O Estado de S. Paulo

Mentor de atentados estaria na Síria; polícia busca 8º suspeito

Jihadista de 28 anos é apontado como mentor dos ataques; outro terrorista é procurado após cruzar fronteira

- Jamil Chade

As polícias da Bélgica e da França identifica­ram o suspeito de ser o cérebro dos ataques terrorista­s de sexta-feira em Paris, que deixaram 129 mortos: trata-se de Abdelhamid Abaaoud, de 28 anos. Nascido em Molenbeek, bairro na periferia de Bruxelas, com um histórico de boas notas na escola e namorador, hoje Abaaoud atua na Síria.

O jovem de origem marroquina passou a ser considerad­o nos últimos meses o principal responsáve­l por recrutar europeus para lutar na Síria em nome do Estado Islâmico (EI). Abaaoud teria “organizado e financiado” os atentados, segundo investigad­ores belgas.

Em Bruxelas, o terrorista já foi condenado, à revelia, a 20 anos de prisão por envolvimen- to em outros atentados. Há poucos meses, uma célula terrorista foi desmantela­da em Bruxelas, mas Abaaoud conseguiu escapar do cerco da polícia e viajou para a Síria. “Os atentados foram planejados na Síria e organizado­s na Bélgica”, confirmou ontem o presidente francês, François Hollande.

O suspeito de ser o mentor da operação fez circular em redes sociais a informação de que teria morrido na Grécia. Mas a polícia logo descobriu que as mensagens eram falsas.

Num vídeo postado no Youtube, em fevereiro, ele declara claramente sua intenção de matar. “Por toda minha vida, vi o sangue mu- çulmano ser derramado. Rezo para que Alá rompa as costas dos que se opõem a ele, seus soldados e admiradore­s e ele os extermine”, disse.

Ao Estado, a secretária de Assuntos Sociais de Molenbeek, Sarah Turine, disse que conhecia bem a família dele. “Os pais deram tudo a ele. Era um garoto normal, que tinha boas notas e foi transferid­o para uma escola chique de Bruxelas. Seus pais investiram muito nele. Hoje, estão destruídos”, disse. “Ninguém entende. Era namorador, gostava da vida”, contou. Mas seu radicalism­o chamou a atenção de muitos, principalm­ente após levar seu irmão de 13 anos para lutar na Síria. O garoto frequentav­a a mesma classe que um dos filhos de Sarah. “Ele não queria ir para a Síria. Foi sequestrad­o pelo irmão mais velho.”

Em entrevista em fevereiro à revista Dabiq, editada por simpatizan­tes do EI, ele indicou que planejava um “golpe”. Omentor usava seu

nome de guerra, Abu Umar Al Baljiki, e indicou que a Bélgica fazia parte da “coalizão que lidera uma cruzada contra muçulmanos”. Em janeiro, uma célula mantida por ele em Verviers foi desmantela­da e dois jihadistas foram mortos.

Na entrevista, ele conta como conseguiu por alguns meses voltar para a Europa, de onde teria “comprado armas e preparado ataques”. Ele ainda relata que um policial o parou e o comparou com uma foto sua nos sistemas de inteligênc­ia. “Mas ele não achou que eu era quem ele buscava. Isso foi um presente de Alá”, disse.

As autoridade­s continuava­m ontem buscando o oitavo suspeito dos atentados, Abdeslam Salah, que conseguiu fugir. Seu irmão, Ibrahim, foi um dos que atacaram os restaurant­es em Paris e se suicidaram. Outro irmão, Mohamed, que tinha sido preso no fim de semana na Bélgica com outras seis pessoas, foi solto ontem.

Os cinco terrorista­s identifica­dos até o momento passaram por campos de treinament­o na Síria. A conclusão leva em conta as identidade­s de Abdeslam Salah e de seu irmão Ibrahim, Omar Ismael Mostefai e Samy Aminour, que atacaram a casa de shows Bataclan, e Bilal Hadfi e Ahmad Al-Mohammad, que se suicidaram no Stade de France.

Segundo o jornal belga Le Soir, intercepta­ções mostram

Stade de França Às 21h20, três homens-bomba atacaram a entrada do Stade de France, onde França e Alemanha disputavam um amistoso. Uma pessoa morreu além dos três suicidas

Le Carillon e Le Petit Cambodge Cinco minutos depois, os dois restaurant­es foram alvos de homens armados que abriram fogo contra os clientes. Houve 14 mortes nos dois restaurant­es

Pizzaria La Casa Nostra Um ataque a tiros também foi executado no restaurant­e italiano, matando cinco pessoas, às 21h32

que Abdeslam telefonou para dois amigos na noite de sextafeira em Bruxelas, apelando para que o fossem buscar de carro em Paris. “Pago o pedágio e a gasolina”, suplicou. Os cúmplices estavam em um bar da família Saleh. Quem decidiu ir buscá-lo foi Mohamed Amri.

Naquele momento, seu nome fazia parte apenas da lista de “radicais” mantida pelo governo belga. Ao voltar pela estrada, ele foi parado por policiais franceses, mas seu nome não consta-

Le Belle Equipe Às 21h38, bar foi alvo de homens armados, que deixaram outros 18 mortos

Bataclan A casa de shows foi tomada às 21h49 por quatro terrorista­s armados, que fizeram reféns os fãs que assistiam ao show da banda Eagles of Death Metal. A polícia invadiu a casa. Ao menos 86 pessoas morreram. Quatro deles eram terrorista­s

Boulevard Voltaire Um tiroteio na avenida deixou dois mortos, um deles suspeito de envolvimen­to no ataque, baleado por policiais que respondiam aos ataques

va, até aquele instante, de nenhuma lista das autoridade­s da França. O que ninguém sabe é por que Abdeslam não acionou seu cinturão-bomba como o irmão e os outros terrorista­s.

 ?? REUTERS ?? Na Síria. Abaaoud teria traçado os planos
REUTERS Na Síria. Abaaoud teria traçado os planos
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil