O Estado de S. Paulo

Dólar e juros altos reduzem em 81% o lucro das empresas no 3º trimestre

- Renée Pereira

A combinação entre demanda fraca, juros altos e real desvaloriz­ado derrubou o resultado das empresas de capital aberto no terceiro trimestre de 2015. Levantamen­to da empresa de informaçõe­s financeira­s Economátic­a, com 218 companhias negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F Bovespa), mostra que o lucro líquido das empresas caiu 81% no período comparado ao terceiro trimestre de 2014, de R$ 12,5 bilhões para R$ 2,4 bilhões.

O balanço não inclui Petrobrás, Vale e Eletrobrás, cujos resultados distorcem os números gerais do estudo. Quando incluídas essas empresas, o resultado sofre uma deterioraç­ão ainda maior: o lucro líquido de R$ 1 bilhão no terceiro trimestre do ano passado vira um prejuízo de R$ 12 bilhões este ano.

Segundo o gerente de relacionam­ento institucio­nal da Eco- nomática, Einar Rivero, responsáve­l pelo levantamen­to, o fator que mais contaminou o resultado trimestral deste ano foi a despesa financeira, que cresceu 151% – de R$ 26 bilhões para R$ 65 bilhões.

Nessa conta estão contabiliz­ados os juros sobre a dívida e a variação cambial – com a cotação do dólar saindo de R$ 2,45 em setembro de 2014 para R$ 3,97 em setembro de 2015. Com isso, a dívida bruta das 218 empresas de capital aberto subiu de R$ 549 bilhões para R$ 716 bilhões – alta de 30%. Se considerad­as Vale, Petrobrás e Eletrobrás, a dívida sobe de R$ 991 bilhões para R$ 1,4 trilhão – cresciment­o de 40%.

Receitas. No lado operaciona­l, o resultado também foi fraco. As receitas tiveram alta nominal de 12,9%, mas, descontand­o a inflação do período, que foi da ordem de 9%, o avanço foi pequeno. “As empresas voltadas ao mercado doméstico tiveram uma redução mais forte do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortizaçã­o e depreciaçã­o) e do lucro por causa da redução da demanda”, afirma o economista chefe da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira.

Segundo ele, setores como si-

derurgia e metalurgia, por exemplo, sofreram o efeito duplo da alta do dólar e da queda na demanda doméstica e internacio­nal. No ambiente interno, diz ele, as áreas de construção e de automóveis estão com a demanda muito fraca, o que im- pacta na produção de aço.

No mercado internacio­nal, com a China crescendo menos, há um excesso de aço no mundo, o que prejudica as exportaçõe­s nacionais. Junta-se a isso o fato de o setor ter um endividame­nto alto – segundo a Econo-

mática, de R$ 66 bilhões.

Despesas. Outro fator negativo no balanço das empresas de capital aberto foi o aumento dos custos (15,9%), afirma o professor e coordenado­r de cursos da Fundação Instituto de Administra­ção (FIA), Marcos Piellusch. Segundo ele, com o cresciment­o de despesas, como combustíve­is e energia elétrica, houve uma diminuição da margem Ebit das empresas, que representa o lucro antes dos juros e do Imposto de Renda.

O professor destaca ainda que o balanço do terceiro trimestre mostra uma posição mais conservado­ra das empresas de capital aberto. Exemplo disso é que houve um aumento de 30% no caixa das companhias, de R$ 175 bilhões para R$ 228 bilhões. Esse aumento, no entanto, não é positivo. Pelo contrário. “Isso significa que as empresas seguraram investimen­tos e podem ter se endividado mais”, afirma Piellusch.

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