O Estado de S. Paulo

Lula cobra medida ‘crível’ de estímulo aos investimen­tos

Ex-presidente afirma que sucessora e ministro da Fazenda precisam sentir ‘o momento do jogo’ e agir ‘logo’, anunciando ações para recuperar a economia

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, durante entrevista a blogueiros, em São Paulo, que a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, têm de sentir o “momento do jogo” e anunciar “logo” medidas de estímulo ao investimen­to, especialme­nte propostas que contemplem o setor de infraestru­tura. Lula estabelece­u um prazo de, no máximo, 20 dias. E aconselhou que essas medidas sejam “críveis”.

“O Nelson Barbosa sabe que, se não anunciar algo crível, vai anunciar algo que não vai ter sucesso. Como ele é muito inteligent­e e Dilma sabe da situação em que estamos, acho que eles vão dar conta do recado e dizer: ‘O jogo é esse’. E convencer o nosso exército a acreditar nas coisas.” Lula disse que Dilma se comoveu com as manifestaç­ões de rua favoráveis a ela e à legitimida­de de seu mandato, no fim do ano passado. Ele recomendou a sua sucessora focar na imagem que quer deixar ao fim de seu governo e ter como “profissão de fé” a missão de governar, tirando o País da crise e reativando a economia.

Questionad­o sobre o ajuste fiscal, Lula respondeu que o conjunto de medidas não é “jogado nas costas dos trabalhado­res”, mas admitiu que foi um erro o processo de elaboração e divulgação das medidas que alteraram direitos trabalhist­as sem a devida negociação com as centrais sindicais.

Ele reconheceu também que a política de desoneraçõ­es e incentivos, feita na época de Guido Mantega na Fazenda, se estendeu mais que o devido “e não deu certo”. “A economia do mundo não se recuperou como a gente imaginava.” O importante, argumentou Lula, é que ainda assim o governo Dilma é melhor para os trabalhado­res e, por isso, a classe trabalhado­ra a apoia. “Hoje muitos trabalhado­res sabem que, se Dilma tivesse sofrido impeachmen­t, seria pior para eles.”

Para o ex-presidente, sua sucessora “tem que saber que temos lado, embora se governe para todos”, e as decisões do governo não devem ser tomadas de maneira centraliza­da e sem discussões com a sociedade. “O governo precisa fazer as coisas mais combinadas com o nosso povo”, afirmou o petista.

Ciência

Lula defendeu ainda o reajuste do salário mínimo para este ano, da ordem de 11%. “Se a inflação ficou em 10%, o reajuste tem que ser de 11% mesmo. A Dilma fez certo”, avaliou, rebatendo críticas de que o governo deveria poupar recursos públicos para reequilibr­ar a situação fiscal. “Não é o salário mínimo que vai pagar a crise que os milionário­s criaram.”

Juros. Antes do anúncio da decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central – que manteve a Selic em 14,25% ao ano –, o ex-presidente disse aos blogueiros que não há, no momento, necessidad­e de aumentar a taxa básica de juros. “Nem os banqueiros querem. Temos é que aumentar o investimen­to ou a economia não volta a crescer”, afirmou no evento realizado em seu instituto.

Lula afirmou que, no passado, o governo se esforçou para que a TJLP – taxa para projetos de investimen­to – se mantivesse baixa mesmo quando a Selic entrava em rota de alta. O expresiden­te se atrapalhou para justificar a trajetória crescente dos juros básicos nos últimos tempos, mas se solidarizo­u com Dilma. Ele afirmou que a economia poderia crescer com o atual patamar elevado dos juros, mas que a Selic deveria cair. “Mas, às vezes, não tem outro jeito.”

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HEINRICH AIKAWA/INSTITUTO LULA Café. O ex-presidente Lula concede entrevista a blogueiros no seu instituto, em São Paulo

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