Dilma diz que não concorda com Lula e Levy ‘fica onde está’
Sobre a pressão para colocar Meirelles na Fazenda, presidente afirma que não tem de consentir ‘com todas as avaliações’ de seu antecessor
A presidente Dilma Rousseff voltou ontem a garantir a permanência do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no cargo. Na Turquia, onde participou da reunião do G-20, a presidente disse que Levy “fica onde está”. Dilma reconheceu divergências com ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse que gosta e respeita o antecessor, mas não tem de “concordar com todas as avaliações” dele.
Nos bastidores, Lula é a principal fonte de pressão para a saída de Levy. Dilma reconhece que tem diferenças com o antecessor. “Eu não só gosto muito do presidente Lula, como o respeito. Mas não temos de concordar com todas as avaliações”.
Ao dizer que está em uma fase “Dilminha paz e amor”, a petista negou ter problemas com Henrique Meirelles – nome defendido pelo ex-presidente para o posto de Levy –, mas fez uma defesa enfática de seu auxiliar. Anteontem, o ministro da Fazenda disse que permanece no cargo “até segunda ordem”.
“Eu considero o ministro Levy sobretudo um grande servidor público. Ele tem compromisso com o País, com a estabilidade do País”, disse. “Acho extremamente nocivas as especulações quanto ao ministro que me obrigam a, de forma sistemática, reforçar que o ministro
fica onde está”, afirmou Dilma antes de deixar a cidade de Antália, onde aconteceu a reunião de cúpula do G-20
Ao ser questionada sobre a gestão de Lula em favor de Meirelles, a presidente disse que “não tem de concordar em tudo” com as pessoas que gosta imensamente. “Até porque nós somos adultos e cada um tem uma forma de encarar a realidade”. Apesar de reconhecer as diferenças, Dilma disse que “no geral, a gente ( ela e Lula) concorda” com a maioria dos assuntos.
O trabalho de bastidor de Lu-
la teria como objetivo colocar o ex-presidente do Banco Central na cadeira de ministro da Fazenda. Em Brasília, porém, muitos que trabalharam no governo passado dizem que a relação da então ministra Dilma Rousseff com Meirelles não era das melhores. Isso explicaria a resistência da presidente em aceitar a sugestão de Lula.
Na Turquia, Dilma foi questionada sobre eventuais problemas com Meirelles. “Eu não tenho problema com ninguém”, respondeu ao deixar a sala de entrevistas em um hotel no bal- neário de Antália.
Após alguns passos fora da sala, Dilma interrompeu a caminhada, virou-se na direção dos jornalistas e completou a resposta: “Estou em uma fase Dilminha paz e amor”. A frase foi recebida com risos da equipe da Presidência da República.
‘Maioria’. Aparentando bom humor, a presidente também fez uma avaliação relativamente otimista da situação política e entende que o governo tem conseguido recompor a base governista. “Nós do governo avaliamos que temos a maioria. Em alguns casos, bem confortável e, em outros, mais apertada. Mas temos a maioria”, disse. “A situação política no Brasil está cada dia mais se normalizando”, resumiu.
CPMF. Apesar de considerar ter a maioria parlamentar, Dilma usou tom mais enfático para defender a necessidade de volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, a CPMF.
Segundo ela, o retorno da contribuição paga nas opera- ções bancárias “não é para gastar mais, é para crescer mais”. “Nós fizemos um grande esforço de reequilibro fiscal que, além de todas as medidas de redução de despesas que já tomamos, agora vai requerer a consciência e a responsabilidade para aprovar a CPMF”, afirmou.
Para a presidente que luta para aprovar medidas fiscais no Congresso, a aprovação do tributo “é uma questão fundamental para o Brasil se ancorar, se estabilizar e ter condições de acelerar o processo de saída da crise”.