O Estado de S. Paulo

EI destrói monastério cristão de 1,4 mil anos no Iraque

Mais antigo do país, templo de São Elias era herança dos primórdios do cristianis­mo no Oriente Médio

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O monastério cristão de São Elias, o mais antigo do Iraque, foi destruído pelo Estado Islâmico, no mais recente ataque do grupo terrorista a heranças culturais de outras religiões e etnias no Iraque e na Síria. As ruínas de 1,4 mil anos, que ficam em Mossul, a principal cidade iraquiana sob controle do EI, foram reduzidas a escombros, conforme indicam fotos de satélite obtidas com exclusivid­ade pela Associated Press.

“Não consigo descrever minha tristeza”, disse o reverendo Thabit Habib, responsáve­l pela igreja em Mossul, que se exilou em Irbil, no Curdistão iraquiano, desde a chegada do EI. “Nossa história cristã em Mossul está sendo barbaramen­te aniqui- lada. Estamos testemunha­ndo uma tentativa de nos expulsar do Iraque e eliminar nossa existência neste país”, acrescento­u.

Desde que se proclamou um califado, em meados de 2014, o EI tem perseguido minorias étnicas e religiosas no Iraque e na síria, como curdos, yazidis, cristãos e assírios. A destruição de templos históricos também tem sido uma prática comum, como foi o caso do Museu Assírio de Mossul, Iraque, e as ruínas de Palmyra, Síria. No total, mais de 100 sítios arqueológi- cos foram destruídos pelo EI, entre mesquitas, tumbas, igrejas e templos.

“Uma grande parte da história foi destruída”, lamentou o reverendo Manuel Yousif Boji, um católico caldeu iraquiano que emigrou para os EUA e cursou o seminário em Mossul. “Essas perseguiçõ­es não são novidade para a nossa Igreja, mas acreditamo­s na verdade e na palavra de Deus.”

O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, lembrou que como o monastério antecede a cisão entre as Igrejas do Oriente e Ocidente representa uma perda para ortodoxos e católicos. “Infelizmen­te, essa destruição sistemátic­a de locais preciosos, não apenas culturalme­nte, mas religiosa e espiritual­mente, é muito triste e dramática”, declarou.

A restaurado­ra Suzanne Bott, que trabalhou por dois anos no Monastério de São Elias a pedido da seção cultural do Departamen­to de Estado americano lamentou a destruição. “Perdemos evidências tangíveis das raízes de uma religião”, disse.

Em agosto, militantes do EI destruíram uma parte do templo de Bel, considerad­o o mais importante da cidade síria de Palmyra. Uma semana antes, os radicais fizeram o mesmo com o templo de Baal. Palmyra foi nos séculos I e II d.C. um dos centros culturais mais importante­s do mundo antigo e ponto de encontro de caravanas na Rota da Seda. /

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EROS HOAGLAND/THE NEW YORK TIMES Destruição. Patrimônio milenar foi demolido por radicais

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