OIT prevê forte alta do desemprego
Segundo informe da organização, o Brasil será responsável este ano por um a cada três novos desempregados na economia mundial
O Brasil deve registrar o maior salto na taxa de desemprego entre as grandes economias do mundo em 2016 e, durante o ano, 700 mil brasileiros devem perder seus trabalhos. Os dados foram publicados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) que, em seu informe anual, alerta que a crise econômica levará uma “queda severa” no mercado de trabalho.
A economia brasileira será responsável por um a cada três novos desempregados em 2016 no mundo. No total, 2,3 milhões de postos de trabalho serão destruídos no mundo. Desses, 700 mil estarão no Brasil. O mercado brasileiro ainda responderá por mais de um terço de todo o desemprego latino-americano.
Na comparação com 2014, serão 1,2 milhão de novos desempregados no Brasil. “Essa é a maior elevação do desemprego entre as grandes economias”, afirmou ao Estado o diretor do Departamento de Pesquisas da OIT, Raymond Torres. Segundo a OIT, o Brasil “entra numa recessão severa”. Nem mesmo as políticas sociais e de promoção de empregos implementadas nos últimos anos serão suficientes para frear o desemprego.
A OIT projeta que o País terminou 2015 com taxa de desemprego de 7,2% e chegará ao final deste ano com 7,7%. Os números oficiais do País, no entanto, já mostram um quadro pior. Pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, que leva em conta as seis principais regiões metropolitanas, o desemprego já havia atingido 7,5% em novembro do ano passado. Já a Pnad Contínua, também do IBGE, mas que considera dados de todo o País, apontava para um desemprego de 9% no trimestre encerrado em outubro do ano passado.
Informalidade Segundo a OIT, o emprego informal já chega a 50% na metade dos países em desenvolvimento e, em um terço deles, a taxa supera a marca de 65%.
Para o especialista da OIT, não há dúvidas de que a crise terá um “impacto real no mercado de trabalho”. Mas o que ainda preocupa a entidade é que a consequência será um freio no combate à pobreza.
Em 2015, 24% dos trabalhadores ocupavam postos vulneráveis, sem garantias sociais e com salários baixos. Essa taxa, porém, vai continuar pelos próximos dois anos. O número de pessoas ganhando apenas US$ 3 por dia também vai aumentar depois de mais de uma década em queda. Em 2015, 5,1% dos trabalhadores recebiam salários miseráveis e, para 2016, a taxa passa a 5,2%.
Para Torres, o Brasil precisa voltar a usar a política fiscal para tirar a economia da recessão. “A política fiscal precisa recupe- rar o protagonismo que teve nos anos passados, mesmo que o mix seja diferente”, disse.
Na avaliação dele, o Brasil deveria “usar melhor o espaço fiscal para investimentos públicos, para o desenvolvimento empresarial e para a mobilização de recursos produtivos, além da ajuda aos trabalhadores”. “Isso precisa ser feito para recuperar a competitividade e evitar que a recessão continue”, defendeu.
O resultado, por enquanto, é que o desemprego no Brasil atingirá um nível bem superior à média mundial, que é de 5,8%. Ao final de 2015, 197,1 milhões de pessoas estavam sem trabalho no planeta e a previsão é de que, em 2016, esse número chegue a 199,4 milhões.
Em comparação a 2007, quando a crise internacional deu seus primeiros sinais, existem no hoje no mundo 27 milhões a mais de desempregados. Em 2017, a situação continuará a piorar, com outros 1,1 milhão de desempregados se somando ao número total.
Emergentes. Mas se nos últimos anos a alta no desemprego foi impulsionada pelos países ricos e especialmente pela Europa, afetada pela crise financeira em 2008, desta vez é o mundo emergente o grande responsável pela elevação na taxa mundial. “As perspectivas de emprego se deterioraram nas economias emergentes, em especial no Brasil, na China e nos produtores de petróleo”, indicou a OIT.
Em dois anos, os emergentes verão a perda de 4,8 milhões de postos de trabalho. Além dos 700 mil no Brasil, outros 800 mil desaparecerão na China. Oficialmente, porém, a taxa de desemprego de Pequim passará apenas de 4,6% para 4,7% entre 2015 e 2016.
A queda nos preços das commodities ainda custará 2 milhões de postos de trabalho nos mercados emergentes até 2017. Para a OIT, a América Latina deve ser fortemente afetada por essa nova realidade nos preços de matérias-primas e estará contaminada pela recessão no Brasil.
A taxa de desemprego regional passará de 6,4% em 2014 para 6,7% em 2016. A produtividade vai estagnar e 90 milhões de pessoas estarão em empregos vulneráveis. Os salários também deixaram de subir e o combate contra a pobreza pode sofrer.