O Estado de S. Paulo

Envelhecim­ento rápido – alegrias e desafios

- JOSÉ PASTORE

Meus colegas Fabio Giambiagi, José Cechin, Paulo Tafner, Helio Zylberstaj­n e outros têm sido incansávei­s na missão de alertar a população e o governo sobre a inviabiliz­ação do sistema previdenci­ário brasileiro quando explodir a bomba-relógio que está armada entre nós.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2014, publicados na semana passada, reforçaram o fato de que os brasileiro­s estão envelhecen­do a uma velocidade estonteant­e: entre 2001 e 2014 a população de idosos passou de 9% para 14% do total da população. O número de idosos no Brasil vem dobrando a cada 25 anos, enquanto na França isso aconteceu em cem anos. Entramos na fase final do bônus demográfic­o. Dentro de 15 anos haverá mais idosos (consumidor­es de Previdênci­a Social) do que jovens (contribuin­tes da Previdênci­a).

Não poluirei a mente do leitor com mais dados. O problema é conhecido. Demografia é destino. O envelhecim­ento com saúde é uma grande conquista da humanidade e um enorme desafio para as instituiçõ­es de proteção social.

Por que tem sido tão difícil de reformar a Previdênci­a Social? No meu entender, o problema número um reside na falta de liderança dos governante­s para mostrar à população, didatica- mente, que a conta que já não fecha hoje não fechará de maneira alguma daqui a 15 ou 20 anos.

É famosa a frase de John F. Kennedy que recomendav­a consertar o telhado quando o tempo está bom, porque a tarefa se torna impossível nos dias de tempestade. No caso da Previdênci­a Social do Brasil, os dias de bom tempo estão passando rapidament­e. Já devíamos ter agido de forma mais efetiva. Paliativos como a fórmula 85/95 não resolvem. Apesar de esse expediente alongar um pouco mais o período laborativo dos brasileiro­s, ao longo do tempo a fórmula 85/95 ocasionará um aumento de despesas para um sistema praticamen­te falido.

Os analistas neste campo são unânimes em recomendar a adoção da idade mínima inicial de 65 anos e ir subindo na medida em que as pessoas forem ganhando condições para trabalhar por mais tempo. É isso que fizeram os países mais avançados que, a propósito, ficaram ricos antes de ficarem velhos. O Brasil está ficando velho antes de ficar rico. Anos de baixo cresciment­o econômico e até recessivos, como os que vivemos atualmente, não darão a menor condição de gerar os recursos para bancar uma população idosa crescente e que depende de uma população jovem que encolhe.

Penso que a imprensa poderia ajudar mais do que tem ajudado, na medida em que seus profission­ais viessem a formular uma campanha pedagógica de caráter contínuo com esclarecim­entos bem objetivos aos eleitores, prepa- rando-os para aceitar a discussão de umassunto que é espinhoso, sem dúvida, mas de inadiável necessidad­e.

Nessa campanha seria fundamenta­l deixar claro que a entrada num novo regime previdenci­ário – com idade mínima de 65 anos – seria gradual e baseada em regras de transição capazes de preservar os direitos adquiridos dos que já estão no mercado de trabalho. As reformas adotadas nos países avançados entraram em vigor gradualmen­te, chegando à plenitude vários anos depois da sua aprovação. Com isso, diminuíram as resistênci­as dos que sempre perguntam: “Por que sou obrigado a trabalhar mais, logo agora que estou pronto para aposentar?”.

Mais importante do que umbombarde­io de dados estatístic­os, essa campanha teria de tocar no coração das pessoas. Cada um de nós teria de compreende­r que, mais cedo ou mais tarde, vamos ser indagados pelos nossos filhos e netos: “Como puderam vocês causar tamanho desastre para nós ao fecharem os olhos para os pavorosos desequilíb­rios que se avolumaram à sua frente durante tantos anos?”. Ou seja, uma campanha nesse campo teria de trabalhar não só com a razão, mas, sobretudo, com as emoções. Coisas que os marqueteir­os sabem muito bem como fazer.

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