Exército não quer isenção de visto na Olimpíada do Rio
Chefe do Estado-Maior diz que medida, ainda a ser sancionada por Dilma, pode abrir caminho para chegada de terroristas
O chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general José Carlos De Nardi, disse ontem ao Estado que desobrigar turistas de apresentar visto de entrada no Brasil durante a Olimpíada de 2016 pode abrir caminho para a vinda de terroristas ao País.
O projeto que suspende a exigência de visto para entrada no Brasil, durante quatro meses, no período dos Jogos, foi aprovado pelo Congresso. Diante dos atentados em Paris, a presidente Dilma Rousseff pode não sancioná-lo.
O projeto está na Casa Civil e a presidente tem até o dia 24 para tomar a decisão. Até agora, as posições estavam polarizadas entre os Ministérios da Defesa, que não concordava com a proposta, e do Turismo, que a defendia. O Ministério da Justiça ainda queria analisá-lo mais, pois considerava que esse não era o projeto dos sonhos do governo.
“A proposta deveria ser revista, face a nova situação e conjuntura”, disse o militar, que ressaltou que a decisão final não é do Ministério da Defesa. “A avaliação do ponto de vista da inteligência, segurança e defesa, não é boa.”
O general, que participou da coordenação da segurança de todos os grandes eventos realizados pelo Brasil nos últimos anos, afirmou ainda que a revisão seria necessária porque a li- beração do visto abre caminhos de entrada para elementos que podem estar ligados a grupos terroristas.
O chefe do Estado-Maior ex- plicou que o Brasil, hoje, está em melhores condições de enfrentar esse tipo de problemas em razão da experiência adquirida nos jogos anteriores e a in- tegração dos diferentes órgãos de inteligência e contrainteligência “será reforçada”. Segundo o miliar, a principal preocupação é a atuação de radicais que possam agir como lobos solitários e lembrou que o visto é mais uma barreira de fiscalização. O Ministério da Defesa, no entanto, não se posicionou oficialmente sobre a questão.
Para Andrei Augusto Passos Rodrigues, secretário para Segurança de Grandes Eventos, órgão do Ministério da Justiça, a estratégia do Brasil para prevenir ações indesejadas nos Jogos Olímpicos não muda. Mas, segundo ele, os atentados em Paris reforçam de forma definitiva o entendimento de que é necessário adotar um novo patamar de vigilância. “Nós temos é que reafirmar os protocolos e planejamentos de segurança que já existem”, comentou, ao acrescentar que a exigência do visto não impede ações terroristas e há outros procedimentos internos de segurança previstos.
O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, lembrou que o texto apenas delega poderes aos Ministérios da Justiça, Turismo e Relações Exteriores para estabelecer a isenção de visto durante os Jogos.
O analista de Assuntos Estratégicos André Luís Woloszyn, consultor de organizações internacionais em assuntos de terrorismo e conflitos de baixa e média intensidades, reforça a tese do general De Nardi. “Na situação em que nos encontramos, a suspensão do visto é um fator que pode repercutir negativamente na segurança da Olimpíada”, comentou Woloszyn, que participou das primeiras discussões da proposta no Congresso. “Agora a situação que temos no mundo é outra, completamente diferente. Hoje, não exigir o visto seria emblemático para a segurança, porque seria um controle a menos de quem vem para o País.”