Comércio entre países da América Latina caiu 21% em 2015
Estudo da Cepal aponta que os países mais fechados da região continuam sendo os que compõem o Mercosul
A evasão fiscal chega a US$ 320 bilhões anuais nos países latino-americanos, segundo a secretária executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Alicia Barcena. O dinheiro enviado ilegalmente ao exterior soma US$ 150 bilhões por ano. O estudo com esses dados e informações detalhadas por país ainda será publicado pela organização.
A secretária Alicia Barcena coordenou ontem à tarde, no Fórum Econômico Mundial, um painel sobre transformações na região. Ela mesma contribuiu com um dado importante para mostrar a baixa integração econômica na região. No ano passado, enquanto o comércio exterior latino-americano diminuiu 14%, as trocas intrarregionais encolheram 21%.
Os países mais fechados da América Latina continuam sendo os do Mercosul e sua negociação mais ambiciosa – com a União Europeia – continua emperrada. O próximo passo deve ser a troca de ofertas entre os dois blocos. Mas a troca só ocorrerá se os dois lados apresentarem suas propostas ao mesmo tempo, disse ontem a ministra de Relações Exteriores da Argentina, Susana Malcorra, numa entrevista depois do painel.
Os governos do Mercosul, explicou a ministra, só levarão adiante a discussão quando os europeus esclarecerem suas intenções em relação ao comércio de produtos agropecuários. A decisão de só apresentar a proposta quando a União Europeia puser sua oferta sobre a mesa já havia sido indicada pelo governo brasileiro. Segundo fontes europeias, a abertura comercial oferecida pelo Mercosul – oficialmente ainda mantida sob reserva – é inferior aos padrões previstos na negociação.
Embora os dois governos tenham decidido unir-se para manter o impasse com a União Europeia, a ministra argentina reafirmou a disposição, anunciada pelo recém-eleito presidente Mauricio Macri, de trabalhar pela dinamização do Mercosul, com eliminação das bar- reiras entre os países do bloco e maior empenho na busca de acordos com mercados relevantes. O bloco tem poucos acordos de livre-comércio, e só com economias em desenvolvimento, algumas com pouca presença nos mercados internacionais.
Dependência. Além de pouco integrados entre si, os latinoamericanos, com exceção do México, são muito dependentes da exportação de commodities – matérias-primas e produtos pouco elaborados. Todos foram afetados pela queda dos preços das commodities, determinada em grande parte pela desaceleração da economia chinesa. O Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu no ano passado 6,9%, segundo informação oficial divulgada nesta semana. Pela primeira vez, em mais de 20 anos, a variação anual ficou abaixo de 7,0%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê para a economia chinesa taxas de expansão de 6,3% neste ano e de 6,0% no próximo.
O baixo crescimento da segunda maior potência econômica do mundo e principal importadora das commodities latinoamericanas é mais um sinal – reconhecido pelos participantes do painel – da urgência de mudança do padrão comercial da região. No caso do Brasil, a dependência excessiva de exportações de produtos básicos e, portanto, da demanda chinesa, resulta de uma decisão política formulada em 2003, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu dar prioridade à integração comercial com os países emergentes, enquanto os governos de vários outros emergentes, incluída a China, davam atenção preferencial aos mercados mais desenvolvidos.
Apesar das dificuldades comerciais, os participantes do painel mostraram otimismo em relação a mudanças na região, com destaque para a derrota do kirchnerismo na Argentina, a vitória da oposição na eleição para o Legislativo na Venezuela e a expectativa de acordo entre Estado e a guerrilha na Colômbia.