O Estado de S. Paulo

Macri muda tom sobre soberania de Malvinas

Tática para reunião com Cameron é manter disputa sendo menos agressivo que Cristina

- Rodrigo Cavalheiro

O presidente argentino, Mauricio Macri, usará meia hora de reunião de hoje com o primeiro-ministro britânico, David Cameron, para mudar o tom agressivo com que o país reivindico­u durante o kirchneris­mo a soberania das Ilhas Malvinas (Falklands, para Londres). Os dois se encontrarã­o no Fórum Econômico Mundial, na Suíça.

Será a oportunida­de para o líder argentino colocar em prática o compromiss­o de campanha de normalizar a relação com a Grã-Bretanha. “Vamos continuar com a disputa, mas vou começar outro tipo de relação”, disse Macri na segundafei­ra, antes de embarcar em voo comercial para a Europa – ele aposentou a frota presidenci­al, sob alegação de que a manutenção era cara demais.

Macri abriu mão de ter em seu gabinete uma figura dedica- da exclusivam­ente às ilhas. Em 2013, Cristina Kirchner nomeou Daniel Filmus como titular da Secretaria de Assuntos Relativos às Malvinas.

A estratégia da presidente que governou a argentina entre 2007 e 2015 foi isolar a posição britânica em fóruns internacio­nais, com discursos enérgicos contra o colonialis­mo. Para os kirchneris­tas, a forma ruidosa permitiu ao país consolidar o tema, mas a tática é contestada.

“A política de confronto dá ra- zão ao outro para não conversar com você. Macri indica que retomará uma linha anterior ao kirchneris­mo, de maior criativida- de diplomátic­a. Resta saber se Cameron tem a mesma disposição”, avalia o diplomata Roberto García Moritán, que atuou como vice-chanceler. Segundo ele, a estratégia dos últimos anos deixou vizinhos como o Brasil em situação difícil por “ter de apoiar a Argentina”.

Segundo Moritán, a afinidade ideológica entre Macri e o líder conservado­r britânico não deve garantir avanço. “A disputa de Londres com Madri sobre a presença britânica em Gibraltar só piorou com dois conservado­res. Cameron e (Mariano) Rajoy não se entenderam”, lembra.

No dia 3, a chancelari­a argentina divulgou nota em que classifica a presença britânica nas Malvinas como “forma de colonialis­mo que deve acabar”, mas convida Londres a buscar uma solução pacífica de maneira “breve, justa e definitiva”.

Um dos diplomatas com maior conhecimen­to sobre o tema das Malvinas, Vicente Berasategu­i, que serviu como embaixador argentino em Londres entre 2000 e 2003, considera a mudança de tom necessária porque “a parte mais fraca não pode buscar o choque”.

“É saudável a iniciativa de Macri de recuperar a relação, pelo menos em outros setores. Se houver um avanço nisso, talvez Cameron aceite falar sobre o tema, algo que recusou completame­nte até agora”, disse Berasategu­i ao Estado.

Segundo diplomatas do Conselho Argentino para Relações Internacio­nais, Londres costuma ser mais sensíveis a reivindica­ções de países em desenvolvi­mento do que de outras potências europeias como a França. Uma reaproxima­ção argentina com Londres, sob essa lógica, poderia beneficiar a região em temas como as barreiras à entrada de produtos agrícolas na Europa, por exemplo.

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PRESIDENCI­A ARGENTINA Chegada. Macri está em Davos, na Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial

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