O Estado de S. Paulo

Dilma recebe Temer, que aconselha a presidente a ‘ouvir mais do que falar’

- Tânia Monteiro Vera Rosa Igor Gadelha /

Na primeira reunião do ano com a presidente Dilma Rousseff, o vice Michel Temer a aconselhou a “ouvir mais do que falar” na nova edição do Conselho de Desenvolvi­mento Econômico e Social – formado por integrante­s do governo, empresário­s e sindicalis­tas –, que será reativado no fim deste mês. O encontro entre os dois foi uma tentativa de reconcilia­ção após o malestar ocorrido em dezembro, quando uma carta escrita por Temer, na qual ele se queixava da “absoluta desconfian­ça” por parte de Dilma, vazou no Palácio do Planalto.

Mesmo assim, a reunião foi protocolar. Dilma e Temer con- versaram sozinhos por aproximada­mente 15 minutos e mais uma hora com os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo). Dilma perguntou ao vice o que ele achava da ideia de chamar a oposição para discutir saídas para a crise política. “A senhora deve ouvir a oposição, sim”, respondeu Temer, que no passado irritou o Planalto ao falar em “reunificaç­ão” nacional.

O vice disse a Dilma que, ao reativar o “Conselhão”, o governo precisa dar sinais de que está disposto a “ser mais servo”, ouvindo mais as ideias do grupo. Na avaliação de Temer, esse gesto ajudaria a “promover a pacificaçã­o”, fundamenta­l para o País enfrentar os problemas políticos e econômicos.

Ele aconselhou a presidente a “retomar o diálogo” em todas as frentes, facilitand­o, assim, a busca de caminhos para tirar o Brasil da crise. Dilma afirmou que “está pensando” em conversar com integrante­s da oposição.

Depois de ouvir as sugestões do vice, a presidente informou que está “buscando este entendimen­to”. Temer disse estar à disposição para ouvir e conversar com empresário­s, já que tem bom trânsito nessa área.

Os dois não falaram sobre a briga pela liderança do PMDB na Câmara ou o processo de impeachmen­t nem sobre a nomeação de um peemedebis­ta para a Secretaria da Aviação Civil, vaga desde a saída de Eliseu Padilha, aliado de Temer.

A presidente convidou Temer a comparecer à primeira reunião do Conselhão, em 28 de janeiro, e ajudá-lo na missão de buscar soluções que promovam o cresciment­o do País.

Na mesma data, Temer tem encontros no Paraná e em Santa Catarina com integrante­s do PMDB. O vice está trabalhand­o para se reeleger presidente do partido na convenção marcada para março. Ainda ontem, o Planalto comemorava o fato de o presidente do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau, confirmar que continua no Conselhão.

O Planalto se animou ainda com o fato de Wagner Moura ter aceito o convite para integrar o Conselhão, assim como Fernando Moraes. Moura é embaixador da Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT). Também estarão no grupo os banqueiros Roberto Setúbal, do Itaú, e Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, além de Jorge Paulo Lemann, da Ambev.

‘Ponte’. Na conversa com Dilma, Temer l embrou que o PMDB produziu o programa “Uma Ponte para o Futuro”, com ideias que poderiam ser adotadas pelo governo para ajudar o País a sair da crise. Em um afago ao vice, com quem enfrentou muitos problemas nos últimos meses, Dilma disse que conhecia o documento e que ele já estava nas mãos do ministro do Planejamen­to, Nelson Barbosa.

A necessidad­e de manter uma boa relação com Temer é defendida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quem o vice é o principal beneficiár­io do impeachmen­t, não podendo ficar afastado.

Jaques Wagner foi o portavoz do convite para o encontro. A conversa foi tratada como “afável” e “descontraí­da”, mas houve quem interpreta­sse que o tête-à-tête interessav­a mais a Dilma do que a Temer, para que pudesse ser feita “uma foto” com os dois juntos.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-11/1/2016 Conversa. Dilma no Planalto no início do ano; encontro com vice ontem durou 15 minutos

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