O Estado de S. Paulo

Casos de microcefal­ia chegam a 3.893 e Fiocruz prevê 16 mil registros neste ano

Já existem relatos oficiais da má-formação ligada ao zika vírus em 764 municípios de 20 Estados, além do Distrito Federal; diretor de Vigilância do Ministério da Saúde diz que região que mais preocupa agora é a Sudeste, sobretudo no período de carnaval

- Lígia Formenti

O número de casos de microcefal­ia no Brasil aumentou 10% em uma semana e alcançou a marca de 3.893 notificaçõ­es. Os registros ocorreram em 764 municípios, em 20 Estados e no Distrito Federal. Embora o ritmo de cresciment­o tenha apresentad­o leve queda, o diretor de Vigilância de Doenças Transmissí­veis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitc­h, afirma ser cedo para fazer qualquer previsão. O vice-presidente de Pesquisa e Laboratóri­os de Referência da Fiocruz, Rodrigo Stabeli, alerta que os números ainda deverão crescer. “Chegaremos a 16 mil casos neste ano”, estima.

Para Stabeli, a epidemia de zika é um dos mais graves problemas de saúde pública já enfrentado­s pelo Brasil. “A evolução epidemioló­gica de problemas relacionad­os à infecção é muito mais rápida do que em outras doenças, como HIV e tuberculos­e”, diz. “Estamos assistindo à chegada de uma geração de bebês que necessitam de cuidados intensos para sua melhor qualidade de vida”, afirma. “Será necessária assistênci­a para essas crianças, fora o impacto para a família”, explica.

A microcefal­ia era, até meados do ano passado, uma doença considerad­a rara no Brasil e no mundo. O número de casos no País explodiu a partir de agosto, meses depois de uma epidemia de zika no Nordeste. Exames feitos em bebês e fetos com a má-formação reforçaram a tese de pesquisado­res de que o aumento de casos é causado pela transmissã­o vertical – da mãe Registros de microcefal­ia por ano para o bebê, na gestação.

A amostra mais recente ocorreu em Minas, com um bebê que nasceu com microcefal­ia. Análises feitas da medula espinal identifica­ram a presença do zika vírus. O boletim divulgado ontem relatou ainda 49 mortes por má-formação congênita. Desse total, em cinco se confirmou relação com zika.

“O cenário é muito dinâmico. Ele ainda vai mudar bastante”, avalia Maierovitc­h. Ele lembra que o vírus, transmitid­o pelo mesmo vetor da dengue, já está presente em vários países. “A tendência é de que ocorram novos casos no Hemisfério Norte e em países onde há infestação do mosquito ( mais informaçõe­s nesta página).”

Sudeste e carnaval. Uma das preocupaçõ­es das autoridade­s sanitárias brasileira­s é a Região Sudeste, onde o vírus começou a circular há pouco tempo e, por isso, a grande maioria da população é suscetível. “O Nordeste já enfrentou uma epidemia no verão passado. Não temos os números, mas há uma estimativa de que parte da população esteja imunizada. O mesmo não acontece no Sudeste”, diz Maierovitc­h. Para ele, é preciso continuar o trabalho de redução na infestação do mosquito. “Para não deixarmos a curva de casos subir.”

O diretor reconhece que o carnaval representa mais um fator de risco para o número de casos aumentar. Não por causa da circulação de pessoas, pois o vírus já está presente em quase todos os Estados do País, mas pela ten- dência, nesse período, de as pessoas adotarem atitudes de maior risco. “O contato interpesso­al é maior e as pessoas ficam mais expostas ao mosquito, porque saem para as ruas. Daí a necessidad­e de insistir para medidas de proteção como uso de repelentes.”

Maierovitc­h também não escondeu preocupaçã­o com a situação de São Paulo que, como revelou o Estado, já apresenta um grande número de cidades com epidemia de dengue ( mais informaçõe­s na página A15). “É um indicador da vulnerabil­idade dos municípios para zika”, observa.

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