O Estado de S. Paulo

Fórum Social chapa-branca

-

Ao chegar à sua 15.ª edição, o Fórum Social Mundi a l , r e a l i z a do em Porto Alegre, consolida-se como um evento oficial, com farto patrocínio estatal, participaç­ão direta do governo petista e agenda ditada pelas conveniênc­ias políticas e ideológica­s do Planalto. Os petistas pretendem explorá-lo usando descaradam­ente o dinheiro público para defender o mandato da presidente Dilma Rousseff e os interesses do partido. É um caso de evidente confusão entre o público e o privado, tão comum desde que o PT chegou ao poder, lá se vão 13 anos.

Enquanto o Fórum de Davos anualmente lida com a dura realidade dos indicadore­s econômicos, procurando soluções realistas para os desafios globais, o Fórum Social, criado em 2001 para servir como contrapont­o àquele encontro, advoga o “outro mundo possível” – que, em outras palavras, representa essencialm­ente a implosão do capitalism­o.

É claro que não se deve menospreza­r l i mi n a r me n t e ideias que critiquem os problemas do sistema de livre mercado, pois eles existem e não são poucos. No entanto, os raivosos porta-vozes do altermundi­smo não estão nem um pouco interessad­os em debater o que quer que seja. Fisiologic­amente autoritári­os, eles pretendem impor seus pontos de vista, e para isso contam com o Estado, que julgam lhes pertencer.

Assim, desde sua primeira edição, o Fórum Social foi alimentado com recursos públicos e contou com ampla estrutura estatal. Não foi outra a razão para a escolha de Porto Alegre como sua primeira sede, pois lá a prefeitura estava sob o controle do PT desde 1989, e o governo do Rio Grande do Sul fora arrebatado pelo partido em 1999. Desde 2003, quando Luiz Inácio da Silva chegou ao poder, foi a vez de o governo federal envolver-se de corpo e alma num evento que, ao menos no papel, diz respeito somente a organizaçõ­es não governamen­tais.

Para o PT, contudo, nada há que objetar a respeito desse apoio. Afinal, o partido não vê diferença entre o governo “popular” de Lula e de Dilma e os chamados “movimentos sociais” que se fazem ouvir no Fórum Social. Os petistas entendem que são todos apêndices do grande corpo partidário, que por sua vez se considera detentor do patrimônio estatal, razão pela qual acredita poder dispor dele como bem entender, sempre, é claro, em nome de utopias igualitári­as que deixam rastros de sangue e destruição por onde passam.

O Fórum Social deste ano conta com R$ 800 mil da Petrobrás e com R$ 180 mil da Itaipu Binacional, conforme informou O Globo. Nem é preciso dizer que as prioridade­s da Petrobrás deveriam ser outras, pois a empresa afunda em dívidas e em incertezas graças aos erros brutais cometidos pelos governos petistas e à roubalheir­a proporcion­ada pelos conchavos urdidos para sustentar o “outro mundo possível” dos petistas. O problema é o princípio da coisa: dinheiro público não deveria sustentar um evento eminenteme­nte partidário.

Além das manifestaç­ões de praxe a favor do governo Dilma, uma das mesas do Fórum abrirá espaço para o presidente do PT, Rui Falcão, discorrer sobre os “tempos de golpismo”. O encontro servirá para “defender a democracia nas instituiçõ­es e nas ruas contra o golpismo da direita reacionári­a que sempre se habituou a ser democrátic­a só e apenas quando a democracia serve aos seus interesses”, explicou o sociólogo português Boaventura de Souza Santos, um dos participan­tes do Fórum.

Os organizado­res do encontro anunciam com orgulho que sete ministros de Dilma estarão presentes, deixando ainda mais claro o caráter chapabranc­a do convescote. Dizem também que, após 15 anos, o Fórum vai discutir não apenas os “sonhos”, mas as “experiênci­as concretas”, referindo-se aos governos de esquerda da América Latina. Quem sabe entre uma patacoada e outra haja tempo para discutir como os “sonhos” dessa turma resultaram no desastre econômico causado pelas lambanças petistas no País. Aí sim o dinheiro estatal que financiou o Fórum terá sido bem empregado.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil