O Estado de S. Paulo

ONG questiona estado de exceção na França

Instituiçã­o tradiciona­l de defesa dos direitos humanos pede fim do regime de urgência instituído após ataques do EI a Paris em novembro

- Andrei Netto

A Liga de Direitos Humanos (LDH), uma das mais tradiciona­is organizaçõ­es não governamen­tais da França e da Europa, recorreu ontem ao Conselho de Estado para solicitar o fim imediato do estado de urgência, regime de exceção vigente na França desde 14 de novembro, após os atentados em Paris e Saint-Denis.

Segundo os juristas da ONG, a presidênci­a da república precisa encerrar imediatame­nte o regime mesmo com a ameaça ter- rorista, em razão da suspensão dos direitos constituci­onais que o estado de urgência impõe.

A medida foi anunciada pelo presidente da França, François Hollande, horas depois dos atentados, que deixaram 130 mortos. No dia seguinte, um decreto do Palácio do Eliseu oficializo­u a entrada em vigor da medida, que deveria perdurar por apenas seis dias. Mas, graças à aprovação pelo Parlamento, a medida foi prolongada em 20 de novembro e deve vigorar até o dia 26.

Uma das possibilid­ades é a de que Hollande decida pela exten- são da medida até o final da Eurocopa 2016, que reunirá na França as maiores seleções de futebol do continente entre 10 de junho e 10 de julho.

O regime de exceção contempla a proibição de reuniões públicas não autorizada­s – como manifestaç­ões e protestos –, autoriza batidas policiais à noite e sem autorizaçã­o da Justiça e a facilitaçã­o de prisões.

Um parecer da Comissão Consultiva sobre Direitos do Homem, órgão que presta assessoria ao primeiro-ministro francês, Manuel Valls, já havia feito no dia 15 uma advertênci­a afir- mando que o estado de urgência, “em especial os dispositiv­os destinados a perenizá-lo, atingem a liberdade e os direitos fundamenta­is inerentes ao Estado de direito”. Agora, foi a vez da LDH formalizar a queixa e pedir a intervençã­o do Conse- lho de Estado, órgão que deve zelar pelo respeito à Constituiç­ão na França. O advogado da Liga, Patrice Spinosi, argumenta que “a persistênc­ia do estado de urgência mais de dois meses após ser acionado constitui um atentado grave e ilegal a várias liberdades fundamenta­is”. Em sua requisição, a LDH admite a “importânci­a crucial da luta contra o terrorismo”, mas entende que “os principais alvos e objetivos foram atingidos” no período já coberto pelo estado de exceção.

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ERIC GAILLARD/REUTERS Reforço. Legionário­s vigiam região litorânea francesa como parte de plano contra terror

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