O Estado de S. Paulo

Para Fazenda, problema de crédito é ‘pontual’

Com pressões do PT para aumentar o crédito, ministério estuda medidas nesse sentido, mas avaliação é que as dificuldad­es não são generaliza­das

- Lorenna Rodrigues

O Ministério da Fazenda avalia adotar novas medidas para facilitar e estimular a concessão de crédito no Brasil em segmentos em que foram detectados problemas. Estão em estudo ações para melhorar a oferta de linhas de financiame­nto de curto prazo, como para capital de giro, e para ampliar o financiame­nto privado para a infraestru­tura. Além disso, estão sendo discutidas medidas para ajudar a indústria em 2016, principalm­ente a de base.

A avaliação do ministro Joaquim Levy é que não há um pro- blema de crédito na economia brasileira, mas sim gargalos e questões pontuais que poderão ser melhorados, como essa questão do capital de giro para as empresas. Domingo, na Turquia – onde participou de reunião do G-20 –, Levy enfatizou esse pensamento e afirmou que o problema não é falta de financiame­ntos, mas de demanda retraída. “A situação de hoje é distinta de 2008. Não há problema de oferta de crédito. O problema é a normalizaç­ão da economia. É preciso estabelece­r as condições de demanda”, disse.

O ministro vem sendo pressionad­o pelo Partido dos Trabalhado­res (PT) e por setores do governo a mostrar um caminho para o aumento do crédito, que poderia estimular a economia. Mas, de acordo com fontes do ministério, ele entende que já vinham sendo tomadas medidas para estimular os financiame­ntos, como, por exemplo, a liberação de R$ 22,5 bilhões em depósitos compulsóri­os para financiame­nto imobiliári­o, em maio, a facilitaçã­o para bancos pequenos e médios captarem recursos, em setembro, e o alongament­o dos prazos para pedidos de financiame­nto dentro do Programa de Sustentaçã­o do Investimen­to (PSI) do BNDES, na semana passada.

O entendimen­to é que essa é uma área que está sendo sempre monitorada e novas medidas poderão ser adotadas. “Fizemos vários movimentos já e estamos estudando outros”, afirmou a fonte. “Essa é uma área que o ministro acha que tem de estar avaliando o tempo todo e ir tomando medidas.”

Medidas.

Uma das maiores preocupaçõ­es na pasta é o fato de os bancos não estarem renovando linhas de curto prazo, próprias para capital de giro. Mas o diagnóstic­o é que isso se deve às incertezas da economia, não à falta de recursos.

A Fazenda também acompanha a liberação de recursos dento do Finame, do BNDES, incluindo os gastos com cartão corporativ­o, que desacelera­ram.“Sempre há a possibilid­ade de adotar medidas com impacto no crédito.”

Levy também está conversand­o com a indústria, principalm­ente a de máquinas pesadas – o ministro recebeu na semana passada o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipament­os (Abimaq), Carlos Pastoriza. De acordo com a fonte, a preocupaçã­o é “preparar 2016”.

Em outra frente, as conversas sobre o Plano Safra serão abertas assim que forem resolvidos os R$ 10 bilhões em subsídios atrasados para o programa.

O desafio agora é adotar medi- das com impacto na concessão do crédito, mas que tenham “coerência” com a política monetária e a questão fiscal atual.

O Ministério da Fazenda e Banco Central discutem mudanças pontuais, mas conversas estão sendo feitas com cuidado, para que as ações não pressionem a taxa de juros e a dívida pública. No fim de outubro, reportagem do Estado mostrou que o governo estava estudando, com cautela, medidas para facilitar o crédito e aquecer a demanda.

Segundo a fonte, o ministério acha fundamenta­l a ampliação de crédito privado e uma das medidas adotadas nesse sentido foi a flexibiliz­ação de regras de investimen­tos para previdênci­a complement­ar aberta, anunciada na sexta-feira passada. Uma das medidas foi a criação de um limite adicional de aporte em projetos ligados a infraestru­tura. O objetivo da medida é aumentar a destinação desses recursos para a área, o que aumentará o crédito disponível para o setor.

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UESLEI MARCELINO/REUTERS-4/11/2015 Foco. Para Levy, problema do crédito é mais de demanda

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