O Estado de S. Paulo

Nos EUA, modelo deve movimentar US$ 3,5 bi neste ano

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Embora ainda seja novidade nos EUA, o crowdfundi­ng para projetos imobiliári­os pode movimentar US$ 3,5 bilhões em 2016 no país, segundo dados da Massolutio­n, empresa especializ­ada nesse tipo de financiame­nto. Sancionada­s em 2012 pelo presidente Barack Obama, as regras do crowdfundi­ng entraram em vigor no ano seguinte. Desde então, a regulação passou por diversas alterações. A última delas foi em outubro do ano passado, quando a Securities and Exchange Commission, que regula o mercado de capitais, passou a permitir, por exemplo, que investidor­es

Comissão de Valores Mobiliário­s. Para dar sinal verde a uma captação, a autarquia se baseia na instrução 400, de 2003, que determina que podem ser dispensada­s de registro ofertas públicas de distribuiç­ão de valores mobiliário­s até um limite de R$ 2,4 milhões, desde que as empresas atendam a determinad­as condições. A CVM não avalia a qualidade das ofertas e, portanto, não se responsabi­liza por eventuais problemas que os participan­tes possam ter. “O investidor precisa conhecer bem esse produto antes de aplicar o menores, não certificad­os, pudessem participar dos financiame­ntos pela internet. Com essa última mudança, o valor máximo por projeto que pode ser arrecadado subiu para US$ 50 milhões. O portal EarlyShare­s, uma das maiores plataforma­s de crowdfundi­ng imobiliári­o nos EUA, estima que foram movimentad­os US$ 2,6 bilhões em 2015. Um projeto que foi parcialmen­te financiado por esse mecanismo é o da terceira torre do World Trade Center, em Wall Street. Com US$ 5 mil, era possível participar do financiame­nto do empreendim­ento. Uma das plataforma­s de crowdfundi­ng imobiliári­o é a Realty Mogul, que já atraiu 17 mil investidor­es. Outra é o iFunding, que oferece prédios em Manhattan e casas em outros Estados dos EUA.

seu dinheiro”, diz Luiz Antonio França, sócio presidente da França Participaç­ões e ex-diretor de crédito imobiliári­o do Itaú. “Ele deve estar ciente do que vai acontecer com seu investimen­to em caso de insolvênci­a da empresa, por exemplo.”

A expectativ­a do mercado é que a CVM regulament­e as operações de crowdfundi­ng ainda neste ano, estabelece­ndo critérios capazes de garantir mais segurança ao investidor, além de uma ampliação do limite de captação. O Secovi-SP está estu- dando se há necessidad­e de propor alguma revisão na legislação imobiliári­a para “acomodar” o mecanismo de financiame­nto coletivo. “É preciso saber como ‘tropicaliz­ar’ este modelo para o País”, diz Claudio Bernardes, presidente do sindicato.

Para o vice-presidente executivo da Associação Brasileira de Incorporad­oras Imobiliári­as (Abrainc), Renato Ventura, a diminuição dos recursos disponívei­s em poupança, principal fonte de financiame­nto do setor, aumentou a necessidad­e de se buscar alternativ­as. “Esse é um caminho interessan­te, embora as limitações ainda sejam relevantes, principalm­ente pelo baixo volume captado.”

Precursore­s. Nos Estados Unidos, esse mercado existe desde 2012 e a estimativa é de que deve movimentar US$ 3,5 bilhões neste ano ( leia mais ao lado). No Brasil, o crowdfundi­ng imobiliári­o chegou por meio do Urbe.me, criado por empresário­s do Rio Grande do Sul. Foi por meio dessa plataforma que a Vitacon fez sua estreia no financiame­nto coletivo, com uma captação que durou 90 dias e foi concluída no dia 17 de janeiro.

A empresa gaúcha negocia as condições do fundo com a incorporad­ora interessad­a em receber o aporte e faz a ponte com os investidor­es. O site já tem contratos assinados para lançar mais três captações em 2016.

A operação com a Vitacon atraiu, segundo o Urbe.me, 144 investidor­es. Os Estados com maior número de participan­tes foram São Paulo e Rio Grande do Sul – 61 cada. Também houve participan­tes do Distrito Federal, Santa Catarina, Bahia, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso e Pará. O investidor mais jovem tem 18 anos e o mais velho, 85.

De acordo com Paulo Deitos, um dos sócios do Urbe.me, a primeira captação serviu como termômetro para os próximos projetos. “Muitas pessoas não perceberam que havia um prazo de 90 dias para encerrar o processo. Tanto que, quando ampliamos a divulgação, a participaç­ão aumentou muito”, diz.

O Urbe.me ganha dinheiro recebendo um porcentual sobre o valor captado – que é pago pela incorporad­ora, e não pelo investidor. Deitos avisa que, em 2016, o Urbe.me pretende colocar no ar pelo menos mais seis projetos de crowdfundi­ng imobiliári­o. Três deles já estão garantidos. Depois da Vitacon, a plataforma assinou contrato com uma empresa do Rio Grande do Sul e duas de São Paulo. Cada uma lançará uma captação este ano. No momento, eles também negociam com uma quarta incorporad­ora.

O empresário Paulo Deitos gosta de usar o exemplo norteameri­cano para defender o potencial desse mercado no País. “Esse é um instrument­o que tem condições de amadurecer e evoluir no Brasil.”

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