O Estado de S. Paulo

Apesar da crise, Nestlé planeja expandir operações e criar novas vagas no País

- Fernando Scheller Cátia Luz

Mesmo em um cenário de crise, com a previsão do segundo ano seguido de contração do PIB, a Nestlé pretende expandir a operação brasileira, que hoje emprega 21 mil pessoas, segundo o principal executivo para as Américas e vice-presidente global da companhia, Laurent Freixe, em entrevista ao ‘Estado’. O grupo suíço, fundado há 150 anos e presente há 95 no Brasil, pretende criar 3 mil postos de trabalho ao longo dos próximos três anos, com prioridade para os profission­ais mais jovens. No total, serão 7 mil contrataçõ­es nesse período, incluindo as substituiç­ões.

Apesar da crise, a companhia, que vai investir mais de R$ 500 milhões no Brasil só neste ano, vê motivos de sobra para continuar apostando no País – que é seu quarto mercado global. A empresa conseguiu se manter no azul no Brasil em 2015 e vê vários mercados com potencial de forte expansão nos próximos anos, segundo Freixe, como cápsulas de café (o País ganhou, há poucos meses, a primeira fábrica do produto fora da Europa), alimentos de apelo saudável e nutrição animal.

O executivo afirma que o fato de o programa de contrataçã­o de jovens chegar ao País no meio de uma aguda crise – após a queda de 4% no PIB em 2015 e com o desemprego atingindo 10,9% no primeiro trimestre – não é coincidênc­ia. A iniciativa, batizada Nutrindo o Sonho dos Jovens, foi originalme­nte lançada em um momento em que a Europa vivia um momento de desolação. “O desemprego entre jovens na Espanha era de 50%; em Portugal e na Itália chegava perto de 40%. Ainda é um problema grave”, diz Freixe.

A partir da experiênci­a brasileira, o projeto deverá ser expandido a outros países da América Latina. “Por aqui, embora o de- semprego entre jovens não seja tão alto (quanto na Europa), o programa poderá ajudar a combate o emprego informal”, explica o executivo.

O vice-presidente da Nestlé diz que a atração de jovens ta- lentos está sendo reestrutur­ada pela companhia, mas sempre foi uma preocupaçã­o na multinacio­nal. E fala por experiênci­a: ele ingressou na companhia há 30 anos, em um programa semelhante. “Cheguei logo após terminar a universida­de.”

A Nestlé tem 30 fábricas no País e atua em uma variedade de setores. Por isso, haverá oportunida­des além dos cargos de administra­ção, indústria e vendas. Diante da expansão do negócio de comida para animais domésticos, a empresa vai precisar de veterinári­os. A área de alimentos saudáveis vai demandar nutricioni­stas. E até chefs de cozinha serão recrutados, para testar sabores e sugerir receitas à companhia.

Perfil. A intenção de contratar jovens sem experiênci­a está alinhada à tradição da companhia de formar talento internamen­te, segundo Rodrigo Foz, diretor da empresa de recrutamen­to Exec. “Não é incomum que gerentes e diretores tenham entrado na empresa via programas de base.” Foz, porém, diz que essa crença na cultura interna pode ter um lado prejudicia­l. “Às vezes é preciso sangue novo, alguém que pense de forma um pouco diferente.”

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Trabalho de base. Vice-presidente global da Nestlé, Freixe entrou na empresa há 30 anos

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