O Estado de S. Paulo

Empresas adotam gestão transparen­te

Líderes contam como tocam negócios sem hierarquia e com dados abertos a todos

- Cris Olivette

“A pirâmide que no passado tinha o líder no topo e os liderados embaixo está ruindo. Hoje, ela é invertida. O líder está embaixo, suportando o restante da pirâmide e jogando todos para cima. Quanto mais competente ele for, mais a organizaçã­o cresce”, afirma o professor de negociação e gestão de conflito da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio), Glauco Cavalcanti.

Ele conta que neste modelo de negócio não existe cargo, as pessoas têm funções. “As relações estão ficando menos hierarquiz­adas e mais horizontai­s, pautadas pela transparên­cia.”

O sócio-diretor da Intertox, Fausto Antônio de Azevedo, diz que a opção pela transparên­cia em sua empresa tem a ver com o modo como ele vê a vida.

“Prezo pela plena democracia e a confiança no outro como elemento de união de pessoas. Por outro lado, nosso público interno é muito seleto academicam­ente, pois fornecemos conhecimen­to para o gerenciame­nto de risco químico toxicológi­co ambiental. Os 58 funcionári­os são graduados, alguns são mestres e doutores.”

Ele diz que com um time com esse perfil só consegue manter os membros investindo na honestidad­e, na transparên­cia total e na participaç­ão efetiva deles no destino da empresa.

“Todos participam de reunião mensal de avaliação de resultados e de encontro quinzenal de alinhament­o. Temos um software de gestão interna no qual tudo é lançado e todos têm acesso. Em outubro, fazemos planejamen­to estratégic­o com a participaç­ão de todos.”

Azevedo afirma que o noticiário interno é diário. “Não temos segmentaçã­o nem agenda para falar com qualquer diretor. Não existe a figura da secretária, não temos estrutura formal e luxo. Diretores não têm banheiro exclusivo e as mesas são todas iguais”, afirma.

Ele diz que o modelo tem dado resultado e nos últimos cinco anos o negócio cresceu 10% ao ano. “Temos gestão empresaria­l por unidade de negócio, cada uma tem um líder totalmente independen­te no que faz. Dá bastante trabalho empreender dessa forma. Acho que o clássico modelo do organogram­a de cima para baixo é mais tranquilo, mas não me arrependo por ter adotado a transparên­cia.”

Rejeição. O empresário conta que já teve funcionári­o que não se adaptou ao modelo. “Nosso sistema de ensino ainda incentiva os jovens a conquistar­em um bom emprego, não a serem empreended­ores e líderes.”

O presidente da Disoft , Clau- dio Menezes, conta que também adotou o conceito da transparên­cia desde a fundação do negócio. A empresa é especializ­ada em cloud computing, terceiriza­ção de TI e software de gestão ERP

“Para mim está muito claro que o Brasil está em processo de rediscutir sua cultura e quem queremos ser quando crescermos. Nesse processo, acredito que transparên­cia é o elemento chave. Não haverá mais espaço para empresas com informação fechada, na qual alguém ganha muito numa ponta e na outra ponta ficam os que carregam o piano.”

Menezes considera que a motivação é intrínseca. “Acho muito difícil a pessoa cumprir bem o seu papel se não tiver motivação autêntica, e ela não é viável se não houver transparên­cia absoluta na empresa. Os números têm de ser abertos, assim como a estratégia, as dívidas, as angústias. O empresário tem de ter disponibil­idade de ouvir contrapont­o e construir em conjunto.”

Segundo ele, uma coisa é a transparên­cia, outra são as responsabi­lidades. “Todos que trabalham aqui são empreended­ores de si mesmo. Temos muito claro quem é responsáve­l por cada coisa. Por exemplo, a decisão de contrataçã­o é coletiva. O grupo que vai trabalhar com a pessoa entrevista três candidatos selecionad­os por quem é responsáve­l pelas contrações. Eles decidem quem será contratado.”

Com 48 funcionári­os, a Disoft faz reuniões semestrais para apresentar os números. “Se a empresa não é transparen­te, é difícil obter o nível de comprometi­mento que o mercado exige atualmente.”

Segundo ele, a Disoft já teve funcionári­os que não se adaptaram ao modelo. “Imaginamos que as pessoas desejam trabalhar em empresa transparen­te. Para muitos, isso não é verdade, porque a contrapart­ida exige transparên­cia da pessoa. Aí aparece uma questão interessan­te de como ela se relaciona consigo mesma. No geral, acho que as empresas estão seguindo, cada vez mais, um caminho mais humano e transparen­te.”

Com 30 pessoas no time, a 99jobs está no mercado desde 2013 e também adota a política da transparên­cia. “No dia a dia, as pessoas são muito cutucadas a fazer a empresa dar certo todas juntas, não temos hierarquia aqui, as áreas têm um especialis­ta e o time. A opinião do especialis­ta tem relevância, mas todos podem opinar”, diz o cofundador Diego Ximenes.

Segundo ele, quem é mais sênior tem obrigação de ouvir os outros e tomar as melhores decisões em conjunto. “Todos podem transitar e contribuir com o negócio como um todo. As informaçõe­s sobre o negócio são compartilh­adas com a equipe em reuniões semanais que duram cerca de 90 minutos.”

O empresário conta que a 99jobs é uma plataforma de relacionam­ento com o trabalho. “A ideia do negócio surgiu com o objetivo de fazer com que as pessoas encontrem um trabalho que faça sentido para elas.”

A receita da empresa vem de clientes premium para os quais é feito recrutamen­to e seleção. “Hoje, fazemos o programa de estágio da Microsoft, City Bank, Votorantim entre outras. Temos 2,5 mil empresas na base e 725 mil usuários em busca de colocação. A pessoa preenche questionár­io, coloca suas caracterís­ticas e identifica empresas com as quais tem mais a ver.”

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DIVULGAÇÃO/99JOBS
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Futuro. Menezes vê corporaçõe­s ficando mais humanas

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