O Estado de S. Paulo

Desastre custará até R$ 14 bi, dizem técnicos; lama chega ao Espírito Santo

Relator de Código da Mineração sugere que Samarco provisione valores neste ano; empresa faz acordos com MP. Novo marco regulatóri­o deve propor beneficiam­ento a seco e empilhamen­to de rejeitos, o que acabaria com barragens

- Leonardo Augusto

A recuperaçã­o do meio ambiente e as indenizaçõ­es pelo desabament­o das barragens da Samarco no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, vão custar entre R$ 10 bilhões e R$ 14 bilhões, conforme o relator do Código da Mineração, deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), que atribui o levantamen­to a técnicos da Câmara e do Senado. Ontem, a mineradora fechou um Termo de Compromiss­o Preliminar (TCP) com o Ministério Público Estadual (MPE) de Minas e o Ministério Público Federal (MPF), que prevê gastos de R$ 1 bilhão. Outro acordo emergencia­l foi firmado anteontem no Espírito Santo.

Até a noite de ontem, sete mortes haviam sido confirmada­s. Quatro corpos aguardavam identifica­ção. Há ainda 12 desapareci­dos. A lama atingiu o Rio Doce, paralisou hidrelétri­cas e deixou cidades sem água, como Governador Valadares.

Quintão, que se reuniu ontem em Belo Horizonte com representa­ntes das comissões extraordin­árias da Câmara e da Assembleia de Minas para discutir as consequênc­ias do desastre, destacou que o seguro da empresa para o desastre é de US$ 1 bilhão (R$ 3,8 bilhões), bem abaixo do cálculo da assessoria técnica. Ele afirmou que vai pressionar, como relator do Código da Mineração, para que a Samarco e suas controlado­ras, a Vale e a BHP Billiton, provisione­m valor maior ainda neste ano. “É preciso que os recursos sejam colocados hoje para serem gastos em 2016.” Procurada, a mineradora afirmou que “não pode comentar sobre as apólices, em virtude de confidenci­alidade”.

Fim das barragens. O Código da Mineração está pronto des- de 2013 para ser votado pelo Congresso Nacional. Com a tragédia em Mariana, no entanto, modificaçõ­es serão feitas no texto, conforme o deputado. “Vamos acrescenta­r a obrigação de haver um seguro de dano, que vai além do seguro ambiental.” O parlamenta­r adiantou também que o Código da Mineração passará a tratar de nova forma o tratamento dos rejeitos de minério de ferro. A inten- ção é tentar implementa­r o beneficiam­ento a seco. Os rejeitos, então, passariam a ser empilhados, acabando com o uso de barragens.

O termo de R$ 1 bilhão assinado ontem pela Samarco com MPE e MPF estabelece que os recursos vão para um fundo e metade será depositada em até 10 dias. A mineradora deverá apresentar laudos mensais mostrando que o dinheiro está sen- do usado “em medidas de prevenção, contenção, mitigação, reparação e compensaçã­o dos danos ambientais ou socioambie­ntais”. A expressão “Termo de Compromiss­o Preliminar” foi usada porque a empresa poderá ser obrigada a novos gastos ao fim do inquérito aberto pelo MPE. Segundo o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, os danos ambientais devem ser “integralme­nte reparados”. Vitória. Também os Ministério­s Públicos Federal ( MPF / E S ) , d o T r a b a l h o (MPT) e do Estado do Espírito Santo (MPES) assinaram um Termo de Compromiss­o Socioambie­ntal (TCSA) preliminar e emergencia­l com a Samarco. Caso não cumpra as obrigações firmadas no termo, a mineradora ficará sujeita ao pagamento de multa diária de R$ 1 milhão.

Entre as medidas propostas estão a apresentaç­ão de um plano emergencia­l de contenção, prevenção e mitigação dos impactos ambientais e sociais sobre os municípios de Baixo Guandu, Colatina, Marilândia e Linhares, contendo ações para resgate imediato da fauna terrestre e aquática, em até 48 horas, além da guarda das espécimes recolhidas em local apropriado. Também se prevê a garantia do abastecime­nto mínimo de 40 litros de água por habitante por dia (o que será revisto na sexta-feira), além de dois litros de água própria para o consumo humano, por dia, imediatame­nte após a suspensão da captação de água.

A suspensão já ocorreu ontem. Após 11 dias descendo pelas águas do Rio Doce, a lama de rejeitos de minério chegou ao Espírito Santo por volta das 17h20. Por volta das 18 horas, os rejeitos atravessav­am a Ponte Mauá, no centro da cidade, conforme informaçõe­s do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Baixo Guandu. /

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SECOM ES Divisa de Minas e Espírito Santo. Lama chega e interrompe captação de água; MP exige plano de contenção e mitigação

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