O Estado de S. Paulo

Fitch pode mudar nota do País antes do previsto

Segundo diretora da agência, aumento das incertezas econômicas e políticas põe pressão extra sobre a nota brasileiro, que já tem viés negativo

- Altamiro Silva Júnior

O rating soberano do Brasil continua sob pressão, em meio ao aumento de incertezas políticas e econômicas, afirmou a diretora sênior da Fitch responsáve­l pela América Latina, Shelly Shetty, em vídeo divulgado ontem. Piora adicional da economia, deterioraç­ão mais acentuada das contas fiscais, escalada da dívida bruta e dificuldad­es extras na governabil­idade podem colocar pressão adicional para o rebaixamen­to da classifica­ção de risco, diz a diretora.

“A Fitch mantém a perspectiv­a negativa para o rating, porque acredita que o desempenho fraco da economia e das contas fiscais vai continuar”, afirmou. A agência de classifica­ção de risco não vê a estabiliza­ção da dívida do governo e segue vendo riscos de piora em suas projeções para a atividade econômica e as contas públicas. Essas preocupaçõ­es são amplificad­as em meio à volatilida­de que tem sido observada no mercado financeiro e à falta de “fluidez política”, acrescento­u.

Na Fitch, a perspectiv­a negativa em um rating indica chance “acima de 50%” de rebaixamen­to da nota entre 12 a 18 meses. Mas Shelly destacou, no vídeo que dura pouco mais de três minutos, que uma mudança na nota do País também pode ocorrer em período mais curto que o esperado pelas regras da agência, dependendo do que ocorrer na economia analisada. “Vamos continuar monitorand­o os desdobrame­ntos políticos, econô-

No alvo micos e fiscais no Brasil”, disse.

“O cenário econômico brasileiro está se tornando mais desafiador”, disse Shelly, destacando que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve encolher 3% este ano e mais 1% em 2016. “As perspectiv­as de cresciment­o de médio prazo também são fracas, comparadas a outros grandes mercados emergentes.”

Shelly explica no vídeo que três fatores principais contribuír­am para o rebaixamen­to da nota soberana do País, anuncia- da em 15 de outubro: piora do cenário econômico, dificuldad­e em seguir com o ajuste fiscal e a difícil situação política.

A falta de avanço no ajuste tem impedido a melhora dos números fiscais e o cenário político turbulento tem dificultad­o o avanço da agenda econômica do Planalto e contribuíd­o para elevar ainda mais a incerteza.

Desemprego. Shelly também chamou atenção para o fato de que o aumento da taxa de desemprego do Brasil, o “colapso” do investimen­to privado e a dificuldad­e de expansão do crédito mostram as dificuldad­es que o governo de Dilma Rousseff enfrenta para fazer a economia voltar a crescer.

A previsão da Fitch é de que o déficit siga elevado este ano e no ano que vem, e a relação dívida bruta/PIB bata em 70% em 2016 e siga crescendo.

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BRENDAN MCDERMID/REUTERS-24/5/2013 Dúvida. Cenário econômico está mais desafiador, diz Shelly

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