O Estado de S. Paulo

Presidente e diretor são afastados da cúpula da Samarco

Ricardo Vescovi e Kleber Terra pediram licença para se dedicar à defesa, depois de indiciamen­to pela PF por crime ambiental

- Leonardo Augusto

O diretor-presidente da mineradora Samarco, Ricardo Vescovi, foi afastado do cargo, conforme comunicado divulgado pela empresa ontem. A decisão, 77 dias após a tragédia de Mariana, foi tomada pelo conselho de administra­ção da companhia, a pedido do executivo. O diretor de Operações, Kleber Terra, também foi afastado.

Vescovi, Terra e mais seis funcionári­os foram indiciados, na quarta-feira passada, pela Polícia Federal por crime ambiental em razão do rompimento da Barragem de Fundão. Dezessete pessoas morreram. Duas ainda estão desapareci­das. A lama destruiu o Distrito de Bento Rodrigues e atingiu o Rio Doce, destruindo flora e fauna até o litoral norte do Espírito Santo, onde o rio deságua.

Segundo o comunicado oficial da Samarco, “concluídas as primeiras etapas de atendiment­o emergencia­l ao acidente, os executivos acreditam que o licenciame­nto temporário é importante para que possam se dedicar às suas defesas”. A Samarco é investigad­a pelas Polícias Federal e Civil e também pelos Ministério­s Públicos Federal e Estaduais.

A Polícia Federal informou que os indiciamen­tos tinham como base a legislação ambiental que pune “causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significat­iva da flora”. A pena, em caso de condenação, vai de 6 meses a 1 ano de prisão e multa. Em nota, à época do indiciamen­to, a Samarco disse que não concordava com a posição do delegado, “por não haver conclusão sobre a perícia da barragem”.

Substituiç­ão. A empresa informou ontem que o cargo de presidente será assumido interiname­nte pelo atual diretor comercial, Roberto Carvalho. O cargo de Terra ficará com o diretor de Projetos e Ecoefici ê nci a , Maury de Souza Junior, que pas- sa a acumular as funções.

Em uma de suas últimas atividades à frente da empresa antes do afastament­o, Vescovi participou anteontem de reunião em Belo Horizonte com o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e representa­ntes dos governos de Minas e do Espírito para discutir ação judicial no valor de R$ 20 bilhões movida contra a Samarco e suas controlado­ras, Vale e BHP Billiton.

Na reunião ficou acertado que um total de R$ 2 bilhões que deveria ser depositado pela Samarco ontem, para início do plano de recuperaçã­o ambiental da região atingida pela lama, poderá ser repassado somente daqui a 15 dias.

A mineradora e seus acionistas, Vale e BHP Billiton, informaram também que foram definidos, anteontem, os grupos de trabalho para atuação imediata para negociar com as autoridade­s federais e estaduais um acordo para recuperaçã­o da bacia do Rio Doce.

“O objetivo é estabelece­r os termos para executar os planos de recuperaçã­o com eficiência e transparên­cia”, informou a Vale, em nota. As companhias pretendem, dessa forma, evitar que a questão avance na Justiça.

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MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO-11/11/2015 Apuração. Passados 77 dias de rompimento de barragem em Mariana, Vescovi sai do cargo
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