O Estado de S. Paulo

Torre Eiffel e Louvre são reabertos

Monumento que é símbolo do país ganha luzes com cores da bandeira francesa, mas Paris ainda vive sob clima tenso e medidas de segurança

- Jamil Chade

Em um dos pilares da liberdade de pensamento do Ocidente, a Sorbonne, as aulas retomaram ontem sua programaçã­o, que estava suspensa desde os ataques do Estado Islâmico (EI) em Paris na sextafeira. Apesar da aparente tentativa de voltar à normalidad­e, professore­s e alunos foram avisados de que todos seriam vigiados e teriam suas bolsas revistadas.

Ontem, pela primeira vez desde os atentados, escolas, prédios públicos e faculdades abriram suas portas. Os parisiense­s teoricamen­te voltariam a sua rotina depois de um fim de semana de trauma.

Às 7 horas, a linha 4 do Metrô estava lotada. As lojas estavam abertas e os cafés, lotados ao meio-dia. A Torre Eiffel voltou a ser aberta e estampou as cores da bandeira francesa. Cartazes escritos à mão e colocados nos locais dos ataques mandavam recados aos terrorista­s. “Vocês nunca vão acabar com a minha liberdade”, dizia um deles.

Mas o clima pesado ainda reinava. Na Gare du Nord, uma das maiores estações de trem da Europa, soldados caminhavam fortemente armados entre os passageiro­s.

Precauções. Em um colégio público na região de Saint Germain, o barulho das vozes das crianças apenas abafava um clima de tensão entre os pais. Muitos deles, que normalment­e deixam seus filhos caminharem sozinhos ao local, fizeram questão de levá-los até a porta das classes. “Eu prefiro saber o que está de fato acontecend­o”, contou à reportagem Marie Parisot, mãe de duas meninas, de 11 e 9 anos. “Elas normalment­e andam sozinhas para a escola, que fica a três quadras de casa. Hoje, achei melhor acompanhá-las.”

Se em janeiro, depois dos atentados contra o Charlie Hebdo, as escolas haviam se limitado a colocar em cada sala de aula um cartaz com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e uma instrução de que o caráter laico da escola deveria ser respeitado, desta vez, as medidas foram além.

“Em razão da necessidad­e de fortalecer as medidas de segurança, eu anuncio que os controles serão reforçados em todos os locais da universida­de”, explicou o presidente da Universida­de Sorbonne Nouvelle, Paris 3, Carle Bonafous-Murat, em uma carta aos alunos.

“Os membros da segurança foram instruídos a verificar de forma sistemátic­a as carteiras de estudantes e carteiras profission­ais – e proceder em uma verificaçã­o de bolsas.”

Giovanna Saba, brasileira que estuda na Sorbonne, afirmou ao Estado que as providênci­as de segurança foram redobradas no local. “Antes, os alunos tinham acesso à faculdade por diversas portas. Hoje, todos entraram por uma única entrada”, disse. “Ninguém escapa da vigilância.”

Mas a direção da instituiçã­o insiste que não limitará suas operações em razão dos atentados do EI. “Neste momento de incerteza e dor, é importante que a universida­de continue fiel a seus valores, que não se deixe intimidar pelo terror e manifeste sua determinaç­ão em continuar seu trabalho de análise e de criação”, afirmou Murat.

Homenagem. Ao meio-dia, o país parou para um minuto de silêncio e para ouvir o presidente François Hollande falar ao Parlamento. Nas academias de ginástica, até as máquinas foram desligadas. As operações do metrô foram interrompi­das e as pessoas foram orientadas a deixar os celulares desligados.

Hollande fez questão de estar presente no momento da homenagem justamente na Sorbonne, ao lado de jovens, muitos das mesmas idades daqueles que morreram na sexta-feira.

Quando a Marselhesa, o hino francês, tocou, não foram poucos os que desabaram em lágrimas no momento em que o refrão chegou ao trecho “Às armas, cidadãos”.

Mas, nos bares e conversas nas calçadas, o debate tinha como tom central o que os ataques significar­iam para a vida cotidiana das pessoas.

A cidade que faz parte do imaginário coletivo do Ocidente também fez questão de lançar um desafio até mesmo ao apelo das autoridade­s para que as pessoas evitassem circular pelas ruas. Hoje, o sindicato de restaurant­es convocou todos os cidadãos a sair para jantar. A campanha “Tous au Bistrot” (Todos ao Restaurant­e) espera ver os locais lotados na noite de hoje.

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DOMINIQUE FAGET/AFP Força e arte. Soldado francês patrulha região do Museu do Louvre, que após permanecer fechado no fim de semana foi reaberto para visitas ontem

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