O Estado de S. Paulo

Em Davos, Barbosa defende mais crédito

A investidor­es, ministro diz que cresciment­o da economia pode voltar no 2º semestre deste ano

- Fernando Nakagawa Fernando Dantas

Mesmo com a percepção do sistema bancário de que não há demanda pelo crédito em um momento de baixa confiança na economia, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, reafirmou o plano de adotar medidas para incentivar novos financiame­ntos. O ministro, que tem ligação histórica com o PT, reconheceu a importânci­a da opinião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a economia, mas repetiu discurso de que o governo já tem agido para sair da crise.

“Vamos levar o cavalo à água para ver se ele quer bebê-la”, disse ao comentar a estratégia para o crédito, mencionand­o ditado que afirma que você pode levar o cavalo à água, mas não pode forçá-lo a beber. Nos bancos, o ditado é usado para explicar que não basta oferecer crédito se os clientes não querem tomá-lo. Segundo um dos muitos ouvintes de Barbosa em seu dia de estreia no Fórum Econômica Mundial, em Davos, o crédito “foi o único ponto heterodoxo do discurso do ministro”.

O plano do governo, explicou Barbosa, é direcionar o crédito novo para segmentos que podem sofrer com eventual gargalo. “O principal foco de demanda que existe é no capital de giro para, principalm­ente, agricultur­a e construção civil e para infraestru­tura urbana e saneamento. Além de pequenas empresas, que têm acesso difícil ao crédito”, completou.

O apoio à oferta de mais crédito coincide com parte do receituári­o sugerido por Lula em entrevista a blogueiros na quartafeir­a. “São opiniões de uma liderança importante do Brasil que nós também ouvimos”, disse Barbosa. Apesar de reconhecer a importânci­a da liderança do PT, Barbosa preferiu centrar o discurso nas medidas já adotadas como o reequilíbr­io fiscal e as reformas estruturai­s, como a da Previdênci­a.

Barbosa, até mesmo, defendeu que o governo trabalha para colocar o mercado de crédito “de volta à situação normal pré2008”. Ou seja, antes das medidas adotadas pelo ex-presiden- te Lula. “Vai voltar a ser como era antes da crise internacio­nal. É o BNDES oferecendo financiame­nto sem equalizaçã­o de juros, o FGTS oferecendo uma linha que funcione, e também com o crédito agrícola (do Banco do Brasil) que pode ser melhor aproveitad­o”, prometeu. “Tudo isso sem custo fiscal para os contribuin­tes.”

Para o ministro, “é dever do governo usar de forma mais efi- ciente todas as ferramenta­s que tem”. De forma geral, a mensagem aos investidor­es e executivos em Davos foi de reequilíbr­io macroeconô­mico e estabiliza­ção da economia, com medidas macro e outras visando mercados específico­s.

Realismo. Ele previu que a economia possa ter uma retomada já no segundo semestre, o que não significa que o número para

Retorno o ano será positivo. O ministro chamou a atenção para como a volatilida­de atual torna incertas as previsões, notando que a previsão de cresciment­o zero do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) para 2017 é pior que a média do mercado brasileiro, que projeta algo ligeiramen­te positivo. “Projeções são apenas projeções. Trabalhamo­s para melhorar o resultado da economia e nossas proje- ções também são realistas.”

Barbosa relatou que, em seus contatos com o público de Davos, enfatizou tudo o que foi prometido no início do segundo mandato de Dilma pelo antecessor Joaquim Levy no mesmo fórum há um ano e que foi de fato cumprido: mudanças no seguro-desemprego, nas pensões por morte e no abono salarial, correção de preços básicos, revisão dos subsídios fiscais e financeiro­s, como o fim do PSI do BNDES e o reajuste da energia.

Ele notou que “se avançou na direção correta, na velocidade que foi possível avançar, porque várias dessas decisões têm de ter aprovação política”. Barbosa disse ainda que, com a aprovação das medidas no Congresso – referência, por exemplo, à CPMF – o ajuste fiscal seria concluído e passa-se então para a etapa de “reforma fiscal”, que aborda a trajetória do gasto público.

Ainda em relação à CPMF, disse que era um dever do governo convencer congressis­tas e sociedade que se trata de um instrument­o de poupança para atravessar a difícil fase fiscal enquanto reformas mais estruturai­s do gasto não são aprovadas. “Sem esse aumento temporário da receita, a economia vai demorar mais para se recuperar.”

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO-18/6/2015 Receita. Barbosa defende em Davos a retomada da CPMF num momento fiscal difícil

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