O Estado de S. Paulo

PT diverge sobre tom da oposição a governo Temer

Volta da CPMF e proposta de antecipar a eleição presidenci­al dividem partido, que reunirá Executiva e Diretório

- Vera Rosa /

A cúpula do PT está dividida sobre o tom da estratégia de oposição ao governo comandado por Michel Temer. À procura de uma bandeira que vá além do discurso do “golpe” contra Dilma Rousseff, afastada da Presidênci­a por até 180 dias, o comando petista pode apoiar até mesmo a proposta de antecipaçã­o das eleições presidenci­ais, mas ainda há divergênci­as sobre o rumo a seguir.

O PT também abriga diferentes posições sobre a forma de tratar, a partir de agora, projetos que sempre defendeu, como a recriação da Contribuiç­ão Provisória sobre Movimentaç­ão Financeira (CPMF). A intenção de reeditar a CPMF como “imposto temporário” foi anunciada na sexta-feira pelo novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

“Nada do que vier desse governo ilegítimo será aprovado por nós. Faremos oposição fer- renha”, afirmou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Nem todos, porém, têm a mesma opinião. “Em princípio, o que nós defendíamo­s antes, continuare­mos defendendo. Se os recursos da CPMF forem vinculados à saúde, a proposta pode ter nosso apoio. Sou favorável a isso”, disse o ex-líder do governo no Senado Humberto Costa (PTPE), que foi ministro da Saúde no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

O modelo da oposição petista será discutido hoje, na reunião da Executiva do partido, e também amanhã, quando haverá encontro do Diretório Nacional, em Brasília, com a presença de ex-ministros, governador­es e prefeitos. Lula foi convidado, mas ontem informou que não poderá comparecer.

Antes de o impeachmen­t ser aprovado pelo Senado, em primeira votação, Dilma chegou a cogitar a possibilid­ade de enviar ao Congresso uma Propos- ta de Emenda Constituci­onal (PEC) para encurtar o seu mandato. Seria uma tentativa de fazer um aceno para o diálogo com outras forças e, ao mesmo tempo, de “emparedar” Temer.

Recuo. Dilma desistiu de enviar a proposta porque a CUT e o MST foram contrários à ideia. Agora que ela não tem mais a caneta na mão, uma ala do PT quer avalizar uma proposta em tramitação no Senado, que prevê eleições presidenci­ais em outubro, mês das disputas municipais.

A chance de aprovação de um projeto assim é remota, mas correntes do PT julgam necessário movimentar o debate político e constrange­r Temer. Mais uma vez, há divergênci­as. “Não é o momento de tratar disso. Temos de fazer a defesa do mandato de Dilma, lutar pelo ‘Fora Temer’ e cuidar das eleições para prefeitura­s”, disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). “Essas devem ser nossas prioridade­s.”

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