O Estado de S. Paulo

Decreto amplia Lei de Acesso à Informação

Papéis assinados por Dilma antes de deixar o Planalto estabelece­m regras para facilitar o acesso a informaçõe­s

- Gabriela Caesar

Antes de sair da Presidênci­a da República, a presidente afastada Dilma Rousseff assinou uma série de papéis em seu gabinete no Palácio do Planalto. Entre eles, um decreto que institui a Política de Dados Abertos do Poder Executivo Federal, a cargo do Ministério do Planejamen­to. O decreto é considerad­o um complement­o para a Lei de Acesso à Informação (LAI), que completa quatro anos hoje.

Responsáve­l pela política de transparên­cia e abertura de dados na Controlado­ria-Geral do Município (CGM) de São Paulo, Fernanda Campagnucc­i diz que o decreto estabelece regras específica­s para a liberação de dados que facilitem o uso das informaçõe­s. Não podem ser enviados, por exemplo, arquivos em formatos cobertos por patentes, como PDF, por exemplo.

Com o decreto, cada ministério terá de apresentar planos de abertura de dados, construído­s a partir de demandas da sociedade. Outro ponto positivo, segundo ela, é a criação de catálogos, o que obriga os ministério­s a fa- zer um inventário de informaçõe­s, mesmo que sigilosas.

O município de São Paulo passou por processo semelhante a partir de um decreto de 2014, que ampliava a transparên­cia pública. Segundo Fernanda, foram identifica­das cerca de mil bases de dados – 600 delas foram catalogada­s e, hoje, 96 arquivos podem ser baixados pela internet. “Não pode simplesmen­te abrir a base de dados. É preciso tratar, criar um dicionário”, afirma.

A pesquisado­ra do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio Marina Barros destaca que o decreto ainda estabelece que sejam disponibil­izadas, em formato aberto, algumas bases de dados de ministério­s no Dados cruzados prazo de 180 dias. Entre elas, o arquivo com nomes de ocupantes de cargos de gerência e direção em empresas estatais e subsidiári­as. Ao cruzar as informaçõe­s com outros dados públicos, será possível identifica­r casos de nepotismo cruzado, por exemplo.

A abertura de dados pode significar também um ganho de eficiência para a gestão pública, se- gundo Fernanda Campagnucc­i. “Ter informaçõe­s da política dos outros órgãos ajuda no planejamen­to do próprio órgão.”

Pressões. Menos otimista, o consultor Fabiano Angélico, autor do livro Lei de Acesso e Accountabi­lity, disse temer que o decreto seja revogado pelo governo Temer. Para ele, a transferên­cia das funções da Controlado­riaGeral da União (CGU) para o recém-criado Ministério de Transparên­cia, Fiscalizaç­ão e Controle põe em risco o trabalho desenvolvi­do nos últimos anos.

Segundo Angélico, a pasta é mais suscetível a pressões do que a CGU porque não está numa posição hierárquic­a superior aos órgãos que serão auditados. “Era como se o seu tio te desse uma bronca. E agora quem dá a bronca é o seu irmão. O seu tio você respeita mais.”

O consultor considera ainda que o “clamor por redução de ministério­s” pode fazer a pasta passar por outra fusão e, assim, perder mais força. “Esperamos que ainda seja possível reverter essa decisão e cancelar a extinção.”

A pesquisado­ra Marina Barros destaca que a CGU tinha papel importante no monitorame­nto de políticas de transparên­cia. O órgão também respondia como segunda instância em caso de internauta­s que recorriam por não ter o pedido de abertura de dados atendido. Para o jornalista e programado­r Marco Túlio Pires, sócio da agência J++, especializ­ada em visualizaç­ão de dados, o governo Temer precisa manter na pauta a abertura de informaçõe­s públicas para possibilit­ar o acompanham­ento e a fiscalizaç­ão das atividades do governo.

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