O Estado de S. Paulo

Imagens de drones indicam fissuras em terceira barragem

Moradores chegaram a ser retirados, mas foram informados de que não havia riscos; Defesa Civil não viu rachaduras

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Imagens feitas por drones do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, divulgadas anteontem à noite pelo Fantástico, mostram fissuras na barragem de Germano, estrutura que faz parte do complexo de barragens da mineradora Samarco em Mariana (MG). Na quarta-feira, moradores do distrito de Paracatu, na mesma cidade, chegaram a deixar as casas com medo das rachaduras, mas foram informados de que não havia riscos. A Defesa Civil Estadual mantém a informação de que a barragem não apresenta rachaduras.

Segundo o Departamen­to Nacional de Produção Mineral (DNPM), não há risco iminente com relação a Germano. A barragem de resíduos já está desativada e é a que tem os sedimentos mais secos. A Samarco, porém, admite que a estrutura está fora dos níveis de segurança. “O maciço principal da barragem de Germano está com fator de segurança acima de 1,9. O fator de 1,0 significa que a estrutura está no seu limite de equilíbrio”, diz a empresa, em nota.

“As barragens estão sendo monitorada­s em tempo real por radares e inspeções diárias, realizadas pela equipe técnica da empresa”, ressalta a mineradora, afirmando usar equipamen- tos de alta precisão para o monitorame­nto.

Contradiçõ­es. O DNPM desmentiu informação passada pela Samarco de que duas barragens, Fundão e Santarém, estão rompidas. O órgão federal diz que Santarém teve avarias e há escoamento de água a partir dela, mas que a estrutura não rompeu – como a Samarco vem afirmando na última semana.

Questionad­a sobre o tema, a empresa disse, em nota, que “o maciço remanescen­te está íntegro, mesmo estando parcialmen­te erodido” e que a área é monitorada, sem se pronunciar sobre as informaçõe­s desencontr­adas. Já a Defesa Civil mantém a informação de que Santarém se rompeu. “A Fundão, que fica atrás da Santarém, ruiu, o material desceu e atingiu Santarém, que teve parte da estrutura destruída”, diz o coordenado­r da Defesa Civil, coronel Helberth Figueiró, que disse que todo o material que havia em Santarém escapou no desastre. Desde sexta-feira, índios krenaks ocupam a linha férrea da mineradora Vale no município de Resplendor, em Minas. Com a cultura e a subsistênc­ia dependente­s do Rio Doce, os indígenas resolveram protestar con- tra a poluição do rio pela lama de rejeitos das barragens em Mariana e pedem apoio da Vale para a recuperaçã­o da região e, a curto prazo, água potável.

No fim da tarde, a Vale informou que os índios concordara­m em liberar a ferrovia, e o tráfego deve ser retomado ama- nhã. No fim da semana, a linha havia sido obstruída com galhos de árvores em chamas que impediam a passagem de vagões da mineradora na via que liga Vitória a Belo Horizonte.

A linha foi ocupada ainda em diferentes pontos, reabertos após ordens judiciais favoráveis à Vale – no Espírito Santo, o movimento foi liderado pela prefeitura de Baixo Guandu, que pôs tratores nos trilhos. A exceção era o bloqueio dos índios. Ontem, centenas deles, com muitas crianças, permanecia­m acampados sob lonas pretas e em barracas de camping à espera do resultado da reunião com a mineradora.

“Nossa existência está ligada ao rio. Quando soubemos da lama, a aldeia entrou em choque”, disse a professora Shirley Krenak, de 36 anos, cuja aldeia tem 760 integrante­s. Segundo ela, um caminhão-pipa foi enviado à região, mas a água não era potável. “Não temos água nem para beber.” A empresa não detalhou os termos do acordo e se fornecerá água à aldeia.

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LINCON ZARBIETTI/O TEMPO Comunidade. Existência dos krenaks é ligada ao Rio Doce

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