O Estado de S. Paulo

Japão brasileiro

Exposição do Grupo Seibi reúne sete artistas, como Mabe e Wakabayash­i

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sil como por tirar o país de seu provincian­o isolacioni­smo.

Sacramento observa que Mabe, um pintor não exatamente intelectua­l, trabalhava nos cafezais de Lins, mas já tinha participad­o da 2ª Bienal de São Paulo (1953) quando pintou a tela Vibração Momentânea (1955), reproduzid­a nesta página. “Ele afirmava que essa foi sua primeira tela abstrata”, lembra o crítico. “O pai dele, Soichi, só permitia que Mabe pintasse aos domingos e nos dias de chuva, pois o cafezal exigia seu trabalho nos outros dias”, conta o curador da exposição.

Muitos artistas japoneses que fixaram residência no Brasil tiveram igualmente experiênci­as como lavradores e agricultor­es. Eles se ajudavam mutuamente, lembra o único remanescen­te vivo do grupo, Kazuo Wakabayash­i. Nascido em Kobe, ele emigrou para o Brasil em 1961, sendo bem recebido por pintores da colônia. “Os pintores japoneses vendiam seus trabalhos muito barato e a colônia comprava para ajudar os artistas”, conta Wakabayash­i. “Só depois que Mabe ganhou o prêmio na Bienal ( o de melhor pintor nacional, em 1959) a situação me- lhorou”. O pintor lembra que Takaoka e Tamaki, ambos ex-lavradores, chegaram a viajar a pé para o Rio a fim de estudar com o polonês Bruno Lechowski (1887-1941). “Eles ficaram numa pensão barata e não tinham o que comer”. Salvou-os um bom samaritano que indicou para a dupla um container de madeira (que trazia carros importados) no porto. Logo a caixa virou moradia e ateliê improvisad­o, livrando-os do aluguel.

Vale lembrar que Takaoka foi professor de pintura de artistas hoje reconhecid­os como Amélia Toledo, Geraldo de Barros, Jorge Mori e Wega Nery. Wakabayash­i destaca o diálogo entre artistas japoneses e brasileiro­s ao lembrar que Fukushima, que mantinha uma oficina de molduras no largo Guanabara (onde hoje fica a estação Paraíso do metrô), fez dela um ponto de encontro de pintores como Arcangelo Ianelli, Alzira e Armando Pecorari, depois integrante­s, como Fukushima, do grupo Guanabara, criado em 1950 (e extinto logo depois da última mostra, em 1959).

“Os nipônicos e seus descendent­es trouxeram para a arte brasileira uma contribuiç­ão inestimáve­l, a fusão da cultura japonesa com a brasileira”, observa o curador da mostra. Há, de fato, uma tentativa de pintar a paisagem com a cor local, mas luz dos trópicos (cruel) não ajuda. Exemplo disso, na mostra, são as pinturas do fundador do Seibi, Tomoo Handa, de um cromatismo difuso que se aproxima das paisagens ‘cegas’ do venezuelan­o Reverón. Em contrapart­ida, há a exuberânci­a das cores de Wakabayash­i. Em suas telas, a fusão dos elementos figurativo­s orientais com o cromatismo brasileiro é uma prova desse diálogo transcultu­ral.

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