Em Davos, Barbosa defende mais crédito
A investidores, ministro diz que crescimento da economia pode voltar no 2º semestre deste ano
Mesmo com a percepção do sistema bancário de que não há demanda pelo crédito em um momento de baixa confiança na economia, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, reafirmou o plano de adotar medidas para incentivar novos financiamentos. O ministro, que tem ligação histórica com o PT, reconheceu a importância da opinião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a economia, mas repetiu discurso de que o governo já tem agido para sair da crise.
“Vamos levar o cavalo à água para ver se ele quer bebê-la”, disse ao comentar a estratégia para o crédito, mencionando ditado que afirma que você pode levar o cavalo à água, mas não pode forçá-lo a beber. Nos bancos, o ditado é usado para explicar que não basta oferecer crédito se os clientes não querem tomá-lo. Segundo um dos muitos ouvintes de Barbosa em seu dia de estreia no Fórum Econômica Mundial, em Davos, o crédito “foi o único ponto heterodoxo do discurso do ministro”.
O plano do governo, explicou Barbosa, é direcionar o crédito novo para segmentos que podem sofrer com eventual gargalo. “O principal foco de demanda que existe é no capital de giro para, principalmente, agricultura e construção civil e para infraestrutura urbana e saneamento. Além de pequenas empresas, que têm acesso difícil ao crédito”, completou.
O apoio à oferta de mais crédito coincide com parte do receituário sugerido por Lula em entrevista a blogueiros na quartafeira. “São opiniões de uma liderança importante do Brasil que nós também ouvimos”, disse Barbosa. Apesar de reconhecer a importância da liderança do PT, Barbosa preferiu centrar o discurso nas medidas já adotadas como o reequilíbrio fiscal e as reformas estruturais, como a da Previdência.
Barbosa, até mesmo, defendeu que o governo trabalha para colocar o mercado de crédito “de volta à situação normal pré2008”. Ou seja, antes das medidas adotadas pelo ex-presiden- te Lula. “Vai voltar a ser como era antes da crise internacional. É o BNDES oferecendo financiamento sem equalização de juros, o FGTS oferecendo uma linha que funcione, e também com o crédito agrícola (do Banco do Brasil) que pode ser melhor aproveitado”, prometeu. “Tudo isso sem custo fiscal para os contribuintes.”
Para o ministro, “é dever do governo usar de forma mais efi- ciente todas as ferramentas que tem”. De forma geral, a mensagem aos investidores e executivos em Davos foi de reequilíbrio macroeconômico e estabilização da economia, com medidas macro e outras visando mercados específicos.
Realismo. Ele previu que a economia possa ter uma retomada já no segundo semestre, o que não significa que o número para
Retorno o ano será positivo. O ministro chamou a atenção para como a volatilidade atual torna incertas as previsões, notando que a previsão de crescimento zero do Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2017 é pior que a média do mercado brasileiro, que projeta algo ligeiramente positivo. “Projeções são apenas projeções. Trabalhamos para melhorar o resultado da economia e nossas proje- ções também são realistas.”
Barbosa relatou que, em seus contatos com o público de Davos, enfatizou tudo o que foi prometido no início do segundo mandato de Dilma pelo antecessor Joaquim Levy no mesmo fórum há um ano e que foi de fato cumprido: mudanças no seguro-desemprego, nas pensões por morte e no abono salarial, correção de preços básicos, revisão dos subsídios fiscais e financeiros, como o fim do PSI do BNDES e o reajuste da energia.
Ele notou que “se avançou na direção correta, na velocidade que foi possível avançar, porque várias dessas decisões têm de ter aprovação política”. Barbosa disse ainda que, com a aprovação das medidas no Congresso – referência, por exemplo, à CPMF – o ajuste fiscal seria concluído e passa-se então para a etapa de “reforma fiscal”, que aborda a trajetória do gasto público.
Ainda em relação à CPMF, disse que era um dever do governo convencer congressistas e sociedade que se trata de um instrumento de poupança para atravessar a difícil fase fiscal enquanto reformas mais estruturais do gasto não são aprovadas. “Sem esse aumento temporário da receita, a economia vai demorar mais para se recuperar.”