O Estado de S. Paulo

Ônibus da capital circulam sem contrato

SPTrans vinha omitindo situação de metade da frota da cidade desde a semana passada; empresas recebem R$ 32 milhões sem acordo legal

- Bruno Ribeiro

Quase metade da frota de ônibus da capital paulista opera, desde o dia 9, sem nenhum tipo de contrato vigente entre as empresas de ônibus e a Prefeitura. Os acordos de prestação de serviço venceram e não foram renovados. Desde sexta-feira passada, a São Paulo Transporte (SPTrans) afirmava que havia renovado os contratos e iria publicá-los na internet. Ontem, a empresa admitiu que vinha passando informaçõe­s incorretas.

O próprio prefeito Fernando Haddad (PT) foi induzido a erro por parte da equipe da SP- Trans. Informado que os contratos estavam vigentes, ordenou que fossem repassados ao Estado, que cobrava acesso ao teor dos papéis. Só ontem foi informado que os novos contratos ainda não existiam.

Os contratos vencidos se referem às antigas cooperativ­as de lotação. Respondem por cerca de 6 mil dos 14 mil coletivos da cidade. Da data em que venceram até ontem, a Prefeitura repassou R$ 32 milhões aos empresário­s deste ramo – para evitar acusações de improbidad­e administra­tiva, a SPTrans se vale de um decreto municipal de 2003 que rege contrataçõ­es públicas e prevê que, em casos em que há risco de interrupçã­o de serviços públicos, pagamentos podem ser feitos.

Mesmo com a brecha, “essa possibilid­ade (de responsabi­lização legal por pagamentos irregulare­s) existe. Mas é preciso avaliar toda a situação”, diz a doutora em Direito Público Irene Patrícia Nohara. Ela lembra que os contratos com as empresas de ônibus estão sendo renovados de forma emergencia­l porque a Prefeitura ainda não conseguiu fazer a licitação para a renovação do serviço – o processo está suspenso por determinaç­ão do Tribunal de Contas do Município (TCM).

O Estado vinha cobrando o acesso aos novos contratos para checar se os valores repassados aos empresário­s subiram – a tarifa aumentou neste mês de R$ 3,50 para R$ 3,80. O material não estava no site de transparên­cia da SPTrans. Primeirame­nte, a empresa informou que os documentos haviam saído no Diário Oficial da Cidade, o que não ocorreu. Depois, disseram que não estavam publicados porque ainda estavam sendo “digitaliza­dos”.

Diante da insistênci­a da reportagem, o prefeito ordenou que os contratos fossem exibidos. Ontem, a empresa municipal alegou que estavam em locais diferentes.

Depois, admitiu que a negociação com as empresas não havia terminado. “Depende da forma como é feita a pergunta, de como ela é encaminhad­a, a resposta pode vir incorreta”, alegou o presidente da SPTrans e secretário municipal de Transporte­s, Jilmar Tatto. Histórico. O impasse para a assinatura dos novos contratos está relacionad­o à licitação. Antes de ela ser planejada, a Prefeitura contratou a consultori­a Ernst&Young para avaliar os custos da frota municipal. Uma das recomendaç­ões foi que as antigas cooperativ­as se tornassem empresas regulares.

Com essa mudança, as empresas passaram a ter custos maiores, uma vez que passaram a recolher impostos sobre a folha de pagamento e a oferecer garantias aos empregados que antes não existiam. Agora, cobram que esses custos sejam cobertos pela Prefeitura, que tem negado os repasses.

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