O Estado de S. Paulo

Fundo de pensão deve ter novas regras

Cálculo que determina injeção de recursos para cobrir rombos vai seguir a duração dos planos

- Murilo Rodrigues Alves

O governo deve flexibiliz­ar as regras de solvência dos fundos de pensão. O cálculo a partir do qual os participan­tes e patrocinad­ores são obrigados a injetar recursos para cobrir desequilíb­rios vai variar de acordo com o horizonte médio dos prazos de pagamento dos benefícios. A proposta, que será apresentad­a pela Superinten­dência Nacional de Previdênci­a Complement­ar, que fiscaliza o setor, deve ser aprovada na reunião de amanhã do Conselho Nacional de Previdênci­a Complement­ar (CNPC).

A mudança nas regras foi noticiada ontem pela Folha de S. Paulo. A tolerância atual é déficit de 10% do patrimônio líquido. Caso ultrapasse esse limite, o fundo tem de se reequilibr­ar, elevando contribuiç­ões de participan­tes e patrocinad­ores. Se o plano ficar no vermelho por três anos consecutiv­os também é obrigado a fazer novos aportes.

A mudança deve usar como medida o “duration”, jargão do setor que indica o prazo médio que o plano tem para pagar as aposentado­rias. Tomando por base todo o sistema, esse horizonte é de 12,3 anos. A nova regra levaria em conta o “duration” menos quatro anos. O limite de déficit médio do sistema seria, portanto, de 8,3% do patrimônio líquido. Em média, o teto de déficit seria menor do que a regra atual.

“Uma regra inadequada pode levar planos de equacionam­ento desnecessá­rios”, afirma Jaime Mariz, secretário de Políticas de Previdênci­a Complement­ar do Ministro do Trabalho e da Previdênci­a Social. Ele cita como exemplo o caso da Previ (dos funcionári­os do Banco do Brasil), que distribuiu superávit por sete anos aos participan­tes do plano de benefício definido e agora, segundo o secretário, deve apresentar déficit neste ano. “A nova regra tende a ter uma visão de longo prazo, mais adequada para o sistema.”

A Associação das Entidades Fechadas de Previdênci­a Complement­ar (Abrapp), que representa o setor, tenta que as novas regras já sejam opção para as entidades que precisam apresentar ainda em 2015 plano de equacionam­ento em relação ao balanço do ano passado. O governo, porém, quer que as regras só entrem em vigor em 2016. “Se vamos ter uma regra que é mais justa, por que forçar o equacionam­ento pela regra atual?”, questiona José Ribeiro Pena Neto (Abrapp).

No entanto, se as regras novas puderem ser usadas a partir deste ano, o número de planos que vão precisar se ajustar será parecido – ficará entre 70 a 80. Bem próximo dos 77 planos que precisam, até o dia 31 de dezembro deste ano, apresentar solução para os desequilíb­rios com base na regra atual, segundo levantamen­to feito pela Previc. É o caso do Postalis (dos funcionári­os dos Correios) e da Funcef (Caixa).

Rombo. Em 2014, o déficit total acumulado do sistema foi de R$ 31 bilhões. No primeiro semestre deste ano, o “buraco” aumentou para R$ 45,8 bilhões, segundo o balanço da Abrapp. As perdas são consequênc­ia da piora da economia, de erros de análise de investimen­to, má gestão e, em alguns casos, fraudes e corrupção – o que motivou a criação de uma CPI para apurar desvios nos fundos das estatais.

“Ainda que o número de planos que vão precisar se adequar seja parecido, as entidades esperam essa decisão, porque vai mudar também o quanto patrocinad­ores e participan­tes precisarão injetar”, diz Guilherme Benites, da consultori­a Aditus, que tem 70 fundos de pensão no portfólio.

Para Sílvio Rangel, diretor-superinten­dente da Fundação Itaipu Brasil, a regulação atual induz a gestão de curto prazo dos investimen­tos dos fundos de pensão. Segundo ele, as entidades preferem investimen­tos com liquidez, baixo risco e, consequent­emente, baixo retorno. “Isso impede que os aportes dos fundos sirvam ao País como capital de longo prazo, contrapart­ida ao incentivo tributário que as fundações gozam”, diz.

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