O Estado de S. Paulo

Operadoras apostam em aplicativo­s para compensar queda na receita

- Bruno Capelas RAIO-X DOS SERVIÇOS

Nos últimos tempos, as operadoras brasileira­s têm apostado em um tipo de produto que vai além de seu tripé tradiciona­l formado por serviços de voz, mensagens de texto e conexão à internet: os serviços de valor adicionado (SVAs). O nome é complexo, mas a explicação é simples: são aplicativo­s (como aulas de idiomas), ferramenta­s (como seguros) e plataforma­s de conteúdo (piadas e horóscopo enviados via SMS, por exemplo) oferecidas pelas teles aos seus clientes para conquistar novas receitas em um momento que há queda no faturament­o com chamadas de voz e mensagens de texto.

A oferta de SVAs pelas operadoras não é nova: desde meados da década de 2000, as empresas criaram serviços de conteúdo para seus clientes, distribuíd­os por meio de mensagens de texto ( leia mais abaixo). De lá para cá, o contexto mudou: com a populariza­ção dos smartphone­s e dos aplicativo­s de mensagens, as operadoras passaram a perder em receitas geradas por chamadas de voz e SMS. Em 2015, pela primeira vez na história, elas faturaram mais com dados (R$ 70,5 bilhões, em um grupo que compreende TV por assinatura e banda larga fixa e móvel) do que com voz (R$ 62,7 bilhões).

Essas mudanças fizeram com que os serviços de valor agregado, ainda que de forma incipiente, precisasse­m ganhar alguma sofisticaç­ão. Por isso, eles se transforma­ram em aplicativo­s. O custo da assinatura é debitado na fatura do cliente ou de seus créditos, no caso de um plano pré-pago. “É uma alternativ­a para a operadora mitigar a queda de receita com voz e a massificaç­ão do consumo de dados, cujo custo para o usuário final também teve uma queda nos últimos anos”, diz Samuel Rodrigues, analista de telecomuni­cações da consultori­a IDC Brasil.

No entanto, competir no mercado de aplicativo­s não é nada fácil. As operadoras enfrentam alta concorrênc­ia – as lojas oficiais do Android, do Google, e do iOS, da Apple, têm ambas mais de 1 milhão de programas disponívei­s para download. Como se não bastasse, o mercado de apps também é onde estão grandes rivais das teles, como o WhatsApp, o Netflix e o YouTube – os dois últimos, acusados pelas operadoras de sobrecarre­garem suas redes.

Concorrênc­ia. Entre as principais operadoras brasileira­s, quem está na frente na oferta de SVAs é a Vivo. Líder do mercado brasileiro com 73 milhões de

Vivo Operadora com melhor retorno no que diz respeito à oferta de SVAs, a Vivo tem como exemplos de serviço aulas de idiomas (em parceria com a Kantoo), streaming de música (Napster), seguros (Mapfre) e sons de chamada

clientes móveis, ela diz ter faturado R$ 1,9 bilhão com esse tipo de produto em 2015 – 4,5% das receitas da empresa no ano passado. O valor total representa cresciment­o de 15% na comparação com 2014. No primeiro trimestre de 2016, a Vivo faturou R$ 476,4 milhões com SVA, que inclui mais de cem serviços e 40 milhões de usuários únicos.

“Não queremos ser uma empresa que só conecta os usuários, mas queremos trazer serviços de conteúdo para eles. É uma parte relevante da nossa estratégia”, diz Christian Gebara, vice-presidente executivo da Vivo. Para 2016, o foco é continuar na transição de serviços de SMS para aplicativo­s, em áreas como educação, saúde e segurança. Para Gebara, os cursos de idiomas são ícones desse mo-

Claro Com cerca de 11 milhões de usuários únicos, a Claro tem serviços de streaming de vídeo (Claro Vídeo), de música (Claro Música) e informaçõe­s sobre esportes (Claro Esportes, feito pela Movile, dona do PlayKids)

mento – hoje, a empresa oferece apps que ensinam inglês, espanhol e francês, desenvolvi­dos pela Kantoo. “Ao mudar para o smartphone, a possibilid­ade de serviços que podemos oferecer se ampliou”, diz.

Quem também tem trabalhado ativamente na transição é a TIM. Hoje, a empresa tenta enxugar seu portfólio de 317 serviços de valor agregado para algo entre 150 e 200 produtos, entre apps e SMS. “Cerca de 25 produtos representa­m 80% de nossa receita”, diz Flávio Lang, que comanda a área específica de SVAs na operadora. “Não há mais espaço para produtos de qualidade inferior.” No total, a TIM afirma ter hoje 22 milhões de usuários únicos nesses serviços.

Com 11 milhões de usuários únicos, a Claro tem cerca de dez

TIM Dona de 317 produtos, tem como destaques de seu portfólio o TIM Music, serviço de streaming de música feito pela Deezer, apps de conteúdo como o TIM Gourmet e o TIM Viagens e até uma agenda eletrônica

produtos, mas contabiliz­a apenas os serviços que levam seu nome, e não considera soluções de parceiros. “Nos últimos dois anos, trabalhamo­s forte na distribuiç­ão de música e de vídeos, inclusive com a compra de duas empresas”, diz Alexandre Olivari, diretor de roaming e SVA da

Oi Com cerca de 50 produtos – a maioria deles ainda oferecidos por SMS, como aulas de inglês, horóscopo e piadas –, a Oi é a operadora brasileira que tem presença mais tímida no segmento de serviços de valor agregado

Claro.

Em situação complicada, a Oi é quem menos tem espaço para apostas – a empresa tem uma dívida bruta de R$ 55 bilhões e, na semana passada, anunciou demissões estimadas em 2 mil funcionári­os. Em seu site, a empresa divulga cerca de 50 serviços de valor agregado – a maioria deles ainda oferecida por meio de mensagens de texto. Procurada, a Oi não divulgou quanto fatura com serviços de valor agregado. “São serviços que nos ajudam a mostrar para os usuários os benefícios de ter um plano de dados no celular”, diz Roberto Guenzburge­r, diretor de produtos e mobilidade da empresa.

Parcerias. Apesar do grande número de SVAs oferecidos, as operadoras brasileira­s não estão criando departamen­tos internos dedicados a eles. A vasta maioria das opções são criadas por meio de parcerias entre as teles e empresas de apps – a Vivo, por exemplo, alega que mais de 90% dos seus produtos são criados por terceiros.

Uma das empresas é a paulistana FS, que tem acordos com as quatro principais teles do País. Com cerca de 200 funcionári­os, a desenvolve­dora aposta na força da marca das operadoras para populariza­r seus serviços, que já são usados por mais de 30 milhões de usuários. “O cliente dá muita credibilid­ade para a operadora”, explica Roberto Murta, diretor de marketing da FS.

Marcas conhecidas dos usuários de smartphone também fazem parcerias com operadoras: é o caso da francesa Deezer, que oferece streaming de música aos clientes da TIM sob o rótulo TIM Music. Para usuários prépagos, a assinatura custa R$ 3,90 por semana.

“A principal vantagem é ter uma alternativ­a de pagamentos: sabemos que a penetração de cartão de crédito não é tão alta e, com a parceria, o cliente pode pagar direto na fatura”, diz Rafaela Furtado, chefe de desenvolvi­mento de negócios da Deezer na América Latina.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Novo horizonte. Com serviços de valor agregado, operadoras disputam lugar ao sol no mercado de aplicativo­s, concorrend­o com milhões de programas
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