Justiça autoriza depoimento da petista em inquérito da Zelotes
Dilma foi arrolada como testemunha de um dos acusados de negociar MPs; ela poderá enviar informações por escrito
O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara da Justiça Federal em Brasília, autorizou que a presidente Dilma Rousseff seja ouvida como testemunha de defesa de um dos acusados de “comprar” medidas provisórias no governo federal, caso investigado na Operação Zelotes.
A presidente será oficiada pa- ra dar explicações sobre sua participação no processo para editar e aprovar as normas, que concederam incentivos fiscais a montadoras de veículos.
A decisão foi dada anteontem com base em pedido do réu Eduardo Gonçalves Valadão, que arrolou a presidente. Por lei, ela tem direito a responder a perguntas por escrito, caso não concorde em acertar com o juiz dia e horário para falar presencialmente, entre 2 e 4 de fevereiro. Em outra hipótese, pode alegar de antemão, também por escrito, que nada sabe sobre os fatos investigados.
Conforme denúncia apresentada pelo Ministério Público Fe- deral à Justiça, lobistas contratados pelas empresas pagaram propina a servidores públicos e autoridades para viabilizar os benefícios fiscais. O caso foi revelado pelo Estado em outubro.
Lula. Além de Dilma, vários outros políticos foram notificados a depor na ação penal em curso. A oitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que será presencial, em Brasília, está marcada para a segunda-feira. Até ontem, no entanto, a 10.ª Vara não tinha a confirmação de que ele foi intimado. O petista, que já depôs à Polícia Federal, será inquirido agora como testemunha do lobista Alexandre Paes
dos Santos, um dos presos por suspeita de “comprar” MPs.
Outro lobista preso, o empresário Mauro Marcondes Machado, fez pagamentos de R$ 2,5 mi-
lhões a um dos filhos de Lula, o empresário Luís Cláudio Lula da Silva. Os repasses estão sob investigação. Ambos têm negado relação entre o negócio e a edição das medidas provisórias.
Por ora, mais de 80 pessoas foram indicadas pelos 15 réus. A defesa de Valadão propôs inicialmente 63 testemunhas, mas o juiz determinou que a lista fosse limitada a 11. A nova relação manteve, além de Dilma, outras seis autoridades com prerrogativa de foro: o ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PTSP), os senadores José Agripino Maia (DEM-RN), Walter Pinheiro (PT-BA) e Tasso Jereissati (PSDB-CE), além dos deputados José Guimarães (PT-CE) e José Carlos Aleluia (DEM-BA).
Conforme argumentou a defesa, todos participaram, como parlamentares ou integrantes do governo, do processo para editar e aprovar as medidas provisórias, que foram convertidas em leis.
Procurados ontem, os advogados de Valadão não quiseram dar entrevista.