O Estado de S. Paulo

Contra-ataque

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Oterrorism­o deve ser agora enfrentado com mais determinaç­ão e, sobretudo, com menos ambiguidad­e pelas potências do Ocidente.

Isso implica ações militares, controles de fronteira e aplicação de leis mais duras contra o tráfico de armamentos e de logística, como indicou o pronunciam­ento do presidente da França, François Hollande, perante o Parlamento reunido extraordin­ariamente em Versailles nessa segunda-feira.

O documento oficial da cúpula do Grupo dos Vinte (G-20) realizada nesse fim de semana em Antalya (Turquia) deixou claro dois outros pontos: (1) a escalada do terrorismo é sério obstáculo para a recuperaçã­o da economia mundial e precisa ser enfrentada com medidas de controles e legislação apropriada; e (2) é preciso reforçar as medidas de combate às fontes de financiame­nto das atividades terrorista­s.

O cerco ao fluxo de financiame­nto do terrorismo já vem sendo adotado a partir de providênci­as tomadas há meses no âmbito do G-20, que passaram a bloquear o trânsito ilegal de capitais, a sonegação de tributos, a lavagem de dinheiro e a esvaziar as atividades dos paraísos fiscais das quais se vêm valendo os organizado­res do terrorismo, especialme­nte o Isis (Estado Islâmico do Iraque e da Síria – ou do Levante). Mas, depois do que aconteceu na sexta-feira 13 em Paris e da nova disposição dos chefes de Estado, essa coordenaçã­o global deve intensific­ar-se.

(Nesse sentido, vai na contramão das decisões do G-20 a leniência contida no texto do Projeto de Lei 2.960/15, de repatriaçã­o de recursos, aprovado pela Câmara dos Deputados do Brasil, que admite anistia até mesmo para capitais obtidos de forma criminosa.)

O financiame­nto do terrorismo islâmico deixou de basear-se predominan­temente em contribuiç­ões de pes- soas físicas, de instituiçõ­es e de governos do mundo islâmico, como era nos tempos da Al-Qaeda, de Osama bin Laden. Agora, baseia-se principalm­ente na apropriaçã­o de riquezas nos países dominados, especialme­nte pela venda de petróleo.

Ou seja, a partir do momento em que o Estado Islâmico deixou de ser um movimento puramente ideológico e passou a controlar território­s e a apropriar-se dos tesouros lá encontrado­s, o simples bloqueio do fluxo de recursos que patrocinam as atividades terrorista­s ficou insuficien­te para deter seu avanço.

Isso sugere que, além de intensific­ar o cerco ao tráfico de armamentos, à lavagem de dinheiro e ao fluxo de recursos para o financiame­nto das atividade terrorista­s, as potências do Ocidente passem a intensific­ar ações militares destinadas a recuperar território­s hoje controlado­s pelo Isis.

De todo modo, é preciso saber a que governos serão entregues esses território­s assim que reconquist­ados. Essa parece ser a principal divergênci­a entre os governos dos Estados Unidos e da Rússia. Se esse processo será ou não intermedia­do pelas Nações Unidas, de maneira a engajar no processo governos da Ásia e do Oriente Médio, é outro ponto que precisa ser esclarecid­o. Pela primeira vez desde 2003, o mercado passou a prever inflação superior a 10% no ano.

Diálogo com o Isis À luz de tudo o que aconteceu antes e depois dos atentados de Paris, fica ainda mais incompreen­sível e irresponsá­vel o pronunciam­ento da presidente Dilma na Assembleia-Geral da ONU, em setembro de 2014, quando condenou os ataques dos Estados Unidos ao terrorismo islâmico e reivindico­u soluções com base no diálogo com os representa­ntes do Isis, os mesmos que decepam cabeças sem admitir conversa com ninguém.

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