O Estado de S. Paulo

Conservado­r argentino quer lei de delação inspirada na do Brasil

Opositor cita exemplo brasileiro para combater casos de corrupção, um dia após histórico debate na televisão

- Rodrigo Cavalheiro

O candidato conservado­r à presidênci­a da Argentina, Mauricio Macri, afirmou ontem à noite que pretende, caso vença a eleição de domingo, aprovar uma lei de delação premiada inspirada na brasileira. Em um balanço do debate do dia anterior diante do governista Daniel Scioli, o opositor disse que a “lei do arrependid­o” permitiria capturar um grupo inteiro de corruptos a partir da detenção de um deles.

“No Brasil deu bons resultados”, disse ao jornalista Joaquín Morales Solá. Macri acredita que uma legislação assim permitirá, além do combate à corrupção, fortalecer a independên­cia e a autonomia dos organismos de segurança.

Questionad­o sobre por que o tema de política externa teve pouco espaço no debate, Macri afirmou que defendeu a suspensão da Venezuela do Mercosul caso o país não libere presos políticos. Também propôs a revogação do acordo entre Argentina e Irã, firmado em 2013, para ouvir acusados de praticar o atentados contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia) em 1994, que matou 85 pessoas.

O promotor Alberto Nisman, encontrado morto com um tiro na cabeça em janeiro, acusara a presidente Cristina Kirchner de usar este pacto para conseguir vantagens comerciais com Teerã. “Temos de ficar do lado dos países que de-

Alfinetada fendem os direitos humanos”, afirmou Macri.

O dia seguinte ao primeiro debate entre dois candidatos à presidênci­a da Argentina foi de análise do desempenho de ambos. Embora ambos não tenham se declarado vencedores, seu militantes se encarregar­am de fazê-lo e usaram as redes sociais para “viralizar” os melhores momentos de cada um.

Macri aparece em vantagem nas pesquisas, que o colocam entre 3 e 11 pontos à frente de Scioli, que no encontro de domingo não conseguiu se ater aos tempos determinad­os. O momento de maior brilho do kirchneris­ta foi ao responder sobre a expansão do narcotráfi­co em sua província. “Se você não consegue resolver o problema dos flanelinha­s em Buenos Aires, acha que o povo vai acreditar que pode combater o narcotráfi­co?”

Um grupo de jovens peronistas fez um vídeo caseiro de 25 segundos em que celebra como um gol este trecho do encontro. Quando Scioli termina a frase, exibida em uma gravação, todos correm para lados diferentes fazendo sinais de que Scioli “exterminou” o rival. O vídeo divulgado no Twitter teve mais de 200 mil visualizaç­ões ontem.

Macri obteve efeito semelhante ao dizer que Scioli tinha se transforma­do em participan­te de um programa ultrakirch­nerista e brincar com a fama de não encarar objetivame­nte perguntas da imprensa. “Você não me respondeu. Bom, não responde a nenhum jornalista na Argentina, então não vou me sentir mal por isso”, disse Macri depois de questionar o adversário sobre o dado governista de que no país há 5% de pobres.

O grande trunfo do candidato opositor nas redes sociais foi o beijo que deu no fim do encontro em sua mulher, Juliana Awada. A expressão de Scioli diante da cena tornou-se o meme do dia. As montagens recortam o governista constrangi­do e o colam diante de beijos históricos do cinema.

“Macri levou alguma vantagem porque esteve mais seguro e Scioli transparec­eu nervosismo. O candidato opositor deixou o confronto com um ar de ganhador. Dito isso sobre a forma, não houve grande troca de ideias e conceitos”, disse ao Estado o consultor político Fede- rico González.

Ambos fugiram das respostas e usaram alguns dados falsos para fundamenta­r suas perguntas. O site chequeado.com, que se dedica a verificar informaçõe­s, apontou dezenas de imprecisõe­s. Entre elas, a premissa de Macri de que os aposentado­s perderam poder de compra com a inflação no período kirchneris­ta (a pensão mínima aumentou mais que os preços).

Sobre o mesmo tema, Scioli exagerou ao dizer que 3 milhões de aposentado­s foram incorporad­os ao sistema de previdênci­a desde 2003 (foram 2,3 milhões). “Dependendo da checagem, somos acusados de ser pagos pelo kirchneris­mo ou pela oposição”, disse Laura Zommer, diretora do site.

A campanha termina na quinta-feira. Se usarem a mesma estratégia do debate, Scioli insistirá em vincular Macri a um ajuste econômico a partir da desvaloriz­ação do peso. Macri tende a associar o rival aos 12 anos de governo kirchneris­ta.

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DAVID FERNÁNDEZ/EFE-15/11/2015 Alvo. Macri beija a mulher: gesto foi alvo de brincadeir­as
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