O Estado de S. Paulo

‘O negócio do Collor é dinheiro’, diz Cerveró

Declaração está em acerto preliminar do acordo de delação premiada do ex-diretor de Internacio­nal da Petrobrás; senador nega irregulari­dades

- Julia Affonso Ricardo Brandt Fausto Macedo

O ex-diretor da área Internacio­nal da Petrobrás Nestor Cerveró citou o senador Fernando Collor (PTB-AL) em suas declaraçõe­s à Procurador­ia-Geral da República, preliminar­es ao acerto de delação premiada que firmou na Operação Lava Jato. No documento entregue ao Ministério Público Federal, o delator afirmou que “sabe que ‘o negócio do Collor é dinheiro, ele não arrecada para partido, mas para ele mesmo’”.

Cerveró fechou a colaboraçã­o no dia 18 novembro de 2015. O executivo está preso desde janeiro do ano passado.

O delator também citou o exministro do governo Collor Pedro Paulo Leoni Ramos, apontado por investigad­ores da Lava Jato como operador de propinas do senador. “Soube através de Pedro Paulo Ramos que foi pago propina e que foi repassado para Collor, pelo próprio Pedro Paulo Ramos, mas não sabe precisar o valor correto. Mas, em certa oportunida­de, Pedro Paulo Ramos mostrou uma tabela de valores mensais para Fernando Collor que chegava na margem de milhões de reais.”

Collor já foi denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal pela prática de corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato. O senador também é alvo de outros dois inquéritos sobre o tema.

Cerveró foi diretor de Internacio­nal da Petrobrás de 2003 a 2008. Após ser exonerado do cargo, assumiu a área financeira da BR Distribuid­ora, subsidiári­a da estatal, onde ficou até 2014.

UTC. O nome de Collor foi citado pelo ex-diretor da Petrobrás em um documento intitulado “Assunto: Construção de bases da UTC”. Segundo Cerveró, durante o período em que ele esta- va na BR Distribuid­ora, foram “realizadas licitações (todas direcionad­as) para a UTC” construir bases de tancagem e armazename­nto para a subsidiári­a. O delator afirmou que as obras foram aprovadas por todas as diretorias da BR Distribuid­ora.

Conforme Cerveró, a diretoria responsáve­l pela construção das bases era a de Engenharia e Serviços, cujo diretor era José Zonis, que, ainda segundo ele, foi indicado por Collor. O delator relatou que participou da aprovação e dos pagamentos das bases, cujo orçamento era de R$ 500 milhões, mas não recebeu propina. Segundo Cerveró, “somente recebeu a Diretoria de Engenharia e Serviços, que repassou a propina ao sena- dor Fernando Collor”.

Delator da Lava Jato, Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, disse que repassou a Collor R$ 20 milhões para conseguir obras de infraestru­tura na BR licitadas na gestão do presidente José Lima de Andrade Neto.

Em nota, Collor afirmou que “não teve qualquer participaç­ão ou ingerência em processos internos e licitações realizadas pela BR Distribuid­ora, bem como jamais recebeu recursos ilícitos da UTC, nem diretament­e nem por interposta pessoa”.

O criminalis­ta Arnaldo Malheiros Filho, que defende Pedro Paulo Leoni Ramos, disse que não iria se manifestar porque não teve acesso aos termos da delação de Cerveró. O ex-presidente da BR José Lima de Andrade Neto e o executivo José Zonis não foram localizado­s.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-19/8/2015 Lava Jato. Collor já foi denunciado pela Procurador­ia-Geral

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