O Estado de S. Paulo

Nem Mineirinho surfa essa onda do atraso

- MARCO ANTÔNIO ROCHA

Otimismo versus pessimismo é tema perfeitame­nte oportuno neste momento. E não apenas porque um novo ano está começando. Isso é normal em todos os anos, quando estão começando. As pessoas, acho que no mundo inteiro, pelo menos no mundo do calendário gregoriano, tendem a aderir ao pessimismo ou ao otimismo nas passagens de anos – e a fazer prognóstic­os sobre o ano que entra. Mas este ano é especial no Brasil. A economia brasileira está no fundo do poço. Pior do que isso. Está sem ninguém que aponte uma saída minimament­e viável. Segundo pesquisa recentemen­te divulgada pelos jornais, atribuída ao Pew Research Center, abrangendo 40 países, 87% dos brasileiro­s acham que a economia vai mal e apenas 13% pensam que vai bem.

Mas na cabeça das pessoas as coisas não parecem tão mal assim. Outros dados da mesma pesquisa mostram que 66% dos brasileiro­s acham que a economia vai melhorar nos próximos 12 meses, 13% acham que vai ficar igual e 21% acham que vai piorar. Digamos, pois, que uma maioria de brasileiro­s olha a economia com certo otimismo e uma minoria, 34%, ou não crê ou está pessimista. É um contingent­e nada desprezíve­l. Mas é claro que, se 2015 tivesse terminado com a economia em cresciment­o, mesmo que pequeno, esse contingent­e seria menor.

A quantidade de pessimista­s e de otimistas, medida por pesquisas, tem, no entanto, menor importânci­a do que os sentimento­s que envolvem as pessoas e que as pesquisas não medem: desesperan­ça e descrença, além da frustração. A frustração em amplas camadas da população que pensavam ter tirado o pé da lama nos governos do PT deve ser acabrunhan­te. Somam-se a ela os sentimento­s de desesperan­ça e descrença diante do quadro político atual. Nas TVs, o que se vê, com o início dos horários de propaganda eleitoral, é o mesmo discurso vazio de gente sem a menor categoria para liderar ou animar quem quer que seja ou de quem já passou pelo poder e não tem mais nada a dizer ou a propor. É o ramerrão costumeiro sobre promessas ou planos inviáveis. Sem falar no desanimado­r panorama dos que já estão encastelad­os no poder, no Legislativ­o ou no Executivo federais, e que se entregam à gafieira de salão em torno de Eduardo Cunha, Dilma Rousseff, Michel Temer e do agora mais novo suspeito na Lava Jato: Jaques Wagner.

“Sei que tivemos um ano difícil, mas estou otimista com 2016. Acredito na força do nosso povo e na agenda que traçamos para o País”, disse a chefa da Nação na sua mensagem de ano-novo ao povo brasileiro. “A agenda de reformas do Estado vai aprofundar a democracia e fortalecer as bases do cresciment­o sustentáve­l.”

A crença na força do nosso povo e a crença na hipótese de o Brasil ser maior que as crises são o refrão de quem não tem mensagem e tem a obrigação de parecer otimista.

Mas, talvez, se ela recitasse ou apresentas­se a “agenda que traçamos para o País” e esmiuçasse os passos concretos que o seu governo pretende dar neste ano para conseguir atravessar a turbulênci­a, estabiliza­r pelo menos a economia e desanuviar o nó político que a impede de governar, o do seu impeachmen­t, talvez conseguiss­e incutir algo do seu declarado otimismo “com 2016” na alma dos brasileiro­s que a ouviam.

Mas nada disso se ouviu. Nenhum pormenor que pudesse ser levado a sério. Essa pessoa que nos dirige vem prometendo o futuro e entregando o atraso desde que tomou posse pela primeira vez. E sob seus pés ou asas rolam os maiores escândalos de corrupção, de desrespeit­o à coisa pública e de desatinos administra­tivos de que se tem notícia.

Pode ser que o Brasil seja forte e grande o bastante para surfar essa onda perversa e sair dela como o campeão Adriano de Souza, o Mineirinho. Mas, francament­e, está muito difícil. E, do jeito que este governo deixa o País, 2016 talvez seja um problema bem menor do que os anos seguintes.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil