O Estado de S. Paulo

Uip vai discutir ‘pílula do câncer’ com ministro após fala sobre ‘fé’

Secretário estadual da Saúde disse que SP tem sido alvo de mandados de busca e apreensão de pó de fosfoetano­lamina

- Giovana Girardi

O secretário estadual da Saúde de São Paulo, David Uip, quer discutir com o novo ministro da pasta, Ricardo Barros, a questão da fosfoetano­lamina, substância que ficou popularmen­te conhecida como “pílula do câncer”, apesar de não haver provas científica­s de sua eficácia.

Em entrevista ao Estado, Uip chamou de “absurdo” que São Paulo venha sendo alvo de mandados de busca e apreensão da substância ainda em pó. “Nem encapsulam­os ainda, é material produzido somente para pesquisa, e tem juiz expedindo mandado de busca e apreensão de 250 gramas do pó. Não sei o que uma pessoa vai fazer com 250 gramas de um produto que ainda nem foi testado”, disse.

Barros, que tomou posse na quinta-feira na gestão em exercício de Michel Temer, estará em São Paulo hoje em visita à Faculdade de Medicina da Universida­de de São Paulo (USP) e ao Hospital das Clínicas. Uip participa do encontro.

O secretário disse que tem uma “porção bem grande de assuntos para tratar com o ministro”, entre eles a fosfoetano­lamina. Na sexta-feira, em sua pri-

Prova meira entrevista coletiva à imprensa, Barros falou de “fé” ao ser questionad­o sobre a lei que liberou o uso da substância. “Pessoalmen­te, na pior das hipóteses, tem efeito placebo. A fé move montanhas”, disse.

Polêmica. O composto, formulado em um laboratóri­o do Instituto de Química da USP em São Carlos no final dos anos 1980, foi por mais de duas décadas distribuíd­o gratuitame­nte à população. Em 2014, uma portaria suspendeu a entrega da substância, uma vez que ela não tinham registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Pacientes começaram a ir à Justiça e conseguira­m liminares para manter o tratamento. Os boatos chegaram à internet e houve uma avalanche de pedidos no segundo semestre de 2015.

Após meses de polêmica, uma lei foi aprovada rapidament­e em março na Câmara e no Se-

Judicializ­ação Os convênios estimam que em 2015 foi gasto R$ 1,2 bilhão com ações judiciais de clientes que demandam atendiment­o. O custo é repassado aos pacientes nado e recebeu, em abril, sanção da presidente Dilma Rousseff. Paralelame­nte, São Paulo iniciou os procedimen­tos para testar o produto. Um laboratóri­o em Cravinhos está produzindo a substância para 70 mil cáp-

Setor público O impacto dos gastos com ações judiciais chegam ao SUS. São Paulo estima mais de R$ 1 bilhão, assim como a União deve fechar 2015 com o mesmo valor. sulas que vão ser usadas para pesquisa. Uip já tinha declarado que esse material seria exclusivam­ente para os estudos, mas está sendo alvo de novas ações.

Sobre a declaração de Barros, Uip disse: “Ele estava tomando

Previsões Ao ‘Estado’, o secretário estadual da Saúde, David Uip, estimou haver cerca de 18 mil ações judiciais por ano e que a demanda deverá crescer. posse. Vai depender da nossa ajuda de mostrar como vai a pesquisa básica e depois a clínica. Segurament­e ele vai esperar ter todos os dados de São Paulo antes de ter uma posição mais definitiva sobre a questão”.

 ?? MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO - 29/09/2014 ?? Justiça. “É um absurdo ter mandados para produto que não foi testado”, diz secretário
MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO - 29/09/2014 Justiça. “É um absurdo ter mandados para produto que não foi testado”, diz secretário
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil