O Estado de S. Paulo

Moradores da Vila reclamam de blocos não oficiais

No fim de semana, grupos pré-carnavales­cos atrapalhar­am passagem de pedestres e motoristas; Prefeitura diz que desfile precisa de licença especial

- Paula Felix

A temporada oficial do carnaval de rua de São Paulo só vai começar no dia 29, mas a passagem de blocos pela Vila Madalena, na zona oeste, já traz transtorno­s para os moradores. Eles reclamam que, no fim de semana passado, grupos atrapalhar­am a passagem de pedestres e motoristas. Além disso, relatam que uma loja foi depredada na madrugada de segunda-feira.

A festa tem causado polêmica no bairro por atrair grande número de foliões, algo que se intensific­ou após a Copa do Mundo, em 2014. No ano passado, até bombas de efeito moral foram usadas pela Polícia Militar durante a dispersão do público.

Dona da loja Borogodó do Brechó, a empresária Erika Nigro, de 42 anos, afirma que ficou assustada ao se deparar com a porta do comércio totalmente destruída. “Acredito que jogaram uma pedra, que quebrou a porta de vidro. A loja estava toda aberta, mas ninguém chegou a entrar. O alarme não disparou. Vou ficar uns dez dias sem a porta original.”

Erika ainda está fazendo orçamento para a compra de uma nova porta e não soube calcular o prejuízo. “É o meu primeiro ano na Vila ( Madalena) e foi um susto tremendo. Isto é vandalismo. Qual é o prazer de destruir?”, indaga.

Para enfrentar o período, ela pretende investir em mudanças no local. “Como o carnaval está muito pesado, estou pensando em colocar um tapume de três metros na frente da loja. Ainda tenho de ver como funciona, mas até penso em colocar um banheiro químico e ter alguém para cuidar deles. Vai ser um prejuízo.”

Representa­nte do grupo de moradores e comerciant­es SOSsego Vila Madalena, Tom Green, de 50 anos, diz que faltou fiscalizaç­ão de agentes da Prefeitura na região durante a passagem dos blocos. “São atividades não oficiais, que não foram autorizada­s. Tivemos problema de fiscalizaç­ão de ambulantes e havia muitos carros estacionad­os, que fecharam a Rua Fidalga no domingo à noite. O barulho foi até as 4 horas da madrugada. É uma situação difícil para nós”, ressalta.

Green diz que os moradores têm levado queixas para a Prefeitura e para o Ministério Público e espera que o carnaval seja mais tranquilo do que nas edições anteriores. “Ninguém está contra o carnaval, mas queríamos algo tradiciona­l, por causa do impacto que estamos tendo todos os anos.”

Um dos blocos, chamado Pimentas do Reino, teria desfilado após participar de uma festa fechada realizada no sábado. Proprietár­ia da casa Jongo Reverendo, Adriana Carvalhaes, de 45 anos, diz que os integrante­s se apresentar­am na casa. “Às 16 horas, eles saíram para a rua, por conta e risco deles. Não tenho autoridade para proibir.” A reportagem buscou contato com o bloco pelas redes sociais, mas não obteve retorno.

Temporário. Em nota, a Secretaria Municipal de Cultura afirma que os desfiles fora de época não são irregulare­s, mas precisam de uma licença especial. “Os blocos que optarem por desfilar fora do período oficial não são proibidos de fazê-lo. Entretanto, serão licenciado­s como eventos temporário­s em logradouro­s públicos e deverão custear as taxas municipais correspond­entes e tomar todas as

Sem controle devidas precauções.”

Em dezembro do ano passado, a Prefeitura anunciou que grandes blocos não poderão desfilar na Avenida Sumaré e o número de desfiles na região será reduzido. Apresentaç­ões de maior porte, como as com uso de trio elétrico, serão realizadas no Parque do Ibirapuera, na zona sul da cidade. A temporada de carnaval de rua se encerra no dia 14 de fevereiro.

“A Prefeitura não é a promotora do carnaval de rua, mas organiza os serviços para tornar a experiênci­a o mais confortáve­l e organizada possível, tanto para foliões quanto para moradores”, afirma a pasta, que diz dialogar com moradores e comerciant­es desde o ano passado.

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ALEX SILVA/ESTADÃO Borogodó do Brechó. Proprietár­ia encontrou porta destruída e pensa em instalar tapume

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