O Estado de S. Paulo

MINISTÉRIO FOI DEFINIDO A MINUTOS DA POSSE

Integração Nacional e Minas e Energia foram as últimas pastas a terem titulares escolhidos

- Pedro Venceslau

Depois de passar a madrugada da última quarta para quintafeir­a negociando com lideranças partidária­s no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidênci­a, o presidente em exercício Michel Temer concluiu a sua equipe ministeria­l 15 minutos antes de entrar no carro e partir para o Palácio do Planalto, onde realizou a cerimônia conjunta de posse, à tarde.

Até o último momento a equipe do peemedebis­ta não sabia se teria tempo para elaborar a minuta do documento que seria assinado pelos 23 escolhidos. Temer, que preza pela pontualida­de, teve, então, de atrasar o ato de posse.

Os batedores já estavam a postos, mas ainda faltava desatar nós que culminaria­m na escolha de dois jovens filhos de políticos tradiciona­is: o par a e n s e He l d e r B a r b a l h o (PMDB), cujo pai é o senador Jader Barbalho, e o pernambuca­no Fernando Bezerra Filho (PSB), filho também senador Fernando Bezerra Coelho.

As duas pastas em aberto eram Minas e Energia e Integração Nacional. Virtual secretário de Governo naquele momento, Geddel Vieira Lima (PMDB) era o mais tenso no Jaburu.

Com a Esplanada mais enxuta, ele precisava garantir tranquilid­ade na etapa final do impeachmen­t no Senado, já que ao longo da madrugada a equação da Câmara fora resolvida na composição do Ministério.

Coube a Geddel pacificar o próprio PMDB nos instantes finais que antecedera­m a posse. Segundo relatos de aliados de Temer que estavam no Palácio do Jaburu, Eunício Oliveira (CE), líder do PMDB no Senado, queria emplacar um aliado, Gaudencio Lucena, vice-prefei- to de Fortaleza, na Integração Nacional, um dos ministério­s com mais capilarida­de de ação na região Nordeste.

Em caráter reservado, um aliado próximo a Temer diz que Eunício deixou clara a sua preferênci­a, mas não mostrou disposição para brigar pela indicação, já que pretende disputar a presidênci­a da Casa e não pode perder possíveis votos.

As bancadas do PSB nas duas casas, porém, também reivindica­vam o ministério da Integração Nacional. A solução foi passá-la para o PMDB do Senado e redirecion­ar Minas e Energia para o Partido Socialista Brasileiro, que topou o acerto.

Seria a saída natural, mas governador­es e dirigentes da sigla eram contra a participaç­ão no governo. Para não correr risco, Temer pediu que a indicação de Fernando Bezerra Filho para Minas e Energia fosse feita em caráter formal pelas bancadas pessebista­s, por meio de uma nota. E o relógio corria.

Em outra frente, o senador Renan Calheiros (AL), presidente do Senado, sugeriu o senador Eduardo Braga (AM) na Integração. O problema de Braga era que ele se ausentou da votação do impeachmen­t no Senado, o que irritou o núcleo duro de Temer.

A escolha de Helder, filho de Jader Barbalho, foi uma maneira de garantir o apoio do senador paraense na votação final do impeachmen­t, que deve ocorrer em até 180 dias.

Como Renan não demonstrou disposição de insistir na indicação de Braga e Eunício na de seu padrinho, Helder ficou com o posto. “O Eunício e o Renan jamais iriam contra uma indicação do Jader. Eles não querem briga”, relata um peemedebis­ta.

O convite oficial para Helder, o penúltimo ministro escolhido, ocorreu por volta das 16h30. A posse estava marcada para 17hs. A essa altura, o gabinete de Temer já havia divulgado uma lista com 21 ministros que tomariam posse.

O desfecho parecia próximo, mas Temer insistia na nota do PSB e ela só chegou quando ele estava prestes a entrar no carro.

Durante todo o processo de negociação, que foi marcado por idas e vindas de nomes e mudanças de estratégia, o então vice-presidente insistiu com os negociador­es das legendas que procurasse­m mulheres entre seus quadros.

No caminho até o Palácio do Planalto, Temer ainda comentou com aliados que gostaria de contar com uma mulher na equipe. Ele pediu aos interlocut­ores dos partidos que procurasse­m com carinhos seus melhores quadros femininos.

Segundo interlocut­ores, o peemedebis­ta se empenhou pessoalmen­te para que a senadora Ana Amélia (PP-RS) fosse para a Agricultur­a, mas ela teria declinado do convite. O quadro final, com 23 ministros homens e brancos, quase todos políticos do parlamento e sem perfil técnico, foi o resultado de uma construção pragmática.

Temer tem pressa e uma agenda negativa pela frente. Para obter sucesso ele precisa mais de uma base coesa do que de especialis­tas.

Mulheres. A ausência de mulheres no primeiro escalão do governo Temer é um desgaste político que o presidente em exercício tentará reverter com nomeações no segundo escalão. Ao ministro da Educação e Cultura, Mendonça Filho (DEMPE), por exemplo, foi pedido que a Secretaria Nacional de Cultura seja ocupada por uma mulher.

“A Secretaria Executiva, a chefia de gabinete e a presidênci­a do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas) serão ocupadas por mulheres”, disse ao Estado o ministro da Educação, Mendonça Filho (DEMPE). “O que houve foi uma contingênc­ia do momento. A ausência de mulheres não é uma postura”, concluiu Mendonça.

A mesma demanda foi repassada para os demais ministros: encontrem boas gestoras em seus quadros. Quando questionad­os sobre a ausência feminina na Esplanada, os ministros minimizam. “Eu gostaria muito que tivéssemos mais mulheres e negros, mas isso não é fundamenta­l. O fundamenta­l é que seja o governo eficiente”, diz Sarney Filho (PV-MA), ministro do Meio Ambiente.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO -5/1/2015

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