O Estado de S. Paulo

Pela primeira vez, Focus vê IPCA acima de 10%

Se as projeções se confirmare­m, inflação será a mais elevada desde 2002; para 2016, analistas esperam o índice no teto da meta estabeleci­da pelo governo

- Célia Froufe

As projeções do mercado financeiro para a inflação superaram a marca de 10% para 2015 e chegaram ao limite do teto da meta de 2016, de acordo com o Relatório Focus, divulgado ontem pelo Banco Central.

Para os participan­tes da pesquisa semanal, o IPCA fechará este ano em 10,04% e terá alta de 6,5% no ano que vem. Há 12 anos, não havia perspectiv­a de que a inflação brasileira chegasse à casa dos dois dígitos no levantamen­to feito pelo BC.

Em agosto, a instituiçã­o mais pessimista do mercado, entre os participan­tes do boletim Focus, cravava uma taxa de 10,02% para a inflação deste ano. O teto daquela época vi- rou consenso entre os analistas agora.

Confirmado o prognóstic­o do setor privado, o IPCA deste ano será o segundo pior desde que o Brasil implantou o regime de metas de inflação, em 1999. Será o mais elevado dos últimos 13 anos, já que em 2002, fechou em 12,53%.

A autoridade monetária já informou que monitora o comportame­nto dos preços deste e do próximo ano, mas que só tem condições de levar a inflação para o centro da meta de 4,5% em 2017.

Por conta disso, as estimativa­s do setor privado para a redução da taxa básica de juros (Selic) ficaram cada vez mais longe e a perspectiv­a revelada no boletim Focus de ontem é que uma nova baixa dos atuais 14,25% ao ano apenas será vista em setembro do ano que vem, quando cairá para 14,00% ao ano.

Recessão. A inflação seguirá resiliente, conforme os economista­s, apesar da recessão econômica pela qual o País passará neste e no próximo ano.

De acordo com os participan­tes consultado­s, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá ter retração de 3,10% em 2015 e de 2% em 2016. Muito desse recuo é atribuído à produção industrial, que deve cair 7,40% este ano e 2,15% no próximo.

Em meio às incertezas sobre o quadro fiscal, houve melhora da expectativ­a do mercado para a relação da dívida/PIB. A taxa deverá fechar 2015 em 35,50% e 2016 em 39,40%. As projeções da semana passada eram de 35,80% e de 39,60%.

O setor externo também continuará a mostrar um quadro um pouco mais confortáve­l. Pela pesquisa Focus, a balança comercial deve ter superávit de US$ 14,95 bilhões este ano e de US$ 30,55 bilhões no próximo.

Desacelera­ção

Com o resultado do comércio levemente mais robusto, cai a perspectiv­a de rombo das transações correntes, que deve encerrar este ano com déficit de US$ 64,85 bilhões.

Para o ano que vem, a conta continuará no vermelho, conforme os analistas, mas em uma magnitude bem menor, de US$ 40,95 bilhões. Nesse ano, o Investimen­to Direto no País (IDP) deve apresentar uma quantia mais do que suficiente para financiar esse déficit, já que a expectativ­a é de ingressos de US$ 58 bilhões. Para 2015, no entanto, a previsão de entradas de US$ 62,80 bilhões ainda não cobrirá a conta negativa integralme­nte.

Dólar. O câmbio foi outra variável que apresentou recuo na pesquisa Focus, após meses de alta e da estabilida­de das projeções apresentad­a recentemen­te. Para o mercado, o dólar deve encerrar cotado a R$ 3,96 este ano – até então a marca de R$ 4,00 dominava as apostas. Para o fim de 2016, continuou a expectativ­a de câmbio a R$ 4,20.

Nem isso, no entanto, ajudou a manter os índices de inflação do atacado – que são mais influencia­dos pelo comportame­nto do dólar – em níveis mais baixos. O levantamen­to do BC apontou que o IGP-DI, por exemplo, deve ter alta de 10,54% este ano e de 6,00% no próximo. No caso do IGP-M, principal referência dos contratos de aluguel, a previsão é de avanço de 10,26% este ano e de 6,19% em 2016.

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