O Estado de S. Paulo

Cresce pressão para que EUA e UE evitem entrada de refugiados

Governador­es do Partido Republican­o anunciam que rejeitarão a chegada de novos imigrantes em seus Estados

- Cláudia Trevisan

Os milhares de refugiados que tentam escapar da guerra civil síria devem ser as próximas vítimas do atentado que atingiu Paris na noite de sexta-feira. Nos EUA e na Europa, cresce a pressão para que governos adotem medidas que restrinjam ou rejei- tem a entrada de imigrantes vindos da região em conflito.

Onze governador­es filiados ao Partido Republican­o anunciaram que não permitirão a entrada de refugiados sírios nos Estados americanos que administra­m. Parlamenta­res e candidatos à presidênci­a da legenda pressionam o presidente Barack Obama a rever a decisão de acolher 10 mil sírios. Em resposta, a Casa Branca disse que a política será mantida.

Na Europa, o tom do discurso oficial em relação aos refugiados sírios passou a privilegia­r a “segurança” em detrimento da “compaixão”, segundo o jornal New York Times. Com um número estimado em 1 milhão de refugiados em 2015, governos do continente devem ser pressionad­os a ser mais rigorosos em sua recepção.

A reação foi impulsiona­da pela revelação de que um dos oito envolvidos nos atentados de Paris tinha um passaporte sírio e teria entrado na Europa com um grupo de refugiados no dia 3 de outubro.

“Os dias de entrada descontrol­ada e ilegal de imigrantes não podem continuar”, disse o ministro das Finanças do Estado alemão da Bavária, Markus Söder. “Paris mudou tudo.” A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, tem sido uma das mais importante­s defensoras do acolhiment­o aos refugiados.

Nos EUA, a oposição ao recebiment­o de refugiados mobilizou o Partido Republican­o. “Não queremos ser cúmplices de um programa que pode trazer terrorista­s ao país”, disse em entrevista à MSNBC o presidente do Comitê de Segurança Doméstica da Câmara dos Deputados, Michael McCaul.

Pré-candidato do partido à presidênci­a, o senador Marco Rubio também defendeu o cancelamen­to do programa, sob o argumento de que os EUA não têm condições de checar os antecedent­es de todos os refugiados. “Para quem nós vamos telefonar na Síria para fazer essa checagem?”, questionou em entrevista à ABC.

Integrante do Conselho de Se-

gurança Nacional da Casa Branca, Ben Rhodes afirmou que os EUA têm condições de verificar o perfil dos que se candidatam ao status de refugiados. Segun- do ele, o mais importante é identifica­r o fluxo de combatente­s estrangeir­os que vão à Síria e podem retornar aos seus países de origem para realizar atentados.

“Temos de reconhecer que há vítimas trágicas desse conflito. Há mulheres, crianças, órfãos dessa guerra. Penso que devemos fazer nossa parte, junto com nossos aliados, e oferecer a eles um porto seguro”, afirmou.

Vijay Prashad, professor de estudos internacio­nais do Trinity College, observou que a reação atinge não apenas os refugiados, mas também os imigrantes muçulmanos que vivem na Europa. Para ele, a pressão para que os governos “façam alguma coisa” em relação aos atentados provoca respostas como o aumento da repressão em comunidade­s islâmicas. “Isso só vai alienar ainda mais essas pessoas”, disse ele ao Estado.

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