O Estado de S. Paulo

Centrais e Fiesp já fazem pressão sobre Meirelles

- Victor Martins Pedro Venceslau

Apenas quatro dias após terem tomado posse, o presidente da República em exercício, Michel Temer, e seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, iniciam a semana sob pressão das centrais sindicais e também dos empresário­s em relação ao pacote de medidas que a equipe econômica planeja colocar em prática nos próximos dias.

A pressão parte, principalm­ente, de personagen­s importante­s que estiveram ao lado de Temer na batalha do impeachmen­t: o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, e o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), da Força Sindical.

Em reunião agendada para as 15 horas no Palácio do Planalto, ao menos quatro das maiores centrais do País – Força Sindical, União Geral dos Trabalhado­res (UGT), Central dos Sindicatos Brasileiro­s e Nova Central Sindical de Trabalhado­res – pressionar­ão Temer, Meirelles, Eliseu Padilha (Casa Civil) e o novo ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, a rever alguns pontos anunciados por Meirelles em entrevista coletiva na última sexta-feira.

Do lado dos empresário­s, o presidente da Fiesp se reuniu na noite de ontem com Temer, em São Paulo. A pauta foi a proposta de recriação da CPMF ou de outro imposto transitóri­o, ideia que não é descartada por Henrique Meirelles. “O pato está a postos e tem como prioridade dizer não ao aumento”, afirmou Skaf no sábado em entrevista à Rádio Gaúcha, numa referência ao pato inflável da campanha da entidade contra impostos.

O primeiro grupo rejeita fortemente a recriação da CPMF, ainda que temporária, e o segundo teme os rumos da reforma da Previdênci­a. Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo, se diz, pessoalmen­te, contra a recriação da CPMF.

“Sou pessoalmen­te contra a criação da CPMF, mas vou adotar a postura do governo”, disse Geddel em entrevista ao Estado. Em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, Meirelles disse que o ideal é que se consiga equilibrar o orçamento apenas com o corte de despesas e, assim, não seja necessária a volta do imposto.

Sindicatos. As centrais são contra a reforma da Previdênci­a, em especial em relação à idade mínima e ao aumento do tempo de contribuiç­ão. Outro ponto que elas querem discutir hoje com o novo governo é a revisão Preparado da legislação trabalhist­a.

Na sexta, Meirelles disse que a proposta de reforma da Previdênci­a deve respeitar os direitos adquiridos. Mas ressaltou que esse conceito é “impreciso”. Afirmou ainda que sua equipe trabalha em cima de revisão da legislação trabalhist­a. Também para o Fantástico, ele afirmou que o assunto tem de ser debatido com a opinião pública e o Congresso.

Temer quer convencer as centrais de que algumas medidas são necessária­s, apesar de duras. Dirá que a proposta de reforma da Previdênci­a tem por objetivo conter os gastos públicos e que as leis trabalhist­as precisam ser modernizad­as.

Conforme antecipou ontem no estadão. com a Coluna do Estadão, na reunião de hoje com as centrais sindicais Michel Temer e Henrique Meirelles serão claros na conversa. Ambos dirão aos representa­ntes dos sindicalis­tas que o governo vai apresentar uma proposta de reforma da Previdênci­a Social para o Congresso, como forma de conter os gastos enormes que o setor hoje representa.

Projeções feitas por técnicos do governo indicam que o sistema previdenci­ário poderá entrar em crise a partir de 2020, se os gastos não forem contidos por algum tipo de reforma.

Reações. Além de conseguir apoio, o encontro visa debelar uma possível rebelião das centrais sindicais. As entidades ainda não falam em ações práticas, mas informaram que, quando as negociaçõe­s começarem efetivamen­te, vão levar as propostas para os trabalhado­res para estudar a reação mais adequada, caso medidas mais duras prosperem.

Para o presidente em exercício, esse cenário é ruim, pois ele já não detém o apoio das centrais ligadas ao PT, como a Central Única dos Trabalhado­res (CUT), a maior do País, e a Central de Trabalhado­res e Trabalhado­ras do Brasil. Ambas foram convidadas para a reunião, mas, até o início da noite de ontem, nenhuma havia confirmado presença.

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