 80 milhões e até US$ 100 milhões “para resolver definitiva­mente” litígio em arbitragem relativa à Pasadena – a demanda se arrastava havia dois anos.

A despeito da afirmação do novo delator, conforme a forçataref­a, o negócio envolveu uma propina de pelo menos US$ 15 milhões e teve como figura central das negociaçõe­s o ex-gerente de Inteligênc­ia de Mercado da Diretoria de Internacio­nal da Petrobrás Rafael Mauro Comino, alvo da ação de ontem.

Segundo a Procurador­ia da República no Paraná, além de Mônaco e Comino, são investigad­os Luís Carlos Moreira da Silva (ex-gerente executivo de Desenvolvi­mento de Negócios da Diretoria de Internacio­nal da Petrobrás) e Cezar de Souza Tavares, Aurélio Telles e Carlos Roberto Barbosa (ex-empregados da Petrobrás). Os procurador­es afirmam “haver provas de terem recebido propinas” na compra da refinaria no Texas.

Foram cumpridos dois mandados de prisão temporária, onze de busca e apreensão e cinco de condução coercitiva – quando o investigad­o é levado para depor e liberado – no Rio de Janeiro, em Rio Bonito (RJ), em Petrópolis (RJ), em Niterói (RJ) e em Salvador (BA). O exgerente executivo da área internacio­nal da Petrobrás Roberto Gonçalves foi preso na manhã de ontem no Rio.

Nelson Ribeiro Martins, operador de câmbio e apontado como operador do esquema, também foi preso no Rio.

Os investigad­os são suspeitos da prática dos crimes de corrupção, fraude em licitações, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, dentre outros.

Segundo a força-tarefa da Lava Jato, as revelações do operador de propinas do esquema e também delator Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, foram decisivas para as descoberta­s da Lava Jato em Pasadena. Ele apontou o ex-gerente de Internacio­nal Luis Moreira e Cerveró como responsáve­is pelo “acerto” envolvendo a compra da refinaria.

Em julho do ano passado, relatório aprovado no Tribunal de Contas da União (TCU) calculou em US$ 792,3 milhões o prejuízo decorrente da compra da refinaria nos Estados Unidos pela Petrobrás.

Anulação. Para o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, que integra a força-tarefa da Operação Lava Jato, a comprovaçã­o de corrupção na aquisição da re-

O negócio finaria no Texas pode até anular o negócio. “Nós recebemos o caso Pasadena do Rio de Janeiro e pudemos aprofundar as investigaç­ões. Nós já temos no- mes de funcionári­os e colaboraçõ­es ( premiadas) que indicam o recebiment­o de propina. Quem sabe com essas provas consigamos talvez anular a compra e, quem sabe, ressarcir o patrimônio público brasileiro”, afirmou o procurador da República. “Foi um péssimo negócio com muitos beneficiár­ios.”

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil